Fapesp: Físicos selecionam partículas subatômicas

Partículas hipotéticas poderiam explicar a estrutura atual do Universo

ter, 09/09/2003 - 20h55 | Do Portal do Governo

Simpzillas e wimpzillas. Nada a ver com Godzilla, o monstro japonês pré-histórico em forma de dragão que há quase 50 anos aterroriza a população de Tóquio, ao menos no cinema. Simpzillas e wimpzillas são duas famílias de partículas subatômicas especiais que nos últimos anos têm provocado a imaginação dos físicos. Não sem motivo: elas poderiam explicar a estrutura atual do Universo. Ainda não foram encontradas, mas caso realmente existam, devem resolver um problema antigo, lançado em 1933 pelo astrofísico búlgaro Fritz Zwicky. Estudioso de conjuntos de galáxias, Zwicky afirmou que apenas a matéria comum (formada por prótons, nêutrons e elétrons) era insuficiente para explicar como as galáxias permaneciam unidas apenas pela gravidade, a única força capaz de agir em espaços tão vastos. Tal coesão só seria possível se existisse cem vezes mais matéria do que era possível observar. Zwicky chamou o que não pôde ver de matéria escura, por não absorver nem emitir luz.

Partículas hipotéticas, as simpzillas e as wimpzillas podem ser justamente os tão procurados componentes da matéria escura, responsável por 85% da massa do Universo – seis vezes a quantidade de matéria comum concentrada em planetas, estrelas e nuvens de gás. Ainda que não se tenha detectado a existência dessas partículas exóticas, já se avançou na seleção de hipóteses que possam explicar do que a matéria escura é feita. Em um estudo publicado em 6 de junho na Physical Review Letters, uma das mais importantes revistas científicas da área, a física brasileira Ivone Freire da Mota e Albuquerque, atualmente na Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, praticamente elimina a possibilidade de as simpzillas até mesmo existirem, ao menos como se imaginava, já que até agora não foram registradas pelos atuais telescópios de neutrinos e detectores de partículas.

Desse modo, as wimpzillas saem fortalecidas, embora ainda não se saiba como possam ser reconhecidas. Essa perspectiva valoriza a construção de novos observatórios, como o IceCube, que os norte-americanos devem inaugurar em dois anos na Antártida, e o Pierre Auger, projeto multinacional em fase final de construção na Argentina, com a participação de grupos de pesquisa de São Paulo, do Rio de Janeiro e da Bahia. ‘Existe uma real possibilidade de detectarmos as partículas formadoras da matéria escura’, afirma o físico Brian Fick, da Universidade de Utah, Estados Unidos, que há dez anos acompanha o avanço do Auger.

Independentemente de comprovações, há indícios de que a matéria escura realmente existe. Concentrada em uma espécie de esfera ao redor das galáxias, funcionaria como um tipo de cola que mantém o Universo unido. Dois anos atrás, físicos franceses, a partir de informações coletadas em um telescópio no Havaí, elaboraram um mapa tridimensional de um trecho do Universo que mostra o desvio na trajetória da luz provocada pela matéria escura, apresentadacomo uma rede que sustenta as galáxias. O mais difícil ainda é resolver o problema posto há 70 anos: de que a matéria escura é feita?

Ricardo Zorzetto – Revista Fapesp

Leia a matéria completa no site da