Fapesp: Estudos sobre parasita causador da doença de Chagas é premiado

Premio L'Oréal-Unesco 2004 foi oferecido a brasileira

qua, 24/03/2004 - 15h04 | Do Portal do Governo

Em novembro de 2003, uma correspondência inesperada chegou à sala C-42 do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na Ilha do Fundão. A bióloga Lucia Mendonça Previato abriu o envelope vindo de Paris e não acreditou no que leu. ‘Li e reli, procurando saber nas entrelinhas se ainda faltava alguma etapa’, diz a pesquisadora. O conteúdo justifica a desconfiança inicial. O texto de apenas meia página anunciava a coordenadora do Laboratório de Glicobiologia da UFRJ como a contemplada na América Latina neste ano com o Prêmio L’Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência (L’Oréal-Unesco Awards for Women in Science 2004).Concedido anualmente pela indústria de cosméticos francesa L’Oréal e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o prêmio Mulheres na Ciência é um reconhecimento à contribuição de cinco destacadas pesquisadoras para a melhoria das condições de vida das pessoas e um estímulo para as mulheres prosseguirem na carreira científica.

Nesta edição do prêmio, a sexta desde sua criação em 1998, foram contempladas também a bióloga molecular Jennifer Thomson, da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul; a neurobióloga Nancy Ip, da Universidade de Ciências e Tecnologias de Hong Kong, China; a geneticista Christine Petit, do Instituto Pasteur, França; e a bióloga molecular Philippa Marrack, do Instituto Médico Howard Hughes, Estados Unidos.

Lucia é a segunda brasileira entre as 29 pesquisadoras já laureadas com o prêmio, uma indicação da importância da pesquisa nacional. Em 2001, a geneticista Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo, recebeu o prêmio por seu trabalho relacionado à distrofia neuromuscular, que levou à detecção de ao menos três genes associados ao surgimento dessa doença hereditária, que provoca degeneração dos músculos e perda progressiva da capacidade de se movimentar.Em quase 25 anos de pesquisa, Lucia e seus colaboradores da UFRJ descobriram e revelaram em detalhes um dos artifícios que permite ao causador do mal de Chagas – o protozoário Trypanosoma cruzi , parasita que contamina cerca de 18 milhões de pessoas na América Latina – escapar do sistema imunológico. Logo após invadir a corrente sangüínea transmitido pelas fezes do barbeiro, o Trypanosoma adota um disfarce.

Em uma gatunagem molecular, o protozoário furta uma molécula sinalizadora – um açúcar chamado ácido siálico – apresentada na parte externa das células humanas e a expõe em sua própria superfície, numa espécie de camuflagem que permite ao protozoário passar despercebido às células de defesa humanas.A notícia do prêmio – no valor de US$ 100 mil – deu à equipe do Rio um motivo a mais para comemorar. Recentemente, os pesquisadores do Laboratório de Glicobiologia constataram que um único gene, existente em uma cópia também única no genoma do Trypanosoma , controla o início da formação da molécula que receberá o ácido siálico, como revelam em um estudo a ser publicado nos próximos meses. Na opinião de Lucia, esse é o alvo perfeito para novas drogas contra o parasita, uma vez que essa reação química – a ligação da alfa-N-acetil-glicosamina com o aminoácido treonina – é exclusiva do Trypanosoma . Em tese, um medicamento que impeça essa ligação, jamais observada em células de mamíferos, atingiria apenas o protozoário, deixando as células humanas intactas. Assim, surgiriam menos efeitos indesejáveis, freqüentes no tratamento atual.

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