Fapesp: Espécies de árvores demoram mais de um século para crescer

Nem a adoção das técnicas recomendadas pelo manejo florestal é capaz de suavizar as marcas

qua, 01/06/2005 - 17h09 | Do Portal do Governo

Simulações feitas por computador indicam que a extração comercial de certas árvores nobres da Amazônia pode não ser uma atividade sustentável a longo prazo. Nem a adoção das técnicas hoje recomendadas pelo manejo florestal, um conjunto de medidas que, em tese, deveria reduzir os efeitos da atividade madeireira sobre a floresta a níveis aceitáveis, é capaz de suavizar as marcas deixadas pela mão humana: rápida e eficaz, a motosserra vence sempre, e com folga, a corrida contra a natureza. Num dos cenários virtuais, criado nos micros dos pesquisadores do projeto Dendrogene – Conservação Genética em Florestas Manejadas na Amazônia, populações de duas espécies arbóreas, a tatajuba e a maçaranduba, foram submetidas a um único ciclo de corte, efetuado de acordo com os preceitos considerados racionais da atual sustentabilidade.

Essa situação foi representada com o auxílio de um programa de modelagem ecológica e genética, o Eco-Gene, que calculou quanto tempo seria necessário para que as árvores remanescentes de cada espécie crescessem, se multiplicassem e a mata voltasse a ter a sua quantidade original de tatajubas e maçarandubas. Os resultados acenderam uma luz amarela: um século de descanso não foi suficiente para dotar novamente a floresta com o mesmo estoque de madeira das duas espécies que havia antes.A situação da Bagassa guianensis , nome científico da escassa tatajuba, que dá uma madeira amarelada, apreciada na construção de barcos e assoalhos, é particularmente preocupante.

Na simulação, a floresta precisou de 200 anos para recuperar 80% de sua quantidade original de madeira. O processo de regeneração foi tão demorado que a espécie não conseguiu reaver todo o seu estoque inicial. Mais abundante, a Manilkara huberi , a popular maçaranduba, dona de uma madeira muito dura e resistente, em tom vermelho-escuro, teve um desempenho melhor, mas não muito animador: necessitou de 130 anos para exibir de novo a quantidade original de madeira. ‘Precisamos rever algumas idéias sobre a exploração madeireira’, diz Milton Kanashiro, engenheiro florestal da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)-Amazônia Oriental, de Belém, que coordena, há cinco anos, os trabalhos de aproximadamente 50 pesquisadores e colaboradores do Dendrogene. ‘Temos indícios de que, mesmo com a adoção do manejo, nos moldes hoje praticados pelas empresas, há uma grande redução no estoque comercial de árvores de algumas espécies exploradas economicamente.’

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Marcos Pivetta – Agência Fapesp