Fapesp: Caranguejo do Ártico é a primeira espécie marinha invasora encontrada na Antártida

Navio da USP trouxe amostras recolhidas durante sua jornada exploratória

ter, 02/03/2004 - 18h03 | Do Portal do Governo

Na volta de uma viagem à Antártida em 1986, o navio oceanográfico Prof. W. Besnard, da Universidade de São Paulo (USP), trouxe amostras de um tipo de crustáceo que recolhera durante sua jornada exploratória.

Eram dois pequenos caranguejos: um macho, cuja carapaça media 4,1 centímetros de comprimento por 2,8 de largura, e uma fêmea, com dimensões 20% maiores. Capturados em águas vizinhas à península Antártica, a noroeste do continente branco, os exemplares, em princípio, não chamaram muito a atenção. Como tantos outros espécimes enredados pelo Besnard no oceano Austral, o mar gelado que circunda a Antártida, foram encaminhados para o Museu de Zoologia da USP.

Em maio de 1987, embebidos numa solução à base de álcool e dividindo o mesmo pote de vidro, os caranguejos deram entrada no acervo da instituição paulista. O frasco que acondicionava o par de bichinhos marinhos recebeu o nome de lote MZUSP 8878 e foi ocupar seu devido lugar numa estante.

No momento da catalogação, o pesquisador Gustavo Augusto Schmidt de Melo, então curador da seção de carcinologia (crustáceos), achou os caranguejos interessantes, talvez até pudessem ser uma nova espécie, ainda desconhecida pela ciência. Sem dúvida, não havia esse tipo de animal no Brasil. Por isso, deixou anotado que valia a pena estudá-los um dia – assim que outras tarefas mais prementes fossem tocadas e houvesse gente para abraçar o trabalho.

Dezesseis anos se passaram e esse dia finalmente chegou. No início de 2003, o carioca Marcos Tavares, especialista em crustáceos, mudou-se para São Paulo e assumiu o cargo de curador da seção de carcinologia do Museu de Zoologia, justamente no lugar de Melo, que acabara de se aposentar. Numa conversa de trabalho com seu antecessor no cargo, que, apesar de aposentado, continua ativo no museu, Tavares tomou conhecimento das estranhas amostras de caranguejo obtidas pelo Besnard. Acharam que era hora de pesquisar em detalhes aqueles exemplares de crustáceos.

O interesse pela amostra cresceu ainda mais quando verificaram na literatura científica que não havia espécies vivas de caranguejos nativos da Antártida, mas apenas espécies fósseis, extintas. Isso os motivou a estudar realmente a fundo as amostras que vieram do frio. E o resultado da pesquisa veio rapidamente: em poucos meses, os pesquisadores concluíram que os caranguejos capturados pelo navio brasileiro representam a primeira evidência de introdução, provavelmente mediada pelo homem, de espécies marinhas invasoras, originárias de outras partes do globo, no oceano Austral.

Marcos Pivetta – Agência Fapesp

Leia a matéria completa no site da