Fapesp: Capacidade de memorizar informações permite às aranhas aprimorar seus hábitos instintivos

Aranhas são capazes de aprender e aperfeiçoar instintos básicos como os ligados à caça e à construção da teia

ter, 02/12/2003 - 16h10 | Do Portal do Governo

Indiferente à correria da meninada no jardim, um garoto de 13 anos observa os movimentos delicados de uma aranha em uma teia construída entre as folhas de um arbusto. Está tão atento que não se deixa perturbar nem mesmo pelo calor intenso do verão de Alexandria, cidade do Norte do Egito, à beira do Mediterrâneo.

Por curiosidade, o quase adolescente captura um gafanhoto e o coloca na teia, para em seguida puxar o caderno e anotar em detalhes o que a aranha faz com o inseto que se torna sua refeição. Nascia naquela tarde uma paixão que permaneceria latente quase duas décadas antes de se realizar: o então garoto egípcio, César Ades, hoje com 60 anos, tornou-se uma das maiores autoridades brasileiras em etologia, o estudo do comportamento animal.

A vontade de entender o comportamento animal o levou a comprovar, por meio de experimentos em laboratório, que as aranhas são capazes de aprender e aperfeiçoar instintos básicos como os ligados à caça e à construção da teia, vistos geralmente como uma habilidade inata e inalterável. ‘Certamente, os instintos funcionam como uma espécie de pré-programação da mente’, afirma Ades, diretor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). ‘Mas também há janelas para a aprendizagem nesse pré-programa.’ Segundo ele, a capacidade de aprender talvez seja uma característica própria do sistema nervoso, que, por meio da experiência, permitiria a adaptação aos desafios do ambiente.

Ades não defende sozinho essa idéia, que pode alterar até a forma como se pensa a inteligência humana, além de atestar a flexibilidade do instinto – ao menos – das aranhas. Se esses animais de oito pernas são mesmo capazes de aprender, talvez deixem de ser apenas bichos repugnantes, que despertam medo e terror. Pode ser que nem todos consigam se livrar dos preconceitos e reconhecer a delicadeza e a elegância de uma caranguejeira ou de uma viúva-negra, mas talvez seja possível pensar duas vezes antes de esmagar a atrevida que surgiu de trás da cortina.

Ricardo Zorzetto – Agência Fapesp

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