Fapesp: Buracos negros podem estar presentes em todas as galáxias

Capazes de atrair matéria como nada mais no Universo, buracos negros não revelam sua silhueta de forma clara e explícita

seg, 16/02/2004 - 14h45 | Do Portal do Governo

Sedutora e misteriosa, a trajetória dos buracos negros se assemelha ao antológico e falso striptease encenado por Rita Hayworth no filme Gilda , de 1946. Como a personagem vivida pela atriz norte-americana, que se desnuda minimamente, apenas das luvas, em sua magnética performance, esses corpos celestes nunca se mostram por inteiro. No máximo, se insinuam de tempos em tempos.

Capazes de atrair matéria como nada mais no Universo, tanto que nem a luz consegue fugir de seu campo gravitacional, os buracos negros não revelam sua silhueta de forma clara e explícita. A rigor, são invisíveis tanto para o olho humano como para as lentes dos mais poderosos telescópios, estejam eles instalados nos confins do Universo ou aqui na nossa galáxia, a Via Láctea. Espiá-los só é possível de forma indireta. Quando os instrumentos de observação celeste registram acelerações descomunais na velocidade orbital de uma estrela ou no centro de uma galáxia, a maioria dos astrônomos explica esse fenômeno devido à influência de uma colossal força gravitacional atuando sobre essa região do espaço. Força de tal magnitude só pode ser derivada de umobjeto extremamente compacto, de enorme massa, que, contudo, não se encontra visível: um buraco negro, nas proximidades do qual, se a teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein estiver correta, tempo e espaço devem ser curvos.

Apesar de todas as dificuldades e limitações de observação, os astrônomos e astrofísicos produziram, com a ajuda de potentes telescópios terrestres e espaciais, uma pequena reviravolta no conhecimento sobre a natureza e o papel dos buracos negros nos últimos cinco anos. De objetos exóticos e raros, encontrados somente em determinadas regiões e situações do Universo, são agora encarados como uma ocorrência celeste muito mais freqüente e importante para a compreensão do Cosmos. ‘Os buracos negros passaram a ser vistos como parte das galáxias, influenciando e sendo influenciados pela evolução das mesmas’, afirma a astrofísica Thaisa Storchi Bergmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que estuda como esses grandes devoradores de matéria se alimentam de tudo ao seu redor.

Entre 29 deste mês e 5 de março, cerca de 300 astrônomos do Brasil e exterior estarão reunidos em Gramado, na Serra Gaúcha, para discutir justamente a inter-relação dos buracos negros com os elementos que constituem as galáxias – as estrelas e o meio interestelar – durante simpósio da União Astronômica Internacional organizado por Thaisa. Não faltam questões candentes quando o assunto é buraco negro.

Uma série de observações recentes levantaram alguns pontos interessantes a respeito desse tipo de objeto celeste:n Os buracos negros são mais numerosos do que se pensava e devem estar presentes, se não em todas, pelo menos na maioria das galáxias. Antes se acreditava que eles estavam apenas no centro das chamadas Galáxias com Núcleo Ativo (AGN, sigla em inglês,) – que emitemgrandes quantidades de energia, sobretudo em sua porção central, e representam menos de 10% do total de galáxias do Universo – em sistemas de estrelas duplas e no interior de quasares, objetos extremamente distantes, muito luminosos, que se parecem com uma estrela, mas que, na verdade, são núcleos extremamente ativos de galáxias. Hoje, acredita-se que quase todas as galáxias, mesmo as que não são classificadas como ativas, possuem em seu núcleo, ainda que num estado dormente, esse obscuro objeto sugador de matéria. A Via Láctea, nossa galáxia, que não é classificada de ativa, parece ter um buraco negro, não muito grande, que esporadicamente se manifesta. Num flagrante raro, o telescópio de raios X Chandra, da Nasa, registrou no fim de 2002 uma galáxia, a NGC 6240, com dois buracos negros supermassivos em sua região central, os quais aparentemente caminham para se fundir em um único buraco negro ainda mais supermassivo.

n Sua diversidade de tamanho é maior do que se supunha. Previstos na teoria desde o final do século 18, e assim denominados desde os anos 1960, os buracos negros são sempre gigantescos. Mas os pesquisadores costumavam dividi-los somente em dois talhes diferentes: havia os supermassivos, com uma massa milhões ou até bilhões de vezes maior que a do Sol, que surgem no centro de algumas galáxias, e os estelares, cuja massa ultrapassa em cerca de dez vezes à do Sol, situados no corpo das galáxias, geralmente em sistemas duplos de estrelas. Novos indícios sugerem a existência de buracos negros de um terceiro tamanho, o médio. Esse parece ser o caso, entre outros, do buraco negro localizado pelo telescópio espacial Hubble, também da Nasa, num ‘cluster’ (grupo) de estrelas denominado G1, situado no interior de Andrômeda, a galáxia mais próxima da Via Láctea. Estimada no início de 2002, a massa do buraco era centenas de vezes maior que a do Sol.

rMarcos Pivetta – Revista Fapesp

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