Fapesp: Brasileiros seqüenciam genoma da bactéria causadora da leptospirose

Eles pedem também a patente de 24 proteínas

ter, 10/06/2003 - 15h40 | Do Portal do Governo

Quem leu a edição de 24 de abril da revista inglesa Nature, uma das mais influentes publicações científicas, verificou que uma equipe do Centro de Genoma Humano Chinês, de Xangai, havia seqüenciado o genoma completo da variedade Lai da Leptospira interrrogans, a mais comum da bactéria causadora da leptospirose naquele país. Transmitida ao homem pela urina de roedores e outros animais infectados com o patógeno, a leptospirose é considerada a mais disseminada das zoonoses, as doenças que os bichos transmitem aos seres humanos, especialmente em áreas rurais de clima quente.

Tocado por cientistas de uma nação em desenvolvimento de fora do eixo Europa-Estados Unidos, o trabalho do grupo asiático era, sem dúvida, de relevância internacional. Mas, para os brasileiros, a notícia mais importante sobre a leptospirose não vem do Extremo Oriente, tampouco chegou às páginas de alguma publicação – e era, até agora, mantida em sigilo. Trabalhando com discrição, num projeto concorrente à empreitada chinesa, um time de pesquisadores do Instituto Butantan, de São Paulo, com a colaboração de colegas da filial baiana da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e de universidades paulistas, também terminou o seqüenciamento integral do genoma de outra linhagem da L. interrogans , denominada sorovar Copenhageni, responsável pela maioria dos casos humanos da doença no Brasil.

Pesquisa integrada

Na verdade, o grupo brasileiro fez mais do que simplesmente desvendar a estrutura molecular de um patógeno similar ao mapeado pelos cientistas de Xangai. Deu também um passo certeiro para firmar uma promissora linha de pesquisa com o intuito de desenvolver melhores formas de profilaxia e diagnóstico da leptospirose humana, principal objetivo do projeto. Isso porque, em fevereiro de 2002, um ano e dois meses antes de os chineses terem publicado seu artigo na Nature, os cientistas do Butatan pediram nos Estados Unidos a patente de 24 genes – e suas respectivas proteínas – identificados no trabalho de seqüenciamento e análise do genoma do sorovar Copenhageni, executado pelo AEG, a rede pública de laboratórios paulistas especializada em genomas da área agronômica e ambiental.

‘Essas proteínas podem ser úteis para o desenvolvimento de uma vacina contra a leptospirose humana (hoje não há nenhuma) ou de testes mais eficientes para o diagnóstico das diferentes formas sorológicas da doença’, afirma Ana Lucia Tabet Oller do Nascimento, do Butantan, coordenadora do projeto com a L. interrogans , financiado pela FAPESP. Tal hipótese se baseia em testes preliminares em laboratório que mostraram que esse grupo de 24 proteínas reage ao contato com o soro sangüíneo de pessoas ou ratos infectados com leptospirose. A resposta ao pedido de patente, cujos direitos são extensivos ao Brasil, deve sair no próximo ano.

Marcos Pivetta
-C.M.-

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