Fapesp: Brasil tinha sociedades complexas antes da chegada de europeus

Com a chegada do homem branco restou a imagem de sociedades primitivas

ter, 28/10/2003 - 14h42 | Do Portal do Governo

Na escola, os livros de História ensinam, rapidamente, que havia três grupos indígenas com sociedades avançadas na América pré-colombiana, até 1492: astecas e maias acima do Equador e incas aqui nos Andes. Exibindo cidades com rica arquitetura erigida em pedra, domínio sobre a agricultura, hierarquia social e certos conhecimentos científicos, esses povos, cada um à sua maneira e com suas particularidades, costumam ser agrupados na coluna das ‘civilizações’ conquistadas – destruídas, talvez seja o melhor termo – pelas armas de fogo e doenças trazidas pelos primeiros colonizadores europeus do século 16. São a luz que se apagou com a chegada do homem branco. Aos demais povos ameríndios, inclusive os do Brasil, igualmente vítimas do desembarque dos novos senhores vindos do Velho Mundo, restou a imagem de sociedades primitivas, das trevas, sem refinamento cultural ou marcantes distinções de classes, composta por pequenas aldeias isoladas umas das outras onde imperava o nomadismo.

Enfim, representavam o atraso – perto do esplendor imperial de seus contemporâneos andinos e centro-americanos.Recentes descobertas arqueológicas em pelo menos dois pontos distintos da Amazônia brasileira sugerem que astecas, maias e incas não eram os únicos a ter o monopólio das sociedades complexas na época do desembarque do navegador Cristóvão Colombo. Nos últimos anos, intensos trabalhos de campo conduzidos por pesquisadores nacionais e do exterior no Alto Xingu, no norte do Mato Grosso, e na confluência dos rios Negro e Solimões, a cerca de 30 quilômetros de Manaus, no Amazonas, indicam a existência de grandes e refinados assentamentos humanos, habitados simultaneamente por alguns milhares de pessoas, nessas áreas 500 anos atrás – ou até mesmo antes disso.

As evidências mais espetaculares de ocupações dessa magnitude – um feito só possível com a adoção de um estilo de vida sedentário e de práticas que alteravam a floresta nativa e possibilitavam a adoção de uma agricultura razoavelmente produtiva – saíram de sítios pré-históricos situados nas terras hoje habitadas pelo povo kuikuro, dentro da reserva indígena do Xingu, e se materializaram nas páginas da edição de 19 setembro de revista norte-americana Science , uma das publicações de maior peso entre os cientistas.

Marcos Pivetta – Revista Fapesp
C.M.

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