Fapesp: Brasil mantém pioneirismo na prevenção de doenças típicas de países pobres

O país ainda padece de endemias como a malária, hanseníase, leishmaniose, tuberculose, cólera e dengue

qua, 23/06/2004 - 20h45 | Do Portal do Governo

Se uma máquina do tempo trouxesse Oswaldo Cruz ao Brasil de 2004, o grande sanitarista brasileiro, nessa viagem hipotética, poderia concluir que foram tímidos os avanços na pesquisa das doenças tropicais nos últimos cem anos. O país ainda padece de endemias como a malária, não conseguiu livrar-se da hanseníase e da leishmaniose, assistiu impotente à expansão da tuberculose e do cólera e é freqüentemente acossado por surtos de dengue que, por compartilhar o mosquito transmissor com a febre amarela, impõe o risco de trazer de volta o flagelo que Oswaldo Cruz tanto se empenhou para erradicar no começo do século 20.

A verdade, porém, é que, nas últimas décadas, os pesquisadores brasileiros não pararam de trazer contribuições originais na compreensão e na busca de tratamento de doenças tropicais, que se tornou uma das áreas mais relevantes da pesquisa científica em saúde no país. E, em vários momentos, os pesquisadores trabalharam praticamente sozinhos, pois a maioria das indústrias farmacêuticas jamais se dispôs a investigar drogas de interesse exclusivo de países pobres.

As ferramentas para combater a febre amarela são um exemplo dessa contribuição original. Para evitar a eclosão da moléstia em áreas de grande incidência de dengue – as duas doenças compartilham o mesmo mosquito transmissor, o Aedes aegypti -, o epidemiologista Eduardo Massad, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), trabalha com modelos matemáticos para estabelecer zonas de bloqueio à entrada da doença silvestre, na fronteira de São Paulo com Mato Grosso do Sul. A saída habitual, na iminência de um surto de febre amarela, seria vacinar toda a população.

Mas isso implica riscos. ‘Não se trata de uma vacina inocente’, diz Massad. A cada milhão de doses, ocorre uma morte. O modelo matemático ajuda a definir as áreas em que a vacinação é realmente indispensável – pois a incidência de dengue e a infestação de mosquitos são muito elevadas – e onde isso não é necessário. É possível também fazer projeções sobre o contingente de pessoas que devem ser vacinadas para criar uma margem segura no bloqueio à doença – que não necessariamente é de 100% dos indivíduos da área.

Esse tipo de pesquisa, que se baseia em boa medida no uso da matemática e dos computadores, ainda é visto com reservas pelos especialistas em medicina tropical da velha guarda, aqueles que acompanham pessoas doentes e conhecem de cor seus sintomas. ‘Fui a um congresso recentemente e vi que o entusiasmo com a pesquisa que fazemos parte mais dos jovens médicos’, diz Massad. Mas ninguém duvida de que essa área tem uma enorme contribuição a dar à prevenção das doenças tropicais. O grupo de Eduardo Massad prepara-se para realizar, nos próximos quatro anos, o maior esforço já feito no país para diagnosticar o espectro das arboviroses, doenças virais transmitidas por mosquitos e carrapatos.

Fabrício Marques – Revista Fapesp

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