Estudo: Como o fenômeno El Niño altera as condições climáticas no planeta

Trata-se de um fenômeno climático relacionado ao aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial

sex, 06/12/2002 - 17h08 | Do Portal do Governo

OEl Niño é um fenômeno climático relacionado ao aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, sendo uma das fases do El Niño-Oscilação Sul (ENOS). No Peru, arquivos de documentos dos primeiros colonizadores confirmam que seus impactos (inundação, distúrbio na vida marinha, etc.) eram conhecidos no tempo em que o primeiro conquistador, Pizzaro, colocou ali os pés em 1525.

Segundo os indicadores paleoclimáticos, como evidências geológicas e anéis de crescimento das árvores, esse evento vem ocorrendo por milhares de anos e provavelmente tanto quanto ocorreu no século XX. (KESSLER,2002)

Também foram achadas evidências geológicas de ocorrências em comunidades peruanas costeiras de pelo menos 13.000 anos atrás. Os Incas, que tinham conhecimentos sobre o El Niño, construíam suas cidades nos topos de colinas e a população mantinha estoques de comida nas montanhas; se as construíam na região costeira, não era perto de rios.

Mas apenas há cerca de 25 anos o resto do mundo começou a prestar atenção nesse fenômeno, após a devastação causada em 1982-83, intensificando esforços para entender como o processo ocorre globalmente.

O El Niño 1997-98 foi marcado, pela primeira vez na história humana, como a ocorrência em que os cientistas de clima puderam predizer com antecedência épocas de inundação anormal e meses de secas, permitindo que populações ameaçadas se preparassem a tempo (SUPLEE, 2002).

Em condições normais, os ventos alísios sopram para o oeste através do Pacífico Equatorial. Estes ventos empilham para cima água de superfície morna no Pacífico ocidental, de forma que a superfície do mar seja aproximadamente meio metro mais alta na Indonésia do que no Equador.

Durante a ocorrência do El Niño, os ventos relaxam no Pacífico central e ocidental e a temperatura da superfície do mar fica aproximadamente 8 graus Celsius mais alta na região oeste. Basicamente, ocorrem três sinais típicos:

1. As temperaturas da superfície do mar no Oceano Pacífico, na altura do Peru, elevam-se dramaticamente, alterando a circulação da atmosfera e acarretando a formação de nuvens causadoras de chuva e a redução da velocidade dos ventos que normalmente sopram para oeste.

2. As correntes de ar no Pacífico Sul deixam de fluir de leste a oeste e ficam mais estagnadas, ocasionalmente fluindo de oeste para leste. As nuvens carregadas de chuva seguem a água morna em direção leste. Como conseqüência, ocorrem inundação no Peru e seca na Indonésia e Austrália. A mudança na atmosfera em cima do Oceano Pacífico muda padrões de clima globais, com mudanças dramáticas no mundo inteiro, não só nas áreas perto do Pacífico tropical.

3.No mar aberto, a água na zona iluminada pelo sol tem uma temperatura mais alta do que a da água profunda. Em condições normais, o processo de ressurgência traz água mais fria para o topo, trazendo junto nutrientes ricos. Nos anos de El Niño, as temperaturas da água elevam-se no Pacífico, servindo como uma capa que impede a chegada desses nutrientes ricos para a zona iluminada pelo sol, habitada pela maioria das vidas marinhas (que morrem), afetando portanto a cadeia alimentar e pescas comerciais (EL NIÑO, 2002a; EL NIÑO, 2002b; INFORMAÇÕES, 2002).

Dois indicadores são os mais utilizados para medir a ocorrência e a intensidade do El Niño: Índice de Oscilação Sul (IOS ou SOI) e Anomalia de Temperatura da Superfície do Mar (SSTA).

A Oscilação Sul (OS) caracteriza-se por uma ‘gangorra barométrica’ de grande escala observada sobre a Bacia do Pacífico Tropical. Walker e Bliss (1932, 1937), citado por INFORMAÇÕES (2002), definiram a OS como uma flutuação inversa verificada na pressão ao nível do mar nas estações de Darwin (12.4S – 130.9E) localizada no norte da Austrália e Tahiti (17.5S – 149.6W) situada no Oceano Pacífico Sul.

A diferença entre as pressões normalizadas (em desvio padrão) nas estações de Tahiti e Darwin é definida como o Índice de Oscilação Sul (IOS). Este índice é geralmente negativo nos anos de El Niño e positivo nos anos de El Niña, tendo dados disponíveis para mais de um século, KESSLER (2002).

Ikuyo Kiyuna
Pesquisadora do IEA

C.A

Leia a matéria na íntegra no site do Instituto de Economia Agrícola.