Estrada de Ferro Campos do Jordão é modelo no setor de turismo ferroviário

Pioneirismo e eficiência marcam, ao longo de quase um século, a história da ferrovia

qua, 23/07/2003 - 11h48 | Do Portal do Governo

Da Agência Imprensa Oficial


Por Sérgio Moliterno


Foto: Fernandes Dias – Bonde antigo recuperado é usado no transporte urbano em Campos do Jordão

Foi a preocupação dos médicos Emílio Ribas e Vitor Coutinho com o bem-estar de seus pacientes que levou ao surgimento da Estrada de Ferro Campos do Jordão (EFCJ), no início do século 20. A fim de proporcionar um acesso mais rápido e confortável às pessoas que sofriam de doenças respiratórias e iam para Campos de Jordão em busca de cura, eles se empenharam na construção de uma ferrovia ligando esta cidade à de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba.

Apesar das dificuldades para vencer as encostas íngremes da Serra da Mantiqueira, a estrada de ferro foi construída em menos de um ano, e oficialmente inaugurada em 15 de novembro de 1914. Segundo os registros da época, mais de 300 pessoas se esforçaram para fazer com que uma pequena locomotiva a vapor, chamada de “Catarina”, subisse a serra puxando um vagão com passageiros.

Dos primeiros trens, que levavam 12 horas para cobrir o trajeto de 47 quilômetros, às modernas automotrizes elétricas usadas hoje no transporte de turistas de todas as regiões do País e do exterior, foi percorrida uma longa trajetória de quase um século.

Em 1915 a ferrovia foi encampada pelo governo do Estado de São Paulo, que deu início ao seu processo de modernização, concluído nove anos depois com a eletrificação dos seus ramais, feita por uma companhia inglesa. Também em 1924 foi inaugurada a sede administrativa da EFCJ, na área central de Pindamonhangaba.

Depois de ter seus 47 quilômetros eletrificados, a EFCJ passou a operar no sistema de simples aderência roda/trilho nos percursos de serra, com uma velocidade média de 32 km/h, em nível, e de 16 km/h nos trechos em declive. A rampa máxima da serra chega a 11%, índice considerado muito alto em comparação ao das ferrovias comerciais em geral, que têm rampas de, no máximo, 4% para simples aderência. Nenhuma outra estrada de ferro em todo o mundo apresenta um percurso tão longo com rampas de simples aderência tão acentuadas.

Outra particularidade da EFCJ é ter em seu percurso o ponto ferroviário mais alto do Brasil: o Alto do Lageado, com 1.743 m de altitude.

Variedade de serviços

Até 1970 a EFCJ permaneceu como órgão da Secretaria de Transportes do Estado de São Paulo, quando passou a se dedicar integralmente ao turismo, com a criação dos parques do Reino das Águas Claras e do Capivari, tendo este como destaque o primeiro teleférico brasileiro para transporte de turistas. Agora integrada à Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo, é uma empresa modelo no setor de turismo ferroviário, com raízes em três cidades do Vale do Paraíba: Pindamonhangaba, Santo Antônio do Pinhal e Campos do Jordão.

Além da sede administrativa, um imponente prédio de linhas arquitetônicas tipicamente européias, em Pindamonhangaba estão concentradas as oficinas de manutenção, onde trabalham engenheiros mecânicos, eletricistas, marceneiros e outros técnicos.

Com base na experiência acumulada ao longo de quase um século de atividade operacional – e também no ferramental especializado disponível em suas oficinas –, a EFCJ está capacitada a oferecer a empresas e órgãos públicos uma grande variedade de serviços, tais como construção e operação de teleféricos e linhas ferroviárias; reforma e restauração de equipamentos ferroviários antigos; movimentação de trens históricos; e manutenção elétrica e mecânica de ferrovias e veículos ferroviários.

Na região do Vale do Paraíba, estão em fase de planejamento alguns projetos como, por exemplo, um trabalho conjunto das prefeituras locais para viabilizar a exploração regional do turismo ferroviário no trecho de São José dos Campos a Lorena, abrangendo Aparecida do Norte, Campos do Jordão e outros pólos turísticos.

Na área de restauração, estão sendo recuperadas três marias-fumaça adquiridas em engenhos de açúcar de Alagoas. Duas dessas velhas locomotivas pertencem à prefeitura de Taubaté e serão usadas no ramal ferroviário de um parque temático sobre Monteiro Lobato que será montado no município. É a EFCJ que vai instalar e operar essa linha turística.

Além dessas atividades, os técnicos da ferrovia estão empenhados no desenvolvimento de outros projetos, como a construção de um ramal, operado por bondes, ligando a estação Júlio Prestes ao prédio da Pinacoteca do Estado, na capital. E, em sua própria área de operação, a EFCJ está elaborando um projeto turístico, que prevê a utilização de uma maria-fumaça, com a proposta de resgatar, em um trabalho de parceria com a comunidade local, aspectos históricos e culturais das estações situadas entre Pindamonhangaba e Piracuama: o plantio de arroz, em Mombaça; as comidas típicas, em Bonsucesso; e atividades ligadas à pesca, em Piracuama.

Preservar e modernizar

Filho de um mecânico que trabalhou 25 anos nas oficinas da ferrovia, o engenheiro mecânico Arthur F. dos Santos está há quinze anos na direção da empresa. Ele conta que, depois de um período em que enfrentou sérios problemas, a EFCJ, em seu âmbito de atuação, está hoje trabalhando com toda a capacidade operacional de seus trens e de seus funcionários.

Graças ao apoio recebido do Estado desde o início do governo Mário Covas até a atual gestão, a ferrovia deixou de ser deficitária, passando a se manter quase que exclusivamente com recursos próprios. O seu diretor lembra que a modernização de todas as atividades é uma meta permanente da empresa. “Fomos a segunda empresa da administração direta a participar do sistema de pregão. E, embora nossos trens tenham seu aspecto histórico preservado, os sistemas e mecanismos que os movimentam são os mesmos usados nas modernas composições do metrô”, diz ele com indisfarçável orgulho.

O recanto de Monteiro Lobato

O trem que sobe a serra em direção a Campos do Jordão faz a primeira parada a 17 quilômetros de Pindamonhangaba, no Reino das Águas Claras. Em 1970, a EFCJ aproveitou a área de uma pedreira desativada, por onde passa o rio Piracuama, para criar um parque temático em homenagem ao escritor Monteiro Lobato. Com uma área de mais de 20 mil metros quadrados, o recanto foi decorado com esculturas das personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo, feitas pelos artesãos José Pyles e Alarico Corrêa.

O parque oferece também aos visitantes bar, sorveteria, parque infantil e um palco coberto que pode ser utilizado como área de refeições ou para apresentações de espetáculos. A maior atração, entretanto, é o banho nas águas claras do Piracuama.

A ferrovia mantém, ainda, um serviço de trem especialmente destinado ao transporte das pessoas que moram nas áreas próximas do parque até a cidade, e vice-versa; e também os turistas que chegam a Pindamonhangaba e se interessam em visitar apenas o Reino das Águas Claras.

Serviço – Antes de fazer sua viagem entre em contato com a EFCJ pelo telefone (12) 3644-7408 para confirmar os horários do roteiro escolhido.

(LRK)