Estado quer ampliar o uso do gás natural no transporte urbano e em veículos de passeio

Preço do gás natural vai baixar em São Paulo a partir de 1º de fevereiro.

qui, 29/01/2004 - 14h51 | Do Portal do Governo


Em reunião com representantes dos setores automotivo e de energia, Alckmin constitui o Comitê Permanente de Gás

O governador Geraldo Alckmin reuniu-se nesta quinta-feira, dia 29, com representantes dos setores automotivo e de energia, no Palácio dos Bandeirantes, para discutir a ampliação do uso do gás natural no transporte urbano e em veículos de passeio. Foi anunciado também que o preço do gás natural vai baixar no Estado de São Paulo a partir de 1º de fevereiro.

Para os consumidores menores (residência) a redução será de 1,5% a 1,65%; para o comércio (consumidores maiores) será de 2,5%; e para a indústria chegará até 6%. A portaria da Comissão de Serviços Públicos de Energia com a correção das tabelas foi publicada hoje no Diário Oficial. Segundo o secretário de Energia e Recursos Hídricos, Mauro Arce, essa redução foi possível porque houve excesso de arrecadação em relação ao gás e nada mais justo que isso volte ao consumidor na forma de redução de preços.

Alckmin fez uma avaliação positiva da reunião, que durou quase três horas. Comentou que o Estado tem um potencial enorme para explorar o gás natural. “Isto já é uma realidade em São Paulo, onde passamos de 3 milhões de m3/dia para quase 12 milhões de m3/dia. Podemos crescer muito mais, pois com a descoberta da Bacia de Santos temos nesta jazida a possibilidade de triplicar o consumo de gás no Brasil, que hoje é de 18 milhões m3/dia, por 30 anos”, assinalou.

A redução do preço do gás, a melhoria da competitividade do preço da indústria e a redução da poluição também foram abordados pelo governador. “Tudo isto pode ser uma ferramenta para o desenvolvimento, melhorando o emprego, a competitividade das empresas brasileiras e as exportações” .

Em recente encontro com a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, e com o presidente da Petrobrás, José Eduardo Dutra, Alckmin pediu a diminuição do preço do gás. “Existe uma discussão: se primeiro espera o aumento do consumo para depois abaixar o preço. Nós queremos o inverso. Primeiro abaixa o preço para poder aumentar o consumo e poder ter um mercado maior de gás”, esclareceu.

A Comgás (concessionária paulista) investiu R$ 700 milhões em rede de distribuição em citygates, triplicando o consumo. Também está aumentando o consumo veicular, o que vai possibilitar atingir o número de 300 postos de gás natural veicular (GNV) no Estado de São Paulo.

Alckmin também assinou autorização instituindo um comitê permanente de gás. Além de ser formado por cinco secretarias estaduais: Ciência Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo; Transportes; Transportes Metropolitanos; Meio Ambiente; e Energia e Recursos Hídricos, o comitê também poderá ser integrado por representantes do setor empresarial.

O gás natural veicular apresenta duas grandes vantagens: preço menor e redução na emissão de poluentes – polui 50% menos do que o diesel. Além disso, não emite enxofre nem fumaça preta.

Um dos obstáculos para o aumento de seu consumo é o custo de conversão, que gira em torno de R$ 10 mil para ônibus e de R$ 3 mil para veículo de passeio. Por essa razão, seria interessante a produção de veículos capacitados para operar com o combustível. O vice-presidente da Bosch na América Latina, Besaliel Soares Botelho, enalteceu o desenvolvimento de motores flexfuel e comentou que sua empresa já está desenvolvendo motores trifuel para colocar à disposição das montadoras no mercado.

O diretor de controle da Daimler Chrysler/Mercedes Benz, Josef Wuerth, disse que a montadora já produz dois tipos de motores no Brasil e está pronta para produzir ônibus a gás.

Na matriz energética brasileira o gás natural representa 3%, enquanto que na Argentina e na Europa corresponde a 20% e nos Estados Unidos a cerca de 25%. Em todo o Estado de São Paulo já foram feitos 1,4 mil km de redes de gás com investimentos de R$ 1 bilhão da Comgás, Gás Brasiliano e Gás Natural São Paulo Sul, desde 1998. A rede estadual atinge 408 mil consumidores em 55 municípios.

A Secretaria Estadual de Energia e Recursos Hídricos propõem a unificação do preço do gás e a agilização da exploração do gás de Santos. Em maio de 2003, a Petrobrás anunciou a descoberta de uma reserva de gás natural na Bacia de Santos, a BS-400, com potencial de 419 milhões de m3 do produto.

Novas avaliações realizadas em setembro indicam que o campo pode atingir 1 trilhão de m3, o que a tornará uma mega reserva, semelhante à da Bolívia. A estimativa de sua capacidade de produção é de 55 milhões de m3/dia, durante 20 anos.

Em reunião realizada no último dia 12, o Governo paulista propôs à Petrobrás que a reserva esteja apta para comercializar dentro de quatro anos. Sua prioridade deverá ser a ampliação do mercado brasileiro, em lugar da exportação.

Na ocasião, também foi sugerida a unificação dos preços do gás natural vendido no Brasil. Só para se ter uma idéia, o gás boliviano custa US$ 3,37 o milhão de BTUs, enquanto o nacional produzido nas Bacias de Campos, de Mexilhão (em Santos) e outras (Bahia, Rio Grande do Norte) é comercializado a US$ 2,88.

O Estado consume 11 milhões de m3 de gás natural/dia, dos 28 milhões consumidos pelo País, isto é, 40%. Desse volume, 1 milhão vem do campo de Merluza (Santos), 2 milhões da Bacia de Campos e 8 milhões da Bolívia (dos 13 milhões importados pelo Brasil).

Isto significa que São Paulo compra cerca de 77% de seu gás ao preço maior de US$ 3,36 o milhão de BTUS. A entrada em operação do campo BS-400, da Bacia de Santos permitirá a ampliação da oferta e a queda do preço praticado.

Com a redução imediata do preço a cerca de US$ 2,00, para novos volumes, o Estado poderá consumir até 30 milhões de m3/dia, até o ano de 2010, nos setores de co-geração, termoelétrico, industrial, veicular, comercial, residencial, além da sua utilização como matéria-prima na indústria petroquímica.

Por outro lado, o estabelecimento do preço unificado e as demandas decorrentes, levarão as concessionárias a novos investimentos em redes, infra-estrutura e sistemas de distribuição.

Valéria Cintra