Estado mantém sete escolas em aldeias indígenas com ensino bilíngüe

Outras 13 unidades estão em construção. Iniciativa faz parte do Programa de Apoio à Educação Indígena, desenvolvido pelo Governo.

sex, 19/04/2002 - 9h26 | Do Portal do Governo


Outras 13 unidades estão em construção. Iniciativa faz parte do Programa de Apoio à Educação Indígena, desenvolvido pelo Governo.

Cerca de 700 crianças e adolescentes indígenas do Estado de São Paulo estudam atualmente em escolas da rede oficial de ensino. A maioria deles, 487, é formada de alunos de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, que freqüentam aulas na sua própria aldeia de origem por meio de sete escolas criadas pelo Governo do Estado em parceria com prefeituras. Além do local apropriado, as aulas são bilíngües (em português e na língua materna) e mantêm a interculturalidade de cada etnia. Fora das aldeias, outros 183 alunos índios estão entre a 5ª e a 8ª séries do Ensino Fundamental e 30 estudam no Ensino Médio.

Os números, apesar de pequenos diante do universo de 21 reservas existentes no Estado, nas quais vivem hoje mais de 4.000 índios de sete etnias (Guarani, Nhandeva, M´Biá, Kaingang, Krenak, Terena e Pankararu), são comemorados pelo Núcleo de Educação Indígena de São Paulo, vinculado à Secretaria Estadual da Educação.

Em passado recente, há cerca de seis anos, apenas 400 dessas crianças e jovens freqüentavam salas de aula. Nenhum deles em escolas criadas na própria aldeia. Era preciso estudar em unidades convencionais da região, o que significava adequação dos índios ao regime e horário da escola e, sobretudo, à realidade e cultura dos estudantes não-índios. Nunca o contrário.

Com a criação do Programa de Apoio à Educação Indígena, desenvolvido pela Secretaria da Educação há quatro anos, além das sete escolas existentes, outras 13 estão em fase de construção, em 13 aldeias do Estado. Uma delas, já concluída, mas que ainda não foi inaugurada oficialmente, está em Peruíbe, no Litoral Sul, onde vivem mais de 100 índios da etnia Guarani. A unidade começou a funcionar no fim de fevereiro, atendendo 25 crianças entre 7 e 14 anos, com o Ciclo I do Ensino Fundamental.

“Este projeto objetiva garantir o percurso escolar com sucesso para todos os alunos índios, atendendo as especifidades desses povos e assegurando seu acesso ao conhecimento universal”, explica a coordenadora do Núcleo de Educação Indígena, Deusdith Bueno Velloso.

Segundo ela, a iniciativa para criação das escolas parte normalmente das próprias lideranças indígenas e é definida pelo núcleo, que além de membros do Governo paulista, é formado por representantes do Ministério da Educação, ONGs, universidades, professores índios e não-índios. Somente uma aldeia Guarani, localizada em Cananéia, no extremo sul do litoral, não quis uma escola na própria comunidade.

Entre as que mantêm unidades de ensino na reserva está a Aldeia Guarani Tekoa-Itu, localizada no Morro do Jaraguá, Zona Norte da Capital. A escola foi criada no ano passado para atender crianças de 7 a 14 anos com o Ciclo I do Ensino Fundamental.

O projeto da unidade foi desenvolvido por estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, cujo espaço contempla as características daquela etnia. A obra é um misto de alvenaria com oca e além de um pátio coberto, dispõe de uma área redonda com paredes móveis, que podem se transformar em até três salas de aula.

As demais escolas indígenas estão localizadas na Aldeia Boa Vista (Ubatuba), Aldeia Rio Silveira (Bertioga), Aldeia Itaoca (Mongaguá), Aldeia Kopenoti (Avaí), Aldeia Vanuiry (Arco-Íris) e Aldeia Icatú (Braúna).

Outras Iniciativas

Associado à criação de escolas dentro das aldeias, o Programa de Apoio à Educação Indígena também está desenvolvendo materiais didáticos e pedagógicos apropriados à realidade de cada comunidade indígena do Estado. Outra inovação é a inclusão dos alunos indígenas no Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo).

‘As primeiras provas foram aplicadas em 2001 e os resultados obtidos já nos permitem fazer o acompanhamento do desempenho escolar dessas crianças e jovens’, explica a coordenadora Deusdith. O programa conta ainda com um curso de formação de professores índios, que os qualificará como docentes indígenas, oficializando o ensino em língua materna da cultura e tradição de cada etnia.

Gislene Lima
Fotos: Reginaldo Pupo

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