Estado cede pavilhão no Ibirapuera para criação do Museu Afro-Brasil

Alckmin autoriza ainda a construção de 630 moradias para os quilombolas

qui, 20/11/2003 - 15h40 | Do Portal do Governo


Das senzalas à conquista gradual de espaços na televisão, nas áreas da educação e saúde, entre outras, o negro brasileiro vem ganhando visibilidade e respeito, resultado das ações afirmativas, que vem sendo adotadas nas três esferas de governo. Como reconhecimento pela contribuição desta etnia, o Governo do Estado e Prefeitura selaram uma parceria para a instalação do Museu Afro-Brasil, que foi lançado nesta quinta-feira, 20, data em se comemora o Dia da Consciência Negra e a morte de Zumbi dos Palmares, líder da resistência negra contra o sistema de escravidão. Seu funcionamento está previsto para março de 2004.

O governador Geraldo Alckmin assinou a transferência do Pavilhão Manoel da Nóbrega, no Parque do Ibirapuera, para a Prefeitura instalar o Museu. Alckmin assinou também a autorização para a construção de 630 moradias nas comunidades quilombolas no Alto e Vale do Ribeira e nos litorais Sul e Norte. As moradias serão erguidas pela CDHU e estão orçadas num valor total de R$ 570 mil. O governador entregou ainda a titulação de terras para 69 famílias quilombolas do município de Eldorado, região de Registro.

Os atos completam uma série de iniciativas do Estado para comemorar o Mês da Consciência Negra, aberto oficialmente na última sexta-feira, dia 14, no Memorial da América Latina. Alckmin, em medida pioneira no País, assinou decreto instituindo um pacote de ações voltadas para os afrodescendentes.

O Museu Afro-Brasil tem o objetivo de preservar as heranças negras em São Paulo e resgatar uma dívida que a sociedade brasileira tem para com o segmento negro e mestiço de sua população. Não será um museu meramente contemplativo, mas com compromisso social. Terá como curador Emanoel Araújo, que recentemente realizou a exposição ‘Negras Memórias, Memórias de Negros – o luso-afro-brasileiro e a herança da escravidão” na Galeria de Arte do Sesi – Serviço Social da Indústria.

Foi através dessa exposição que surgiu a idéia de que o rico e amplo material apresentado (Coleção Emanoel Araújo) passasse a ser o núcleo patrimonial do futuro Museu Afro-Brasil, no Pavilhão Manoel da Nóbrega. Esse mesmo espaço já abrigou a exposição “ Negro de Corpo e Alma”, com curadoria de Araújo, no grande evento Mostra do Redescobrimento, em 2000. O Museu terá cerca de 700 peças da sua coleção particular. No local também serão realizados workshops e terá exibição de filmes sobre as questões raciais.

Alckmin ressaltou que o Museu será instalado num local cobiçado por dirigentes de universidades, ONG’s e de outros museus. “Acho que tomamos a medida certa, atendendo ao pleito do Conselho da Comunidade Negra. E dando às mãos à Prefeitura, cedemos este espaço voltado aos descendentes dos africanos”, explicou. Numa referência ao guerreiro Zumbi dos Palmares, Alckmin disse que a sua resistência representou o grito de independência do Brasil contra o regime colonial. “Por isso ele é o herói de todos os brasileiros”.

Segundo estudos, lembrou Alckmin, tinham mais negros nas senzalas que sabiam ler e escrever do que na casa grande. “Portanto, é preciso recuperar esta memória dos afro-brasileiros, não para reescrever a história, mas talvez para escrevê-la pela primeira vez, incorporando a população negra, não como coadjuvante, mas, sim, como protagonista na história brasileira”.

A prefeita Marta Suplicy enalteceu a sensibilidade do governador Alckmin que se empenhou para a instalação do Museu. “De todas as violências que o negro sofreu a mais forte foi a de identidade”, falou.

Doutor em economia, o professor universitário Hélio Santos afirmou que o Museu cobre uma importante lacuna pois fortalece a auto-estima da população negra e vai ajudar a sociedade brasileira a se conhecer melhor. O professor, que viaja por todo o Brasil, em função de seu trabalho, afirmou ainda que em nenhum outro Estado há um espaço que vá retratar a trajetória do negro brasileiro como o de São Paulo.

Ações afirmativas

O decreto assinado pelo governador Geraldo Alckmin em comemoração ao Dia da Consciência Negra envolve várias secretarias que se articulam em programas de ações afirmativas para a valorização da comunidade negra.

Na área da educação, a idéia é erradicar o preconceito racial, já bancos escolares. Serão capacitados todos os professores da rede pública estadual, que irão tratar do tema com os alunos e introduzir a disciplina História e Cultura Afro-brasileira em todas as séries dos Ensinos Fundamental e Médio. Foi criado, além disso, um conselho composto pelas três universidades do Estado: USP, Unesp e Unicamp para discutir a inclusão racial universitária do ensino superior e estabelecer alternativas para o tema.

Na Secretaria da Justiça foram instituídas medidas que permitiram a titulação de terras das comunidades dos quilombolas. A pasta vai elaborar um censo sócio-econômico e étnico dos servidores paulistas para orientar o planejamento de ações afirmativas e criar um serviço de orientação aos indivíduos que sofrerem discriminação.

Já a área da saúde irá estender o Programa Saúde da Família para todas as comunidades quilombolas do Estado, além de realizar campanha educativa sobre a anemia falciforme e incluir o tema de doenças epidemiologicamente prioritárias para a comunidade negra.

Atores e atrizes negros irão participar de campanhas institucionais do Governo do Estado, ‘como respeito pela pluralidade racial’, conforme acentuou Alckmin. Na segurança pública, serão feitos estudos sobre a conveniência da instalação da Delegacia Especializada de Crimes Raciais.

Valéria Cintra