Especial: Palácio dos Campos Elíseos – Um marco na arquitetura brasileira

Grupo de trabalho vai coordenar restauração do edifício

qua, 17/07/2002 - 11h21 | Do Portal do Governo

O Palácio dos Campos Elíseos começou a ser construído em 1890, pouco depois da inauguração dos serviços de água da Cia. Cantareira, que passou a abastecer os novos bairros da cidade. Assim, as famílias mais abastadas começaram a deixar o centro de São Paulo. Foi o que fez também Elias Antônio Pacheco Chaves, ligado à Cia. Prado Chaves, empresa líder no comércio de exportação de café e outras áreas de atividade, inclusive no setor imobiliário.

Homem sofisticado, Elias Chaves viajava com freqüência à Europa e acredita-se que tenha visitado o castelo renascentista de Écouen, nas proximidades de Paris, construído em 1535, que foi o ponto de partida do projeto de sua nova residência. Chaves contratou o arquiteto alemão Matheus Heussler para elaboração do projeto

Heussler trabalhava no Brasil desde 1882, mas os planos foram feitos na Europa. Ao retornar, o arquiteto trouxe a maior parte dos elementos de acabamento e decoração do edifício. Os espelhos eram de cristal de Veneza, os lustres de cristal de Bacarat, as maçanetas das portas e janelas de porcelana de Sèvres, os elementos de terracota colorida eram provenientes da Itália. As ferragens das portas, em bronze, vieram dos Estados Unidos. Uma parte da decoração interna foi realizada com carvalho francês e o telhado com pinho de Riga e telhas de ardósia importada.

A obra foi executada pelo mestre João Grundt, nascido em Hamburgo, que veio ao Brasil para executar os trabalhos de fundação do Viaduto do Chá, tendo atuado também na construção da Escola Agrícola Luiz de Queiroz, em Piracicaba.

Depois de ficarem paralisadas por alguns anos, as obras foram concluídas em 1899, sob a direção do engenheiro Hermann von Puttkamer, que havia sido autor do projeto de loteamento de Campos Elíseos. A decoração foi concluída sob a orientação de Cláudio Rossi.

Palacete Elias Chaves – Tecnologia européia

A nova residência apresentava todas as características das construções mais sofisticadas da Europa, no seu tempo. Pela importância, tornou-se conhecido como Palacete Elias Chaves. O edifício tinha quatro andares: um porão, o térreo, o primeiro pavimento e o sótão. Após um incêndio, em 1967, ficaram expostas algumas vigas, na parte superior.

As obras do palacete foram bem representativas dos avanços tecnológicos da época, em São Paulo. Incorporavam as soluções e elementos construtivos, equivalentes aos da Europa naquele momento. Isso permitiu que, na época, São Paulo pudessem utilizar técnicas européias simultaneamente aos profissionais do velho continente.

A passagem da arquitetura de taipa de pilão, que dominou em todo o período do Império, para a arquitetura de tijolos, predominante na Primeira República, não foi uma simples mudança na forma de se construir paredes. Foi a substituição de um conjunto de técnicas grosseiras, adequadas para o uso do trabalho escravo, por outras, possíveis com a presença da mão-de-obra especializada, oferecida pelos imigrantes formada a seguir pelo Liceu de Artes e Ofícios. Assim, foi possível a incorporação eficiente de materiais importados e técnicas mais sofisticadas.

Preservação

Elias Chaves faleceu em 1907. Oito anos depois, sua família transferiu a propriedade, que estava em nome da Cia. Prado Chaves, para o Governo do Estado. A venda incluiu mobília, alfaias e espelhos. Salvo pequenas adaptações, para as novas funções, a arquitetura do edifício foi mantida em sua integridade.

Em 1935, no governo de Armando de Salles Oliveira, foi feita uma reforma de maior porte, adaptando o edifício para ser também um palácio de despachos, além de residência. A escada fronteira, com dois lances curvos, foi substituída por outra, de linhas retas, em um único lance. Pequena escada dos fundos foi também substituída por outra de maior porte e em outra posição. A escada interna, que era uma obra de madeira sofisticada, um orgulho do mestre Grundt, foi substituída por uma nova e mais ampla de alvenaria, revestida de mármore.

Foram crescidos alguns compartimentos de decoração em estilo art-déco. Para acomodar esses compartimentos, foram construídos dois corpos salientes nos fundos, que romperam com a simetria das fachadas laterais. Mas a maior parte dos antigos compartimentos foi conservada a decoração original, como mostram fotografias e detalhes dos projetos da época. Depois de 1940, o edifício atravessou uma fase de decadência, com pequenas reformas precárias, que comprometeram as características originais.

Em 1965, quando a residência oficial dos governadores de São Paulo foi transferida para o bairro do Morumbi, iniciou-se um trabalho de restauração, que prometia recompor o aspecto existente em 1935. Entretanto em 1967, na fase de conclusão da restauração, o edifício sofreu um incêndio de elevadas proporções, que destruiu o telhado e grande parte da decoração interior. Posteriormente começou uma nova fase de restauração, resultando no atual aspecto do palácio.

Fonte: Pesquisa do professor Nestor Goulart Reis Filho da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP)

Agência Imprensa Oficial

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