Especial: Mais encomendas para o setor privado

Indústria de material ferroviário prevê crescer até 40% este ano, atendendo a programas do setor público

sex, 01/03/2002 - 9h33 | Do Portal do Governo

Indústria de material ferroviário prevê crescer até 40% este ano, atendendo a programas do setor público

Nesta sexta-feira, dia 1º, termina o prazo para entrega de documentos pelas empresas interessadas na concorrência de fornecimento de trens e equipamentos para a Linha 4 da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô). O resultado da pré-qualificação deve sair em 19 de março e a divulgação do edital de concorrência está marcada para o dia 21, a fim de que em julho sejam conhecidos os vencedores e as obras comecem já no segundo semestre. A Linha 4 está orçada em US$ 1,2 bilhão.

As encomendas do Metrô e os programas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) são um dos principais fatores do crescimento da indústria de material ferroviário, que foi de 37% no ano passado e este ano deve repetir a performance, expandindo-se entre 30% e 40%, bem acima do conjunto da indústria, que em 2001 ficou em apenas 1,5%, afirma Massimo Giavina, vice-presidente do Sindicato Interestadual da Industria de Material e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre).

Há quinze dias, foram qualificados os consórcios e empresas que se encarregarão dos serviços de manutenção de 58 trens da CPTM, em contratos a serem firmados no total de R$ 90 milhões. Será a segunda contratação entre governo e empresas privadas, dentro do programa de terceirização de serviços de manutenção, iniciado pela Companhia no ano passado. Em 2001, foram contratados serviços para 30 trens, no valor de R$ 180 milhões, para 5 anos.

Além dos sistemas móveis (trens e vagões), as encomendas feitas pelo setor público são positivas por incluir os sistemas fixos (de energia, comunicações e informática, como sinalização sincronizada e a bilhetagem eletrônica), de alto valor agregado, assinala Giavina, do Simefre. Neste ano, o faturamento total previsto para o setor pode ir a R$ 8 bilhões, acrescenta ele.

Só em manutenção do material rodante e das vias permanentes da CPTM seria exigido dispêndio equivalente a US$ 140 milhões/ano e a decisão de terceirizar o serviço (exceto os de maior segurança) libera o governo de investimentos para atualização tecnológica no setor e facilita a contratação a custos adequados, pela realização de licitações e concorrências, explica Oliver Hossepian Salles de Lima, presidente da CPTM.

Neste ano, será concluída a primeira fase do Programa Quinqüenal de Material Rodante, que visa recuperar e reformar 78 trens da CPTM. Resta aplicar R$ 50 milhões dessa fase, durante a qual as empresas privadas já entregaram 36 trens 100% modernizados. Para a segunda fase, está prevista verba de R$ 100 milhões. Além destas licitações, cujo prazo ainda não foi fixado, estão previstas pela CPTM concorrências para manutenção de vias permanentes de várias linhas da rede de trens urbanos, cujos valor e prazo também não foram definidos. No último trimestre do ano passado, só para a Linha Leste foram contratados serviços orçados em R$ 60 milhões.

Estão em curso diversos outros projetos de trens metropolitanos no Brasil. Giavina cita, além da Linhas 4 e 5 do Metrô paulista (esta integralmente atendida pela indústria nacional), a 3 do Metrô do Rio de Janeiro (ligando a capital às cidades de Niterói e São Gonçalo), a fase 2 do Metrô de Fortaleza, a construção da linha São Leopoldo-Novo Hamburgo (Rio Grande do Sul), além de expansões dos sistemas no Recife e em Belo Horizonte.

O primeiro trem da Linha 5 do Metrô paulista foi entregue em meados de fevereiro e será usado em testes da nova linha, com inauguração prevista para agosto. Em seu trecho inicial, a Linha 5 terá 9,4 quilômetros de via dupla e seis estações e, para ela, o governo paulista contratou oito trens a um consórcio de empresas, o Sistrem. O valor total do contrato da Linha é de US$ 646 milhões, com financiamento internacional.

O efeito positivo do volume das encomendas em curso é ampliado pela garantia de pagamentos, proporcionada pela vigência da Lei de Responsabilidade Fiscal e de contratos de financiamentos firmados pelos governo com bancos internacionais, como o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), observa Giavina. O Bird financia o sistema de integração em São Paulo, entre Metrô e CPTM, e o BID apóia a fase 2 da linha do Metrô paulistano.

Há poucos dias, o BID divulgou relatório de sua missão técnica, que visitou em janeiro as obras do Projeto Sul, financiado pelo banco. Neste Projeto estão incluídas a dinamização da Linha C-Sul, da CPTM (Osasco-Jurubatuba), e a construção da Linha 5, do Metrô (Capão Redondo-Largo Treze). No relatório, o BID diz que o custo de construção da Linha 5 é de cerca de US$ 67 milhões por quilômetro e assinala serem os ‘valores comparados favoravelmente com custos de obras semelhantes, no País e no exterior, dado que há exemplos anteriores no Brasil e noutros países em que obras de semelhante qualidade chegaram a valores superiores a US$ 200 milhões/quilômetro’.

Cecilia Zioni