Especial do D.O.: USP vai coordenar projeto de geração de energia com resíduos de madeira

Iniciativa deverá beneficiar cerca de 60 famílias da cidade de Costa Marques, em Rondônia

sex, 13/02/2004 - 12h01 | Do Portal do Governo

O Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP vai coordenar projeto-piloto para transformar resíduos de madeira em energia elétrica renovável e sustentável. A iniciativa, batizada de Enermad (alusivo à ‘energia da madeira’), deverá beneficiar cerca de 60 famílias da cidade de Costa Marques, que fica na Reserva Extrativista de Cautário, em Rondônia, cerca de 700 quilômetros da capital Porto Velho. Para que o projeto seja iniciado falta apenas a liberação de recursos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

‘Não temos registros de nenhum outro programa deste tipo e porte executado no Brasil’, afirma o engenheiro Carlos Eduardo Machado Paletta, do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio/USP).

A idéia, de acordo com Paletta, executor da iniciativa, é substituir os geradores movidos a diesel utilizados pela comunidade, o que representa, além de economia e incentivo à indústria, várias outras vantagens para todos aqueles comprometidos.

Segundo ele, a geração de energia causará um impacto ecológico muito menor, pois não haverá a queima de combustíveis fósseis. Os recursos a serem utilizados são renováveis e esta prática será desenvolvida de maneira sustentável e direcionada.

A partir de uma central termelétrica serão gerados 200 quilowatts (kW), suficiente para suprir as necessidades atuais da Comunidade Extrativista de Cautário I (que faz parte da Associação dos Seringueiros do Vale do Rio Guaporé – Aguapé/RO) e ainda aumentar sua produção, que engloba extrativismo do látex, da castanha-do-pará, exploração sustentável de madeira, artesanato e ecoturismo.

Atualmente, a produção da comunidade não opera em pleno potencial, pois não há energia elétrica disponível.

Distâncias continentais

A distribuição num país com distâncias continentais precisa ser bem estruturada para que não ocorram perdas significativas de eletricidade, o que encarece o produto. ‘São necessários sistemas de pequeno porte’, explica o engenheiro. ‘Você tem de levar a energia que precisa naquela região, nem mais, nem menos.’

Esse projeto pode ser uma solução para o problema, pois significa energia de qualidade, barata e em locais de difícil acesso, sem grandes agressões ao meio ambiente. Segundo Paletta, a idéia é disseminar a prática no País inteiro.

Com orçamento de R$ 1 milhão, o programa deve durar dois anos e, se bem-sucedido, levar a outros estudos para identificar lugares com potencial para a criação de novas centrais. Um dos principais pré-requisitos é que, necessariamente, precisa haver alguma ligação com atividades sustentáveis, pois a biomassa combustível, utilizada na geração de energia, provém do refugo criado por essas atividades.

Resíduos de madeira

Nesse caso específico, o combustível são os resíduos de madeira (serragem, pedaços de madeira e até árvores caídas). Mas outras indústrias, como as ligadas à cana-de-açúcar e produção de álcool, arroz, beneficiamento do coco e caju, por exemplo, realizam atividades que possibilitariam, em tese, a instalação de projetos semelhantes.

Outro requisito que deve ser atendido, mas dessa vez pelo próprio projeto, é que ele seja de fácil apreensão, porque serão as pessoas da comunidade as responsáveis pelo manuseio da aparelhagem.

Auxiliarão no desenvolvimento do projeto e na capacitação de pessoal o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Universidade Federal de Rondônia (Unir), a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp/PA) e o governo do Estado de Rondônia, coordenados pelo professor José Roberto Moreira, presidente do conselho do Cenbio, e pela professora Suani Teixeira Coelho, secretária executiva do Cenbio.

André Benevides – Da Agência USP
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)