Especial do D.O.: USP desenvolve sistema para despoluir lençóis freáticos

Método permite tratar águas subterrâneas contaminadas com gasolina

ter, 19/08/2003 - 9h00 | Do Portal do Governo

Um sistema de baixo custo e alta eficiência para o tratamento biológico de lençóis de água subterrâneos contaminados por vazamento de gasolina foi desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Processos Biológicos da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo.

O método é composto por reatores que utilizam bactérias retiradas do lodo de estações de tratamento, ou do lodo de lagos e rios poluídos. Esses microrganismos degradam os compostos aromáticos (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos) que fazem parte da gasolina.

Os reatores são anaeróbios, ou seja, não exigem a presença de oxigênio para efetuar a despoluição. ‘Isso diminui o custo, porque, diferente dos sistemas aeróbios, não é preciso dispor de bombas ou de sistemas de agitação para oxigenar a água contaminada’, explica Eduardo Bosco Mattos Cattony, um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto. Além disso, o leito dos reatores é preenchido com pedaços de espuma de colchão (poliuretano), material de suporte barato, que serve para o crescimento bacteriano.

Reatores anaeróbios

Foram projetados dois tipos de sistema: o reator horizontal anaeróbio de leito fixo (rhalf) e o reator anaeróbio em batelada. O rhalf trabalha em fluxo contínuo, processo em que a água contaminada entra por um lado do reator (semelhante a um tubo de PVC convencional), atravessa o leito fixo (onde estão os microrganismos) e sai pela outra extremidade, sem os compostos tóxicos.

O reator de batelada, parecido com um barril de PVC, trabalha na posição vertical e não tem fluxo contínuo. É alimentado com água poluída, esvaziado e preenchido novamente. As bactérias, que também estão fixadas em espumas de poliuretano, degradam os compostos aromáticos nos intervalos de tempo entre a alimentação e o descarte da água.

Prático e eficiente

‘Esses sistemas estão sendo desenvolvidos porque a contaminação por vazamentos de gasolina é uma das ocorrências mais freqüentes na poluição dos lençóis freáticos’, explica Eduardo. De acordo com dados da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), nos últimos anos houve um número significativo de vazamentos de combustíveis dos postos, motivados pela manutenção inadequada dos reservatórios.

Tanto o rhalf como o reator de batelada foram projetados para funcionar no local da contaminação, onde o tanque de combustível é removido juntamente com a lama que se forma abaixo dele. Por meio de processos como a centrifugação, o material sólido é separado da fase líquida, sendo a água poluída processada nos reatores e, depois, devolvida para o próprio local, minimizando os prejuízos para o meio ambiente.

Protótipos do rhalf estão sendo testados, desde março de 2000, na Estação de Tratamento de Esgoto do Câmpus de São Carlos e no Laboratório de Processos Biológicos. Já foram atingidos índices de remoção dos poluentes acima de 95%.

Rafael Corrêa
Da Assessoria de Imprensa da USP

(AM)