Especial do D.O.: Sabesp e SOS Mata Atlântica trabalham para despoluir o Tietê

Cerca de 300 equipes coletaram amostras da água do rio

ter, 18/11/2003 - 11h06 | Do Portal do Governo

Evento realizado na semana passada (10 a 14) debaixo da marquise do Parque do Ibirapuera marcou mais uma ação pela recuperação do Rio Tietê. O Reviva Tietê, promovido pela Fundação SOS Mata Atlântica, reuniu os grupos de monitoramento das águas do rio e seus afluentes, enquanto o Núcleo União Pró-Tietê, programa criado pela Fundação, está coordenando 300 equipes para coleta e análise periódica de amostras das águas do rio.

Estudantes, professores, índios, ambientalistas, associações comunitárias, ONGs e gestores de águas puderam expor seus trabalhos em favor da despoluição, principalmente na Bacia Hidrográfica do Alto Tietê e no Médio Tietê. As crianças puderam assistir à apresentação do Teatro de Fantoches da Sabesp, que ensina dicas de preservação dos recursos hídricos e da natureza. E pintaram um painel de 35 metros, que será exposto na Marginal do Pinheiros.

A Fundação Bradesco e a Associação de Recuperação Florestal do Médio Tietê (Flora Tietê) distribuíram mudas de árvores para os visitantes. A fundação mantém, em parceria com a SOS Mata Atlântica, viveiros para manejo de espécies nativas, nas cidades de Registro e Osasco. A produção pode chegar a 8 mil mudas.

A Flora Tietê é uma organização não-governamental, criada por consumidores de matéria prima florestal, ambientalistas e pessoas preocupadas com o problema da reposição florestal. Produz aproximadamente 5 milhões de mudas por ano, sendo metade delas de eucaliptos.

Muitas escolas apresentaram seus trabalhos de monitoramento da qualidade dos rios. Alunos exibiam as amostras de água, o kit de análise (distribuído pela SOS) e alguns brinquedos que criaram com o lixo retirado dos rios. O Colégio Ecos Urupés, por exemplo, tem 80 alunos e faz monitoramento na Represa Billings.

Todos os participantes levaram para o evento seus kits de análise e amostras de água de suas regiões. Depois da análise, foi realizada uma passeata no Parque do Ibirapuera reivindicando a despoluição do Tietê. Os gritos dos manifestantes eram por água potável e tratada em toda a extensão do rio.

Após a passeata, todos se dirigiram para uma grande tenda montada pela SOS, para apresentação dos resultados obtidos pelo Núcleo e pela Sabesp. A idéia é conscientizar a população de que todos precisam se esforçar para despoluir. “Como vamos melhorar a água se ficarmos discutindo se a culpa é do Estado, dos municípios ou das empresas?”, questionou Malu Ribeiro, coordenadora do Núcleo União Pró-Tietê.

Fábio Feldman, fundador da SOS Mata Atlântica, lembrou a importância do rio, destacando que 2003 é o ano internacional da água doce. “É importante pensar globalmente e agir localmente”, disse.

O Núcleo, por meio de um grupo gestor formado por ONGs, monitora também os cronogramas e os investimentos do Projeto Tietê, oferecendo informações à sociedade.

Menos poluição e mais peixes

O Projeto Tietê, considerado por organismos internacionais como o maior programa de saneamento ambiental da América Latina e um dos mais bem gerenciados de todo o mundo, começou em 1992, quando mais de um milhão de cidadãos, por meio de abaixo-assinado, pediram a despoluição do rio.

A primeira etapa contou com recursos de US$ 1,1 bilhão e foi concluída em 1998. O serviço de coleta de esgoto na região metropolitana foi de 70% para 80%, e o de tratamento, de 24% para 62%. Foram instalados 1,5 mil quilômetros de redes coletoras, 250 mil novas ligações domiciliares, 215 quilômetros de coletores-tronco e 37 km de interceptores.

De 1995 a 1998, a Sabesp inaugurou as Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) de São Miguel (capacidade para 1,5 mil litros por segundo), Parque Novo Mundo (2,5 mil litros por segundo) e ABC (3 mil litros por segundo). A Sabesp aumentou também a capacidade da ETE Barueri, que antes podia tratar 7 mil litros de esgoto por segundo e hoje pode receber 9,5 mil litros.

Mil e duzentas indústrias (cerca de 90% da carga poluidora industrial lançada no rio) aderiram ao projeto e deixaram de despejar resíduos e contaminantes nas águas do Tietê. Entre os resultados obtidos, estão a melhora sensível na qualidade da água em 120 quilômetros do rio e o surgimento de peixes nas cidades de Salto, Itu e Porto Feliz.

Esgoto tratado

Na segunda etapa, iniciada em 2002, os investimentos são da ordem de US$ 400 milhões, dos quais US$ 200 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e US$ 200 milhões da Sabesp, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Até 2005, serão entregues 1,2 mil quilômetros de redes coletoras, 107 quilômetros de coletores-tronco e 33 quilômetros de interceptores, além de mais 290 mil ligações domiciliares. Já foram feitos 12 dos 33 quilômetros de interceptores, 32 quilômetros de coletores-tronco e quase a metade das rede coletoras.

As tubulações se diferenciam por tamanho, localização e são instaladas para que, na maioria do tempo, o esgoto corra com ajuda da força da gravidade. As casas recebem tubulações com um diâmetro pequeno, que formam redes coletoras e unem-se aos coletores-troncos. Coletores são tubulações colocadas ao lado dos córregos para receber esgotos. Dos coletores-tronco, o esgoto vai para os interceptores (tubulações maiores ao lado dos rios), para ser encaminhado para uma ETE, onde é tratado e devolvido ao meio ambiente.

O objetivo das obras é conseguir utilização total das estações construídas na primeira fase, aumentando o índice de tratamento da região metropolitana de 80% para 84% e o de tratamento, de 62% para 70%. O resultado pode ser surpreendente: 300 milhões de litros de esgoto deixarão de ser despejados diretamente na Bacia do Alto Tietê.

O Emissário de Esgotos Pinheiros-Leopoldina, com 7,5 quilômetros de extensão, rendeu benefícios a mais de 2 milhões de pessoas. O empreendimento impediu que 84 toneladas de esgotos fossem lançadas diretamente no Rio Pinheiros, um dos principais afluentes do Tietê. Essa quantidade de esgoto equivale a retirar todo o dejeto produzido por uma cidade como Salvador.

De Salesópolis até Itapura

O Rio Tietê nasce em Salesópolis, na Serra do Mar, a 840 metros de altitude. Não consegue vencer os picos rochosos para correr para o mar, como faz a maioria dos rios, e acaba seguindo para o interior, cortando o Estado de leste a oeste.

Após passar pela Grande São Paulo, a região mais industrializada e populosa do Brasil, continua recebendo a poluição de rios como o Pinheiros e o Tamanduateí. Percorre 1,1 mil quilômetros até chegar em Itapura, município localizado na divisa com o Mato Grosso do Sul, e desembocar no Rio Paraná. Passa por 62 municípios e seis sub-bacias hidrográficas (Alto-Tietê, Sorocaba/Médio Tietê, Piracicaba/Capivari/Jundiaí, Tietê/Batalha, Tietê/Jacaré e Baixo Tietê).

O trecho mais problemático é o do Alto Tietê, onde está a cidade de São Paulo e mais outros 33 municípios da região metropolitana. Há aproximadamente 60 anos, ainda era possível nadar e pescar no rio.

Mudança de atitude

Cerca de 35% da poluição acumulada no Rio Tietê é gerada pelo lixo jogado na rua. São toneladas de sacolas plásticas, garrafas, latas e outros tipos de lixo abandonados. Em 2015, esse lixo deverá representar 65% da sujeira despejada na bacia. Estudos da Sabesp revelam que, daqui a 12 anos, a quantidade de sujeira alcançará 167 toneladas. Para ser considerado limpo, o volume não pode passar que 100 toneladas. Se a população não mudar seu comportamento, os esforços do poder público para a despoluição serão insuficientes.

Para reverter a situação, a Sabesp firmou parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica para a segunda etapa do Projeto Tietê. A Fundação deve elaborar um programa detalhado de educação e conscientização ambiental para atingir escolas, capacitando professores e oferecendo material didático. Outras ONGs também poderão participar do projeto.

A SOS Mata Atlântica desenvolveu, de 1995 a 1998, com financiamento da Sabesp, o projeto Observando o Tietê, em 55 municípios ribeirinhos. A Fundação incentivava estudantes e líderes comunitários a fazer verificação periódica da qualidade da água do rio.


0SERVIÇO

Fundação SOS Mata Atlântica – Núcleo União Pró-Tietê – Telefone: (11) 3055-7888. Site: www.sosmatatlantica.org.br

Núcleo de Atendimento do Projeto Tietê – Telefone: 0800-133499, de segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas, e aos sábados, das 9 às 12 horas.

Flora Tietê – Telefone: (18) 652-2948. Site: www.floratiete.com.br

Fundação Bradesco – Cidade de Deus – Vila Yara – Osasco – SP. Telefone: (11) 3684-3946. Site: www.fundacaobradesco.org.br

Federação de Favelados e Associações do Grande Estado de São Paulo –Telefone: (11) 3885-7473

Regina Amábile
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)