Especial do D.O.: Presos da Penitenciária de Itirapina I trocam trabalho por remição da pena

Mais de 40 condenados do regime semi-aberto trabalham no município de Rio Claro, na construção civil

ter, 23/12/2003 - 9h46 | Do Portal do Governo

Em Itirapina, na região central do Estado, existem duas penitenciárias. Na Penitenciária Dr. Antonio de Queiroz Filho, conhecida como Itirapina I, concentram-se mais de 460 presos no regime fechado e cerca de 220 no semi-aberto. Apesar de serem libertados, em média, cinco detentos por semana, continua acima da capacidade de sua operação.

Dez celas, construídas para serem individuais, têm quatro presidiários. As outras, também com capacidade para dez, alojam aproximadamente 16. São eles que cuidam da horta, estufas de hidroponia, lagos de piscicultura e da pocilga. Costuram bolas e seus próprios uniformes. Aproximadamente 20 presos trabalham na fábrica de blocos, que pode produzir até 4 mil unidades diariamente.

Mais de 40 condenados do regime semi-aberto trabalham no município de Rio Claro, na construção civil. As empresas oferecem transporte da penitenciária até o trabalho. “O serviço colabora para a remição da pena e o dinheirinho me ajuda a visitar minha família”, diz Sérgio Antonio de Faria, que dirige um trator carregando entulho na área de Itirapina I. Para estimular o trabalho, a penitenciária busca matéria-prima para a produção das oficinas internas e entrega os produtos.

Nove anos sem morte

A dificuldade é que o município, com cerca de 12 mil habitantes, não tem capacidade para empregar tanta gente. O diretor de Itirapina I, Júlio Procópio Filho, explica que um dos principais problemas é misturar sentenciados que têm de cumprir menos de dois anos de prisão com os condenados a penas de 80 anos.

Mesmo assim, comemora: menos de 20 celulares foram encontrados em todas as revistas e nunca houve uma rebelião. Está há quase nove anos sem registrar casos de morte e há quatro sem fugas ou tentativas.

Mais de 200 funcionários garantem o funcionamento da prisão. Inspeções periódicas são realizadas nos alojamentos. A distribuição dos detentos nas celas é coordenada pela diretoria a fim de impedir a formação de grupos e lideranças.

Celas adaptadas

Na pocilga, são criados centenas de porcos. Perto da época de Natal, quando é realizada uma grande festa na penitenciária, a produção aumenta. Os suínos abatidos fazem parte da alimentação dos presos e também são vendidos para os funcionários do presídio. “O trabalho é importante porque se reverte em nosso benefício: a cada três dias trabalhados, um dia de remição. Seria muito difícil ficar aqui sem ter o que fazer”, diz Getúlio Santos, que cuida dos porcos na pocilga e chegou a Itirapina há três meses. O dinheiro que ganha vai todo para a família, que ficou em São Paulo.

A área construída da penitenciária não é suficiente para a criação de maior número de oficinas. O diretor chegou a adaptar celas para abrigar os trabalhos de cartonagem e de costura de bolas. A solução foi aproveitar o espaço externo do presídio, principalmente a área verde.

“Para mim está bom. Estou respirando ar puro e ganhando um dinheirinho para visitar minha família”, comemora Anderson Alves dos Santos, que tem de cumprir mais de oito anos de pena e está trabalhando há duas semanas também na pocilga.

Verduras e legumes para todos

Uma grande horta foi plantada. Beterraba, cenoura e outros legumes são cuidados por 15 detentos. Além da horta, oito estufas e a hidroponia garantem toda verdura consumida na penitenciária.
A produção está aumentando tanto que parte dela está sendo destinada a creches, escolas e outros presídios, como o Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro.

Na hidroponia, um pé de alface demora de 40 a 45 dias para ficar pronto para o consumo. A manutenção é simples: a cada dois dias é adicionado suplemento nutritivo na água, que corre pelos canos, onde estão acomodados os pés de alface.

Outros cuidam dos tanques de piscicultura, com tilápias, pacus, carpas, corimbatás, tambaquis e outrass espécies. O diretor anima-se com a idéia de, no futuro, introduzir o peixe na dieta dos presos.

Funcionários também moram no local

Júlio Procópio Filho está há 27 anos na Administração Penitenciária. Trabalhou oito como diretor de disciplina antes de se tornar o diretor de Itirapina I. Para realizar sua tarefa, precisa morar com a família na área do presídio. “Estou cumprindo pena junto com os presos”, brinca Júlio, que garante que a mudança foi tão difícil quanto criar um filho em um presídio.

O diretor de produção Ivan Donizete Mariano, assim como outros funcionários, também vive com a família no presídio. Sua filha costuma ir até os tanques de piscicultura, nos finais de tarde, para alimentar as carpas. “Os funcionários cuidam daqui como se fosse deles”, comemora Júlio.

Regina Amábile
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)