Especial do D.O.: Plantas clonadas monitoram poluição no Parque do Ibirapuera

Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP com dois clones de plantas comprovou a eficácia dos vegetais

qui, 13/05/2004 - 9h19 | Do Portal do Governo

Utilizadas amplamente em países desenvolvidos para análise da qualidade do ar, da água e do solo por sofrer os efeitos dos poluentes atmosféricos, as plantas são pouco empregadas para monitorar a poluição no Brasil. Experimento de pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP com dois clones de plantas no Parque do Ibirapuera comprovou a eficácia desses vegetais, chamados de sentinelas, para medir a poluição de São Paulo.

“Os resultados mostraram haver grande concentração de poluentes na atmosfera do local apesar de toda a extensa área verde. A idéia de que a vegetação garante ar limpo e saudável não é verdadeira. As plantas não conseguem barrar a poluição”, observa a bióloga sanitarista Maria Izildinha Ferreira, autora do estudo, que deu origem à sua dissertação de mestrado.

Clone sensível à poluição – A bióloga explicou que utilizou dois clones do gênero Tradescantia – nome dado em homenagem a um jardineiro do rei Charles I da Inglaterra, John Tradescant, famoso por suas habilidades em cultivar plantas exóticas. Esses clones são extremamente sensíveis aos poluentes e, por isso, sofrem mutações genéticas mais rapidamente que as demais quando em contato com a poluição. A escolha deveu-se ainda ao fato de que as plantas desse tipo florescem o ano todo e se adaptaram ao nosso clima, de sol e luz abundantes.

Outra vantagem das clonadas é que elas são úteis para medir os baixos e os altos índices de poluentes. As demais captam apenas os valores elevados. A pesquisadora ressalta, porém, que o uso de bioindicadores, de plantas clonadas ou não, funcionam como complemento, e não substituem os aparelhos tradicionais. O experimento pode, ainda, ser aplicado em laboratórios escolares para demonstrar – com mais clareza que os procedimentos convencionais – processos de divisão celular como a mitose e a meiose.

Clone japonês e americano

Os exemplares de Tradescantia encontrados no Parque do Ibirapuera e em canteiros espalhados pela cidade não foram usados na experiência porque não têm pêlos estaminais, essenciais para observar as mutações. No caso dos clones, ao entrarem em contato com poluentes, deixam de fabricar o pigmento azul e os pêlos ficam transparentes.

Para analisar a poluição do ar no parque, entre setembro de 2002 e agosto de 2003, foram usadas 40 mudas do clone KU 20, criado pela Universidade de Kyoto, no Japão; e a mesma quantidade do clone americano BNL 4430, largamente utilizado e que, inclusive, monitorou Chernobyl.

Durante esse período, os clones sofreram mutações na coloração das pétalas – de azul, as flores ficaram rosa – relacionadas aos poluentes como monóxido de carbono, dióxido de enxofre e de nitrogênio e material particulado inalável. O tamanho das flores e o da planta diminuiu. Antes do teste, os clones mediam de 45 a 50 centímetros; depois, ficaram reduzidos a 20.

Ozônio não provoca alteração

Considerando valores de zero e 1, sendo zero o ideal e 1 a situação mais perigosa possível, foram encontrados índices de correlação poluente/mutação de 0,49 a 0,67, dependendo do clone e do poluente analisados. Esses dados foram semelhantes aos índices de poluição do ar fornecidos pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), que mantém uma estação de monitoramento no parque.

A pesquisa constatou que o ozônio foi o único poluente a não provocar mutação nos clones, mesmo estando no Parque do Ibirapuera, região de maior concentração deste gás na cidade. Foi observado, também, que o número de alterações nas plantas começa a aumentar no mês de abril e atinge seu pico em julho. Já em janeiro, fevereiro e março, os clones sofreram o menor número de mutações.

Claudeci Martins
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)