Especial do D.O.: Pinacoteca exibe a coleção completa de Albert Eckhout

Exposição mostra os trabalhos do pintor holandês que retratou as primeiras imagens do Brasil no século 17

ter, 14/01/2003 - 11h37 | Do Portal do Governo

A Pinacoteca do Estado de São Paulo, subordinada à Secretaria de Estado da Cultura, expõe a partir desta terça-feira, dia 14 a mais completa mostra do pintor holandês Albert Eckhout vista no País. Intitulada Albert Eckhout volta ao Brasil 1644 – 2002, a coleção composta de 24 quadros sai, pela primeira vez, da Dinamarca e chega ao Brasil, seu País de origem. Depois de 350 anos, as imagens fundadoras de nossa iconografia poderão ser contempladas até 30 de março.

O evento marca uma ocasião histórica e será uma oportunidade rara para o público conhecer as primeiras telas produzidas em terras brasileiras, na época chamadas de Novo Mundo. Elas representam as mais antigas pinturas conhecidas sobre a América do Sul e mostram o que os descobridores encontraram ao aportar aqui, em particular no Nordeste.

A exposição, patrocinada pelo Banco Real-Amro e agência de publicidade Mc Cann Eriksson, ocupará sete salas na Pinacoteca. Cinco delas receberão a obra de Eckhout. Uma será dedicada ao estudo, com mapas originais e publicações do período, da história da presença holandesa no Brasil e sua contribuição artística e cultural. E a outra ficará reservada à discussão das obras e o destino histórico delas.

Também haverá palestras abordando o tema “Brasil
Holandês’, programadas às quintas-feiras, às 19 horas. Nomes como Elly de Vries, Ana Beluzzo, José Roberto Teixeira Leite, Evaldo Cabral de Melo Neto, Leonardo Dantas Silva e Pedro Puntone são alguns dos palestrantes confirmados.

Memórias da Nova Holanda

Os quadros foram pintadas enquanto o artista estava contratado por Maurício de Nassau, governador geral do “Brasil Holandês” ou “Nova Holanda”, nomes pelos quais ficou conhecida a região Nordeste ocupada durante os anos de 1630 a 1654. Ao retornar à Europa, Nassau carregava na bagagem 26 telas de Eckhout feitas entre 1637 e 1644.

Das obras levadas ao exterior, 24 estão na exposição e duas se perderam: o retrato do pintor ‘entre os brasileiros’ e o quadro do governador em corpo inteiro e tamanho natural.

No mesmo ano de sua chegada à terra natal, em 1654, Nassau presenteia seu primo Frederico III, rei da Dinamarca, com a coleção, que desde então passou a pertencer ao Museu Nacional da Dinamarca. As pinturas a óleo de Eckhout estão entre os itens mais valiosos da instituição.

Ao ilustrar imagens de um mundo desconhecido, o artista deixa um legado que contribuiu para transmitir novas impressões e mudar a maneira como os europeus percebiam os povos de ascendência ignorada e origem exótica.

Documento histórico

Os registros feitos pelos pincéis de Eckhout guardam a memória da passagem da corte de Nassau pelo Novo Mundo e mostram como era a vida na colônia portuguesa parcialmente ocupada pelo povo batavo. É um retrato tal qual visto e vivenciado por ele nesses trópicos.

Há também preocupação etnográfica nos traços bem definidos do artista. Em seus quadros estão representadas as três raças: o negro, o índio e o mestiço, com o requinte de diferenciar o tapuia do tupinambá e o mameluco do mestiço.

As naturezas-mortas mostram cores e formas das frutas e legumes tropicais, e os retratos, em tamanho natural, apresentam índios tapuias e tupinambás, negros e mamelucos. Além do valor artístico, os críticos consideram o trabalho do pintor pelo caráter histórico e antropológico.

Algumas dessas imagens inaugurais de nosso País foram vistas em São Paulo (primeiro no Masp, em 1991, e por duas ocasiões na Fundação Bienal). Agora o importante legado, com todos os quadros que restaram do pintor, se instala em São Paulo depois de ter passado por Recife (Instituto Ricardo Brennand) e Brasília (Conjunto Cultural da Caixa).

Memórias de um viajante da corte de Nassau

As informações sobre a vida e obra de Albert Eckhout são muito esparsas e permanece misteriosa a produção que o artista teria realizado antes e depois de sua estada no Brasil. Segundo alguns historiadores, Eckhout aprendeu a pintar com um tio, chamado Gheert Roeleffs.

Sabe-se que nasceu em Groingen, em 1610, e faleceu na mesma cidade provavelmente em 1665. Depois de retornar à Europa, ainda serviu ao príncipe Maurício de Nassau até 1653, sendo transferido então para Dresden, na Alemanha.

Eckhout e seu colega mais conhecido, Frans Post chegaram a estas paragens, em 1637, a convite de Nassau durante a invasão holandesa. Encarregado de estudar e registrar os tipos humanos, a fauna e a flora, ele retratou a vida e a natureza da “Nova Holanda” com pinceladas perfeitas, riqueza de detalhes e olhos de cientista.

Post ficou incumbido das paisagens e cenas de batalhas. Seu trabalho é bem conhecido do público e disputado a altos preços no mercado de arte internacional. Eckhout, por sua vez, por algum tempo ficou confinado ao âmbito de poucos museus de história natural europeus.

Suas obras tornaram-se mais conhecidas apenas em 1938, quando Thomas Thomsen, diretor da Coleção Etnográfica, em Copenhagen, publicou importante trabalho sobre o artista. Desde então, historiadores, naturalistas e antropólogos brasileiros, holandeses e dinamarqueses têm demonstrado interesse crescente pelas pinturas.

Olhar atento e técnica inovadora

Além de inúmeros estudos de plantas e animais, assim como naturezas-mortas com frutas tropicais, Eckhout realiza durante a sua estada no Nordeste uma série de oito quadros de grandes dimensões (265 x 165 cm), que se tornam os mais valiosos grupos de imagens com tema do Novo Mundo.

Essas telas retratam personagens solitários ocupando exatamente o centro do espaço pictórico e parecem fitar, face a face, o espectador. Além da figura humana, estão ilustradas as roupas e os objetos de uso diário. A técnica e o estilo aplicados nas suas naturezas-mortas eram consideradas inovadoras para a época.

A crítica considera que sua obra lançou olhar agudo e direto sobre pessoas e cenários nacionais que depois seriam soterrados por séculos de santos, altares e igrejas barrocas, e não mais para o registro da vida terrena.

No fim do século 18 uma série de cartões do artista e de outros pintores foi transformada em tapeçarias pelas Oficinas Gobelins. O Masp possui cinco dessas tapeçarias da primeira série chamada Petites Indes.

Serviço
A Pinacoteca do Estado fica na Praça da Luz, 2 – Tel.: (11) 229-9844.
Aberta de terça a domingo, das 10 às 18 horas. Entrada franca.
e-mail: pinasp@uol.com.br
Visitas monitoradas para escolas por meio de agendamento pelos telefones (11) 227-1655/3313-4396
Exposição virtual: www.bancoreal.com.br – seção (“Veja em um Clique”)

Claudeci Martins
Da Agência Imprensa Oficial

A.M.