Especial do D.O.: Pesquisadores testam tecnologia para auxiliar na gestão ambiental urbana

Software do Projeto Negowat do Brasil abrirá discussão sobre a gestão ambiental de forma participativa

qui, 31/07/2003 - 9h52 | Do Portal do Governo

Pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola (IEA) testam nova tecnologia para facilitar a negociação de conflitos sobre água e ocupação do solo em áreas localizadas no entorno da cidade. Se aprovado, o software do Projeto Negowat do Brasil será usado para criar simulações, fazer diagnósticos e prever conseqüências que ajudem na compreensão do problema e na busca da solução mais apropriada para o uso dos recursos naturais.

“O Projeto abre discussão sobre a gestão ambiental de forma participativa. Também vai promover a reflexão e interação das pessoas comprometidas com a questão dos recursos hídricos. É possível fazer diagnósticos da realidade da área estudada para que todos entendam com clareza e encontrem a melhor solução”, informa a coordenadora do projeto, Yara Maria Chagas de Carvalho.

Ela afirma que não adianta proibir, multar ou impor restrições a quem estiver em situação irregular. Acredita que o melhor estratégia é a abordagem interativa com todos os envolvidos e o diálogo direto com a comunidade.

O projeto Negowat tem sido utilizado nos últimos dez anos na indústria, na robótica, no controle de tráfego aéreo em aeroportos e na análise do trânsito urbano. Desde o ano 2000 passou a ser aplicado em centros de pesquisa para gestão de recursos naturais.

Guarapiranga e Cabeceiras

O trabalho será desenvolvido com os integrantes do Comitê da Bacia do Alto Tietê, formado por representantes do Estado, de prefeituras e da sociedade civil. As sub-bacias Guarapiranga e Cabeceiras foram as escolhidas para a realização dos estudos em razão da sua importância para o sistema de abastecimento de água e pelo fato de o foco do projeto ser o atendimento urbano. Em seguida estão a questão agrícola e o turismo rural.

Recursos naturais

De acordo com Yara, dois fatores contribuíram para a busca de alternativas que ajudem a criar consenso sobre como utilizar os recursos naturais. O primeiro é que o crescente processo de urbanização – que vem se intensificando em todo o mundo – exige definição de como atender adequadamente a demanda de água, tanto em termos quantitativos como qualitativos, dessas áreas adensadas.

O outro, é a necessidade de fazer gestão integrada e em condições paritárias – como determina a Lei 9.433 de 1997 – com os representantes do poder público, Estados e municípios e a sociedade civil. Além da descentralização das decisões na questão hídrica, houve mudança de prioridade: antes era a energética, agora é o abastecimento urbano.

“Como a administração da água compromete vários municípios, cada um com necessidades e interesses diferentes, além de as características da população que ocupa as áreas de manancias serem bastantes distintas, as negociações não avançavam e havia predominância daqueles que detinham mais conhecimento”, justifica.

Nova tecnologia deve auxiliar no gerenciamento dos mananciais

Ao aplicar a nova tecnologia, os pesquisadores esperam capacitar os integrantes dos comitês para a tomada de decisões e assim melhorar o gerenciamento dos recursos. Eles precisam chegar a um acordo de como as águas subterrâneas e superficiais deverão ser distribuídas na diversidade de usos possíveis (agrícolas, industriais, urbanos, mineração, energéticos e outros).

“A idéia é que a nova ferramenta melhore o gerenciamento dos mananciais dos recursos hídricos e consiga enfrentar o processo de ocupações urbanas desordenadas, que prejudica a qualidade e a quantidade de água potável consumida pela população da região metropolitana de São Paulo. Outra expectativa é poder gerar informações para a definição de prioridades e formulação de políticas públicas”, comenta Yara.

O projeto é financiado pela Comissão Européia, por meio do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), da França, e tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Participam 40 pesquisadores e bolsistas do Instituto de Economia Agrária, Instituto de Agronomia de Campinas, Instituto de Pesca – vinculados à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) – , Universidade de São Paulo, Universidade de Campinas, Instituto Internacional de Ecologia e Instituto Polis. Projeto semelhante está sendo desenvolvido na Bolívia.

Claudeci Martins
Da Agência Imprensa Oficial