Especial do D.O.: Pesquisador cria língua eletrônica que avalia qualidade das bebidas

Aparelho patenteado será comercilalizado no ano que vem

qui, 27/11/2003 - 10h07 | Do Portal do Governo

As máquinas competem com o homem em diversas atividades: das câmeras de vídeo, que substituem o olhar dos vigias, aos supercomputadores, que enfrentam os campeões mundiais de xadrez. Agora, o paladar do ser humano começa a ser reproduzido pelos aparatos tecnológicos.

O pesquisador Antonio Riul Júnior, da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), campus de Presidente Prudente, teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para desenvolver a língua eletrônica. O dispositivo pode realizar as mesmas tarefas dos profissionais provadores (avaliação da pureza e qualidade de bebidas).

O aparelho ficou pronto depois de dois anos e meio de dedicação e estudos de Riul na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com a supervisão de Luiz Henrique Capparelli Mattoso. A língua eletrônica está patenteada e será comercializada a partir do segundo semestre do ano que vem.

Engloba unidades sensoriais formadas por filmes ultrafinos de polímeros condutores (materiais plásticos que conduzem eletricidade) e vários outros materiais como complexos de rutênio, metal do grupo da platina, e lipídios. Esses compostos são depositados sobre eletrodos (bases metálicas à base de ouro) conectados a um circuito elétrico.

Detecção biológica

De acordo com Riul, cada unidade sensorial responde de forma diferenciada aos componentes presentes num determinado líquido. “A associação das respostas provenientes de cada eletrodo estabelece uma ´impressão digital´ que identifica a substância analisada”, explica o pesquisador.

Segundo ele, a atividade desse mecanismo assemelha-se à da língua humana, que identifica o sabor global de uma bebida, relacionando as informações contidas em milhares de moléculas que compõem um sabor específico, como o do café. “A invenção agrupa a complexidade existente num líquido por sinal elétrico enviado a um programa de computador para a exibição dos resultados”, esclarece.

A distinção entre uma amostra e outra é feita por correlação estatística de dados (gráficos), na qual cada substância ocupa determinada posição. O pesquisador garante que sua invenção supera o paladar humano em precisão, caracterizando sabores num nível muito abaixo do limite de detecção biológica.

Destaque internacional

“Os testes confirmaram a identificação feita por degustadores profissionais. A invenção só se torna eficaz se houver banco de dados que permita comparar as características encontradas nos líquidos”, adverte Riul.

O aparelho foi testado para analisar variedades de vinho, tendo sido bem-sucedido ao diferenciar amostras por tipo de uva (como cabernet e cabernet sauvignon), ano da safra e por produtor. Ele assinala o grande potencial de utilizações industriais de seu invento no controle de qualidade de bebidas e em estações de tratamento de água, para analisar a qualidade do produto fornecido à população. Riul atualmente estuda novos materiais capazes de detectar a presença de substâncias contaminantes orgânicas e inorgânicas em líquidos. A criação do invento mereceu destaque internacional, sendo notícia na revista Nature.

Da Assessoria de Imprensa da Unesp
Da Agência Imprensa Oficial