Especial do D.O.: Parceria entre ONGs e Cravi amplia atendimento para vítimas de violência

Programa da Secretaria da Justiça oferece atendimento psicológico, jurídico e social gratuito

qui, 06/05/2004 - 9h16 | Do Portal do Governo

Inconformada com a perda de seu companheiro, Fátima (nome fictício) procurou auxílio no Centro de Referência e Apoio à Vítima (Cravi). Desempregado e vivendo de bicos, ele foi encontrado morto no interior do seu carro. Em razão de o assassino não ter deixado pistas e nem o motivo que o levaram ao crime, e a vítima não tinha inimigos declarados, o processo foi arquivado e o mistério não desvendado. A falta de informações sobre as circunstâncias da violência fatal levou alguns parentes da vítima a questionar a sua honestidade, e a filha do casal a não aceitar a morte do pai.

Um ano e meio depois da tragédia, Fátima e a menina continuam sendo atendidas pelo Cravi. Para cuidar de casos como esses que envolvem não só adultos, mas crianças e adolescentes, o centro renovou a parceria com a organização não-governamental Instituto Therapon, que oferecerá tratamento psicológico integrado a todas as vítimas de violência fatal ocorrida por homicídio e latrocínio (roubo seguido de morte) e por contribuir para romper o ciclo de violência, explica o coordenador geral do Cravi, Fabrício Toledo de Souza.

Parcerias

Programa da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, o Cravi oferece atendimento psicológico, jurídico e social gratuito aos familiares e às vítimas sobreviventes de violência fatal. Desde sua fundação, em julho de 1998, a equipe do centro de referência realizou mais de 5,5 mil atendimentos. O programa tem, também, as parcerias das secretarias Especial de Direitos Humanos e de Assistência e Desenvolvimento do Estado de São Paulo. Os demais casos de violência sexual, lesão corporal e agressões são encaminhados a uma rede formada por universidades, serviços públicos e ONGs que prestam o mesmo tipo de serviço oferecido pelo Cravi.

Em breve, o centro assinará convênio com a ONG Instituto São Paulo Contra a Violência para buscar explicação sobre a relação social entre vítima e assassino e a região onde ambos moram, afirma Souza. Pesquisas realizadas pela Pontifícia Universidade Católica constataram que os autores dos homicídios e as vítimas vivem no mesmo local. E a maioria dos crimes ocorre nas periferias das zonas sul, leste, norte, centro e oeste. “Por morar em áreas carentes de atuação do Estado e sem acesso a recursos públicos e serviços como saúde, educação e lazer, a violência é a forma que essas pessoas encontraram para resolver seus conflitos.”

Refazer a vida

A história de Fátima coincide com o perfil da maioria dos atendimentos que chegam ao Cravi: “Mais de 90% das vítimas de homicídios e latrocínios são homens jovens assassinados, na maioria (75%), com armas de fogo. Esses dados são confirmados pela Secretaria de Segurança Pública e pela prefeitura. O homem é a vítima direta, mas quem mais solicita apoio social e psicológico e assistência jurídica são as mulheres (80%). Isso ocorre porque elas se dispõem a buscar auxílio e têm níveis de dependência financeira e afetiva maior que o dos homens, que ficam receosos em procurar ajuda, pois quase sempre possuem renda superior à feminina”, identifica Souza.

Diferentemente da tendência comum a “esquecer”, “deixar de lado”, “apagar da memória”, como defesa imediata em razão da dor, medo ou descrença nas instituições públicas, Fátima procurou a instituição. Hoje, de acordo com a psicóloga que a acompanha no tratamento terapêutico, ela e sua filha superaram a perda e conseguiram refazer e reorganizar suas vidas.

Retrato da violência fatal

Souza adianta que o Cravi está organizando um banco de dados criterioso e detalhado dos atendimentos realizados, que será repassado à sociedade e ao Poder Público para colaborar na criação de políticas de prevenção e intervenção para diminuir a violência e ampliar a inclusão social.

“Já temos os dados básicos dos usuários do centro e as informações das vítimas. Sabemos qual é o perfil delas e temos noção de por que as mortes violentas ocorrem. Queremos esmiuçar a realidade vivida por todas as pessoas envolvidas para que o Poder Público tenha elementos para atuar na ruptura de códigos de violência e nos efeitos traumáticos provenientes da violência sofrida pelas vítimas e suas famílias.”, enfatiza Souza.

SERVIÇO
O Cravi fica na Rua Barra Funda, 1.032 (entre as estações Barra Funda e Marechal Deodoro do Metrô). Funciona de segunda a sexta-feira, das 9 às 19 horas. Telefones (11) 3666-7778 e 3666-7334

Claudeci Martins
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)