“O Paço das Artes é o mais importante espaço contemporâneo de São Paulo. Apóia a cultura com tecnologia, realiza publicações e recepção das obras. É consagrado para a participação de jovens artistas. O local é dinâmico pela diversidade de olhar que possibilita ao visitante”, afirma Jean-Christophe Royoux, curador que representa as obras francesas na Bienal de São Paulo. Ele já foi jurado e colaborador de filmes produzidos pelo espaço expositivo. Tem grande interesse em elementos brasileiros como mestiçagem, antropofagia e tropicalismo, tratados amplamente nessa galeria.
A diretora da instituição, Vitória Daniela Bousso, disse que nos últimos dois anos a importância do local ganhou expressivo reconhecimento de artistas nacionais e internacionais, que o definiram como “lugar da arte na contemporaneidade”. Daniela explica que pretende promover mostra do francês Fred Forester, participante da Bienal de São Paulo na década de 70, com trabalhos relacionados à ditadura brasileira, que interagiam arte e meios de comunicação, como rádio e Internet para denunciar a censura.
A galeria de artes é organizada em duas partes: uma para a apresentação de obras de integrantes da Temporada de Projetos 2003-2004 e outra, destinada às criações de convidados. A Temporada de Projetos é realizada desde 1996 e consiste na seleção de artistas amadores, jovens e consagrados, além de curadores para exporem seus trabalhos. “Os convidados são profissionais com produções importantes que fazem contato com o Paço e o solicitam para divulgação, ou aquelas que o nosso Conselho acha relevante mostrar”, explica a diretora.
Um dos escolhidos da Temporada é o paulista de Campinas, Thiago Bortolozzo. Em Rock Rampa, segundo o supervisor de monitoria Alex Rosato, o intuito não é relacionar o trabalho com a rampa de skate, embora seja muito semelhante. “O objetivo é criar diálogo entre a sua criação e a arquitetura do prédio.” Os 60 centímetros de altura da rampa foram montados a partir de compensado de madeira com dimensões variadas. Como característica da arte contemporânea, o público interage com a obra. Os visitantes podem subir na peça para ter uma visão mais ampla do local. A mostra vai até o dia 10.
Pintura versus fotografia
O Projeto Pintura versus fotografia, do curador Ricardo Ramalho, foi um dos selecionados para integrar a Temporada de Projetos 2003-2004. Reúne trabalhos de seis profissionais de diversos cantos do País e estará disponível para visitação até o dia 10.
Outro artista contemporâneo é Eduardo Srur, de São Paulo. Sua especialidade é pintura a óleo, numa seleção de cores: paisagens desérticas, nuvens chapadas e contêineres que flutuam no céu. O fotógrafo Daniel Lima, do Rio Grande do Norte, capta imagens a partir do recurso de luzes de raio laser, que assume a função de pincel, ou grafite. Luciana Costa, de São Paulo, utiliza a fotografia para representar ícones do mundo contemporâneo. A intenção é dar naturalidade a um objeto artificial.
O sul-africano William Kentridge, especialista em animação, é o convidado para compor a Sala Especial, com a exibição do vídeo Tide Table, de 8 minutos e 56 segundos. Fica no Paço das Artes até 12 de dezembro. A projeção em preto e branco é autobiográfica, como explica o supervisor Rosato. A partir de um personagem que lê jornal na beira da praia e recorda fatos da sua infância, Kentridge faz associações de suas férias quando criança e de lembranças das praias da África do Sul, onde existia a segregação racial. Hoje, a praia é um espaço público de banhistas, pescadores, grupos religiosos e rebanhos de vacas.
Kátia Maciel ganha reconhecimento internacional
Outros convidados para exposições individuais, até o dia 10, são a carioca Katia Maciel, a mineira Niura Bellavinha e o paraense Claudio Cretti. Em quatro salas, Kátia apresenta fluxos entre as experiências de cinema, vídeo e arte eletrônica, que integram a série Mantenha Distância.
Outra criação da carioca é o CD interativo One, None and Hundred (Um, Nenhum e Cem). Ao clicar o mouse do computador, o efeito é a projeção de imagens que surpreendem o visitante. Em Na Estrada, a participação do público, que pisa num dispositivo instalado no chão, resulta na modificação das cenas exibidas, que se tornam coloridas e ganham sons diferentes, sem nenhuma relação com a trama.
Um Pouco de Tudo
Esta exposição é motivo de estudo de parceria entre o Paço das Artes e a Galeria Room, na Inglaterra, que visa a difundir a arte brasileira em Londres. Katia seria a primeira a expor seus trabalhos nesta galeria, possivelmente em 2005. Translúcido, de Niura Bellavinha, transborda o espaço interno do edifício para a área verde circundante do Paço das Artes.
Em Céu Tombado, Claudio Cretti exibe peças de mármore polido, que convivem em sintonia com formatos rústicos. Escolheu trabalhar com a pedra bruta em contraste com a tratada, pois na sua opinião nenhum elemento é mais importante que o outro, assim como as relações natureza/cultura e arqueologia/estética. Onde Pedra Aflora foi desenvolvida em mármore e barro. “Mostra que esta relação é tão relevante como a da terra/água e do branco/preto”, destaca o supervisor.
A professora de arte do ensino fundamental, Marisa Pires Duarte, da Vila Madalena, zona oeste da cidade, conta que tem aulas de História da Arte Brasileira com Cretti, no Museu Brasileiro de Escultura (Mube), o que a motivou a conhecer a Galeria das Artes. Disse que o que mais a impressiona nas obras de seu professor é a suavidade e a pureza do branco do mármore e o contraste entre material polido e bruto. “Este local consegue reunir diversas linguagens como vídeo, desenho animado, plotagem, fotos de artistas da atualidade. Às vezes, vamos a uma exposição e só há pinturas ou só fotografias. Aqui não, tem um pouco de tudo.”
Fotografias em diferentes estilos
Eduardo Spitti Resende, 17 anos, mora em Sapopemba, na zona leste, e cursa o 3º ano do ensino médio. Procurava uma biblioteca na USP para saber da possibilidade de fazer pesquisas escolares, quando avistou o Paço e resolveu entrar para dar uma espiada. “Eu não conhecia este lugar. Por ser um espaço menor que o Masp e a Oca, chega a ser até mais aconchegante. As fotografias têm estilos diferentes”, conclui o garoto. O estudante lamentou a pouca divulgação da galeria de arte, o que impossibilita as pessoas de a conhecerem. Para ele, a falta de estímulo cultural leva o povo a optar somente pela televisão e rádio.
Inscrições para temporada de projetos terminam dia 5 de novembro
Até o dia 5 de novembro estarão abertas as inscrições para a Temporada de Projetos 2005-2006. Artistas jovens, consagrados e curadores podem participar de modalidades como pintura, gravura, desenho, objeto, escultura, fotografia, instalação, performance, intervenções e obras que criem interfaces com mídias eletrônicas e digitais. Serão selecionados trabalhos de 22 artistas. Onze deles vão expor em 2005, o restante, no ano seguinte. A exposição de duplas de artistas dura, em média, 30 dias.
O Paço oferecerá aos aprovados equipe de montagem, convite, folder e/ou catálogo (definido a critério da instituição), incluindo imagem, texto e divulgação. O edital e a ficha de inscrição estão no site www.pacodasartes.sp.gov.br. Outros esclarecimentos pelo telefone (11) 3814-4832, das 14 às 18 horas, de segunda a sexta-feira ou pelo e-mail pacodasartes@pacodasartes.sp.gov.br.
Galeria de obras multidisciplinares
Como o Paço das Artes não tem acervo, não pode ser chamado de museu e sim, espaço expositivo. Criado em 1970, é considerado galeria de obras multidisciplinares com ênfase nas artes visuais contemporâneas. Sua sede, inicialmente, era no Museu da Imagem e do Som (MIS). Há dez anos foi transferida para a Cidade Universitária.
Pertence à Secretaria de Estado da Cultura e foi projetado pelo arquiteto Jorge Wilheim. Abrigaria um grande centro cultural, com oficinas, teatro e cinema. Porém, a edificação não foi totalmente concluída. “O prédio precisa ser finalizado, pois corremos o risco de perder eventos para outras instituições culturais que se interessam pela programação e têm mais recursos”, argumenta Daniela. Ela informa que a Secretaria da Cultura pretende firmar parcerias com empresas privadas para possibilitar a construção de uma praça de alimentação no piso superior, três salas de cinema no inferior e a conclusão do jardim na entrada.
O coordenador do setor educativo, Saulo di Tarso, explica que em 2002 a galeria começou a desenvolver projeto-piloto para integrar professores e alunos da rede estadual e o público em atividades culturais relacionadas à programação do Paço.
No ano seguinte, a iniciativa ganhou impulso com o início do projeto Paço Educativo. Workshops, debates, oficinas, vivências e uma série de outras realizações integraram mais de 20 mil pessoas, entre crianças, jovens e adultos.
Faltam parcerias
“Diferente do enfoque de críticos de arte e curadores, a arte-educação que promovemos é destinada ao grande público, tanto leigo como profissional. Possibilitamos vivência dinâmica dos valores críticos da obra de arte contemporânea, e esclarecemos às dúvidas do espectador”, explica o coordenador.
No ano passado, o setor assumiu o ousado papel de incluir a criança no circuito cultural contemporâneo. Em 12 de outubro, Dia da Criança, a instituição promoveu o Paço Educativo, um dia inteiro dedicado ao público infantil com teatro, dança, artes visuais, fotografia e muito mais.
SERVIÇO
Escolas públicas e privadas que queiram programar visitas monitoradas devem agendá-las pelo telefone (11) 3814-4832, ramais 15 ou 21. Empresas ou pessoas físicas interessadas em colaborar com doações financeiras para o projeto Paço Educativo devem fazer contato pelo mesmo telefone.
E-mail: educativo@pacodasartes.sp.gov.br
O Paço das Artes fica na Av. Cidade Universitária, 1 – Cidade Universitária – USP
Funciona de terça a sexta-feira, das 11h30 às 18h30. Sábado e domingo, das 12h30 às 17h30. A entrada é franca
Viviane Gomes
Da Agência Imprensa Oficial
(AM)
