Especial do D.O.: Os três dias de fevereiro que colocaram o Brasil no mapa

Há 81 anos, o movimento modernista surgido em São Paulo condenava o academicismo presente na arte

sex, 14/02/2003 - 10h20 | Do Portal do Governo

Da Agência Imprensa Oficial


Oitenta e um anos depois, ninguém esquece os dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. Eles marcam o lançamento da Semana de Arte Moderna (SAM), o movimento cultural que iria sacudir o País. Era o ano do centenário da Independência, e os modernistas paulistas desejavam expor o que acreditavam ser uma nova arte nacional. Foram três noites de concerto, literatura, exposição e discursos inflamados recebidos com muitas vaias no Teatro Municipal de São Paulo.

A Semana de Arte Moderna não representou um universo de consideráveis modificações na arte brasileira, mas sim um grito de descontentamento que, por meio de longo processo, acabou-se disseminando em todos os campos da arte no País.

Participaram da Semana de 22 personalidades do mundo da cultura, entre elas Anita Malfati, Graça Aranha, o pintor Di Cavalcanti, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.

A arte de transformar

Os modernistas tinham como meta destruir, fazer escândalo, acordar o Brasil e retirá-lo da pasmaceira cultural da época. Mais do que isso, a SAM pretendia colocar a cultura brasileira ao lado das correntes de vanguarda do pensamento europeu, ao mesmo tempo em que pregava a tomada de consciência da realidade brasileira.

Jovens e idealistas, desejavam a transformação do mundo, o desenvolvimento da consciência americana e brasileira. Com isso, empunharam a criação de um espírito novo e exigiam a reverificação e a remodelação da inteligência nacional.

A realização do evento

As primeiras informações da realização de uma Semana de Arte foram veiculadas pelo jornal Correio Paulistano em 29 de janeiro de 1922. Na noite de 13 de fevereiro, o Teatro Municipal se abriu para uma conferência de Graça Aranha, intitulada A Emoção Estética na Arte Moderna, acompanhada da música de Ernani Braga e da poesia de Ronald de Carvalho.

O segundo espetáculo, em 15 de fevereiro, anunciou como grande atração a pianista Guiomar Novaes, que, apesar de enfrentar protestos, compareceu e se apresentou.

No dia 17, realizou-se o terceiro e último festival da SAM, com a apresentação de músicas de Villa-Lobos. Ele entrou no palco de casaca e… chinelos. Para alguns, uma atitude futurista. Para outros, algo inexplicável. E Villa-Lobos foi muito vaiado. Mais tarde, o maestro explicaria que não se tratava de futurismo e sim de um calo arruinado.

Marco do Modernismo

Organizada por artistas, jovens poetas, escritores e intelectuais, a SAM marcou não só o advento do Modernismo brasileiro, mas foi o ponto de encontro das várias tendências que vinham se firmando em São Paulo e no Rio de Janeiro desde a Primeira Guerra Mundial (1914-18).

Também foi um acontecimento que, com o passar do tempo, consolidou grupos e seus ideais, que passaram a dispor de espaço cativo em livros, revistas e manifestos. As idéias modernistas só seriam completamente aceitas depois de alguns anos, quando chegaram a outros Estados brasileiros. Em Minas Gerais, foi acolhida por artistas como Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Emílio Moura, Abgar Renault e João Alphonsus Guimarães.

No Rio Grande do Sul, Mário Quintana, Augusto Meyer, Pedro Vergara e Guilhermino César. E também no Nordeste, onde surtiu efeito nas obras de José Américo de Almeida, Jorge de Lima e outros.

Lúcia Alamino
Da Agência Imprensa Oficial