Especial do D.O.: Novo túnel do IPT permite prever efeito do vento sobre construções

Aparelho contribui, por exemplo, para aumentar a segurança das edificações e resolver problemas ambientais

sex, 14/05/2004 - 10h24 | Do Portal do Governo

O impacto dos ventos sobre um edifício ou torre e o deslocamento da fumaça de uma fábrica agora podem ser simulados, com precisão, por meio de um túnel de vento desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O aparelho contribui, por exemplo, para aumentar a segurança das edificações e resolver problemas ambientais.

Com 40 metros de comprimento e um ventilador de 3 metros de diâmetro em uma das extremidades, o túnel é feito de madeira com estruturas metálicas. Tem janelas de vidro para tornar algumas seções visíveis e, no seu interior, podem ser produzidas correntes de vento que chegam à velocidade de 90 quilômetros por hora.

O diretor do Centro de Metrologia de Fluidos do IPT, Marcos Tadeu Pereira, conta que existem menos de 15 túneis como este no mundo, e cada um tem sua particularidade. No Brasil, existiam outros, um deles no próprio instituto, mas em dimensões que não permitiam o ensaio de grandes estruturas. Era impossível, por exemplo, acomodar no seu interior um automóvel com motor 1.000 c.c. para testes com ar condicionado.

Testes

A característica mais interessante é que ele tem duas seções de testes, conforme explica Marcos. A primeira, a de testes atmosféricos, realiza ensaios utilizando modelos em escalas reduzidas. Permite o estudo dos efeitos de cargas de ventos sobre construções arquitetônicas; coberturas e estruturas de edifícios; torres de energia, telefonia e de alta-tensão; pontes; navios e plataformas marítimas para exploração de petróleo.

Outra aplicação é no controle da poluição industrial, automobilística ou resultante de queimadas na agricultura. Além disso, o túnel pode auxiliar na manutenção de estradas à beira-mar, que sofrem com a areia carregada pelo vento. A outra seção é de anemometria industrial, utilizada para estudo da aerodinâmica nos corpos. No caso da indústria de automóveis, pode-se observar o comportamento da potência do motor do veículo quando utilizado o ar condicionado sob insolação.

Investimento de um milhão de reais

Parceria entre o IPT, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, possibilitou a construção do túnel, que começou no final de 2001 e levou quase dois anos para ficar pronta. O investimento foi de um milhão de reais, dos quais R$ 700 mil foram custeados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o restante, pelo IPT. “Como tínhamos a experiência de ter feito um túnel menor, esse valor foi amortizado porque não tivemos de inventar nada. Apenas refizemos os cálculos do outro aparelho para esse maior”, lembra Marcos.

Indústrias terão acesso facilitado ao equipamento

Além dos preços dos ensaios que são inferiores ao do exterior, a vantagem desse túnel para a indústria está na sua disponibilidade, porque as agendas dos equipamentos estrangeiros estão sempre lotadas. Outro benefício é a economia de tempo e dinheiro, já que agora não será preciso mandar modelos e profissionais para fora do País realizar ensaios.

O meteorologista Amauri Pereira de Oliveira, do IAG-USP, destaca mais uma vantagem. Segundo ele, os cálculos matemáticos, feitos quando da construção de uma fábrica ou quando se decide aumentar sua produção são muito limitados. O motivo disso é que, pela falta de verificação física, o poder poluente de determinadas fontes precisa ser superestimado. “Com o túnel de vento vamos ter um diagnóstico mais realista”, diz, lembrando que isso diminuirá as restrições, além de proporcionar mais flexibilidade às indústrias.

Amauri destaca, também, que o equipamento brasileiro permite que as empresas façam revisões periódicas de seus ensaios, o que dificilmente conseguiam quando era preciso levar os modelos para serem testados em túneis fora do País.

“A inserção do novo equipamento no mercado deve ocorrer de forma lenta”, calcula o pesquisador Marcos. Como forma de suportar a concorrência de outros países, a tendência é o Brasil se unir a países do Mercosul. Por conta disso, há uma parceria com a Universidad de La Plata (da Argentina) e a Universidad de La Republica (do Uruguai). “Estamos agregando competências complementares aqui no Mercosul para disputar mercado com grupos além do Brasil”, afirma.

O primeiro estudo realizado com o novo túnel de vento do IPT foi o da cobertura do ginásio de esportes da cidade de Aparecida. O instituto já está negociando outros trabalhos. Além de aplicações ambientais (estudo do deslocamento de fumaças industriais e produtos radiativos), esse túnel pode ser utilizado para simulações mecânicas. O pesquisador do IPT dá o exemplo da Ponte Rio – Niterói. “Há cinco anos houve uma oscilação de 60 cm em razão de um vento de 120 km/h”. Em função desse quase acidente, ele recorda que foram feitos novos ensaios em túnel canadense, “e a ponte deve ter recebido modificações que garantem sua estabilidade mesmo com ventos fortes”.

Da Agência Imprensa Oficial