Especial do D.O.: Livro registra peixes desconhecidos da costa sudeste e sul do Brasil

Obra teve pesquisa realizada longe da costa, em águas profundas, inventaria as espécies

sáb, 15/03/2003 - 13h45 | Do Portal do Governo

Da Agência Imprensa Oficial


Pesquisadores do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo detectaram 185 espécies de peixes pequenos, alguns minúsculos, nos seis cruzeiros que fizeram pela costa brasileira. O resultado do trabalho está no livro Peixes da Zona Economicamente Exclusiva da Região Sudeste-Sul do Brasil, co-publicado pela Edusp e Imprensa Oficial do Estado.

Os professores José Lima de Figueiredo, Andressa Pinter dos Santos, Noriyoshi Yamaguti, Roberto Ávila Bernardes e Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski iniciaram as pesquisas em 1996, a bordo do navio Atlântico Sul, da Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Valor inédito

“O objetivo do trabalho foi fazer inventário das espécies que habitam a área da Zona Economicamente Exclusiva, conhecer a abundância dos tipos e como variam no espaço e no tempo”, ressalta Roberto Ávila Bernardes. A obra tem valor inédito. Nunca foi realizada pesquisa tão longe da costa, em águas brasileiras tão profundas.

“É um estudo superoriginal e único. Seu grande valor é que as informações estão sendo passadas por meio de registros, que nunca teve antes. O limite máximo era de até 200 metros de profundidade. Neste trabalho temos espécies encontradas a até 1,5 mil metros de profundidade. O livro mostra coisas ainda desconhecidas e futuramente vai ajudar quem trabalhar com algumas espécies e auxiliar na identificação dos peixes”, diz Roberto.

Seis cruzeiros

Os pesquisadores ficaram 220 dias no mar, cobrindo aproximadamente 15 mil milhas náuticas. A área abrangida pela pesquisa vai da região do Arroio Chuí ao Cabo de São Tomé. Inicialmente, foram realizados três cruzeiros e coletados peixes com equipamentos em profundidades de 100 m a 1,5 mil metros. O material recolhido foi armazenado para análise em laboratório.

As três viagens que se seguiram foram para locais selecionados. “Estávamos procurando espécies de profundidade e os cruzeiros tinham outro objetivo, desenvolvido em parceria com o Departamento de Pesca e Agricultura. Escolhemos áreas onde haviam sido detectadas anteriormente concentrações de peixes de fundo. Coletamos nesses locais, também incluídos na grande região Sudeste/Sul”, lembra Roberto.

Espécies mais encontradas

Os dois tipos mais abundantes encontrados nas três primeiras viagens, que englobou toda a área de estudo, foram Maurolicus stehmanni, correspondente a 25,2% da captura, e Trichiurus lepturus, 10,4%. As espécies estavam distribuídas ao longo da área de estudo, presentes em aproximadamente 50% dos lances efetuados.

Nos três cruzeiros seguintes, em que pesquisaram da costa de Santa Catarina até o Rio Grande do Sul, as mais abundantes foram Diaphus dumerilli, 27,8% e Lepidophanes guentheri, 19,3%. Para capturar
os peixes, utilizaram redes de meia-água, equipamento de pesca para espécies entre superfície e fundo.

O professor Roberto diz que são aquelas que vivem associadas e nadam na coluna da água. A rede possibilita a captura dos peixes que estão longe do fundo. “Tem algumas bóias que permitem que a rede flutue na profundidade que a gente deseja.”

Algumas qualidades encontradas são próprias para consumo humano. Mas a maioria tem importância ecológica porque serve de alimentos a peixes maiores como atuns, mecas e outros de fundo, como cherne, batata e namorado.

Além de parte integrante do livro, as espécies estão depositadas no Museu de Zoologia, do Museu Paulista, da USP, registradas e disponíveis para quem quiser estudar e trabalhar com peixes.

Parcerias

Para a realização do trabalho, houve participação de pesquisadores e instituições. Os estudos fazem parte do programa Revizee – Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos da Zona Economicamente Exclusiva. Tem apoio do Ministério do Meio Ambiente, Instituto Oceanográfico da USP, Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar, Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira das Regiões Sudeste e Sul do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

É financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio de bolsas de estudos, pelos ministério da Marinha e de Minas e Energia (que cederam combustível para as embarcações) e do Ibama (apoio logístico aos cruzeiros).

O Projeto Revizee, de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva, foi elaborado para suprir lacunas e garantir obtenção, sistematização e divulgação das informações necessárias ao reordenamento da pesca nacional e cumprimento das metas assumidas com a comunidade internacional.

SERVIÇO
O livro, ricamente ilustrado, apresenta fotos dos peixes, caracterização, dados biológicos, hábitat, quantidade encontrada, literatura para consulta a respeito do assunto e mapa indicando onde foi detectada a espécie. Tem 248 páginas e custa R$ 68,00. Está à venda pelo site www.imprensaoficial.com.br/livraria

Vera Lucia de Almeida

(AM)