Especial do D.O.: Jovens de colégio estadual mostram garra e talento em banda escolar

Ensaios são realizados somente aos domingos pela manhã

qui, 01/04/2004 - 11h17 | Do Portal do Governo

Quando a professora de educação artística Olga de Jesus Teixeira começou a dirigir a fanfarra da Escola Estadual Manuela Lacerda Vergueiro, em São João Clímaco, na Capital, em 1995, encontrou instrumentos musicais em mau estado. Cada vez que a turma se apresentava em alguma festa cívica no bairro, lá ia a mestra com fita crepe no bolso para consertar o trombone ou o tambor que podiam se quebrar.

Hoje, a fanfarra se transformou numa banda, com 35 componentes (quase todos alunos da escola), repertório amplo e já obteve bons resultados em concursos. E os instrumentos? “Ah!, atualmente são novos e foi uma longa batalha para conseguí-los”, lembra Olga Teixeira.

Ela recorda que há quatro anos reuniu a garotada e alguns professores e disse que estava difícil para continuar com a fanfarra, enquanto os meninos tivessem de tocar em instrumentos remendados. “Deu vontade de desistir”. Um ano depois, porém, num festival realizado no Sambódromo de São Paulo, com a presença do então governador Mário Covas, veio a solução para continuar.

Bilhete dá resultado

A assistente-técnica pedagógica Elisabete Gabri, que era a vice-diretora da escola na época, aproveitou a cerimônia do Sambódromo, e escreveu um bilhete solicitando verbas para comprar instrumentos musicais, e entregou a um assessor do governador. Minutos depois, com sua famosa voz rouca, Mário Covas perguntou aos presentes: “Quem escreveu isto?”. Elisabete lembra que no momento pensou que além de perder a fanfarra, a escola poderia ficar também sem a vice-diretora. Mas o pedido foi atendido.

Pouco tempo depois, Elisabete e Olga recebiam a notícia de que a escola teria a verba para comprar novos instrumentos. Em março de 2001, adquiriram 28, entre clarinete, saxofone (tenor, alto e soprano), trombone, trompete, teclado, baixo elétrico, violão e percussão. O governador, no entanto, não veria os garotos de São João Clímaco tocar seus novos instrumentos. Mário Covas faleceu alguns dias depois.

Olga reuniu os alunos interessados e começou a ensinar música para a formação da nova banda, com a presença de alguns que já tocavam na fanfarra. “Tínhamos pouco tempo, pois as aulas de música não podiam atrapalhar as disciplinas regulares.” Aprendiam os primeiros acordes e músicas aos sábados, domingos e feriados, conforme o tempo que encontravam para se reunir.

Primeiro lugar na capital

Com apenas duas músicas ensaiadas, a turma participou do Concurso de Bandas e Fanfarras do Protagonismo Juvenil, projeto da Secretaria da Educação. Ficou em primeiro lugar entre as da capital e em segundo no concurso. Uma escola de Itu levou o prêmio. “Mesmo assim, foi uma festa. Embora tenhamos participado com repertório restrito, de duas canções, o desempenho foi ótimo, pois os garotos estavam treinados e motivados”, afirma a professora Olga.
Atualmente, o repertório é maior e eclético. A garotada interpreta, entre outras, MPB, clássica, evangélica e canções estrangeiras.

Eles tocam Carinhoso (Pixinguinha), Gente Humilde (Chico Buarque e Garoto), Yesterday (Lennon & McCartney), Somente por amor (tema da novela O clone, da Rede Globo), Ave Maria de Gounod e a trilha sonora do filme Carruagens de Fogo, música muito executada em épocas de olimpíadas. O marido da professora, Ismael Augusto da Conceição, também auxilia a banda. Músico formado, ele toca baixo elétrico, violão e ajuda nos arranjos.

Ensaio, só aos domingos

A banda tem feito tanto sucesso que alguns alunos pedem para continuar tocando mesmo depois que terminam o terceiro ano do ensino médio. Olga explica que com a abertura das escolas estaduais à comunidade, nos fins de semana e feriados, é possível contar com esses estudantes. “Eles pertencem à comunidade local e merecem continuar.”

Os ensaios são realizados somente aos domingos pela manhã. Os alunos da comunidade de Heliópolis só têm tempo de tomar contato com os instrumentos nessas reuniões. No restante da semana, trombones, clarinetes e os demais ficam guardados na escola. Nas últimas férias, os garotos ficaram meses sem tocar. “Mas voltaram e ainda se lembram de quase todo o repertório. Mesmo com pouco contato, eles têm uma força de vontade fora do comum”, assegura a professora.

Para ver a banda passar

Rejane Maria Lima é professora de História na escola e apaixonou-se pela banda. Estudou com a colega Olga e com os demais alunos, sem nenhum conhecimento prévio de música. Hoje é saxofonista-soprano “Não sou professora para eles, apenas um integrante a mais.”

William Pelagi da Silva está na banda desde a época da fanfarra e dos instrumentos remendados. Concluiu o ensino médio no ano passado, mas continua firme tocando bumbo. “Música é prazer e alegria.”

Ariane Niege Rodrigues estuda o segundo ano do ensino médio e se sente maravilhada com o som do clarinete. “A música ajuda em todos os sentidos: na escola, na família, com os amigos…”

Eliel de Paula Fonseca pediu transferência para a Manuela Vergueiro por causa da banda. Enquanto sopra seu trompete, sonha ser músico profissional no futuro. “A banda modificou minha vida, tornou-me mais responsável.”

Otávio Nunes
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)