Especial do D.O.: Jovens carentes aprendem a construir seu futuro na Casa do Zezinho

ONG oferece complementação educacional de alto nível para jovens de 6 a 21 anos do Parque Santo Antônio

qui, 24/06/2004 - 9h33 | Do Portal do Governo

Os jovens de uma das regiões mais carentes em educação, cultura e renda da periferia de São Paulo descobrem que é possível compartilhar sonhos enquanto aprendem que a cidadania está ao seu alcance. Trabalhando para esse objetivo, a ONG Casa do Zezinho oferece complementação educacional de alto nível para jovens de 6 a 21 anos do Parque Santo Antônio, localizado entre os bairros Jardim São Luiz, Capão Redondo e Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. Condição para freqüentar a Casa: ser jovem carente.

Para assegurar o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes, o projeto oferece ainda complementação pedagógica, educação moral e ética, orientação em saúde, atendimento odontológico, convênios médico e hospitalar e oftalmológico, atendimento às famílias, alimentação básica e reeducação alimentar.

O Sol do Parque Santo Antônio, como é chamada carinhosamente na comunidade, a Casa do Zezinho procura oferecer basicamente aquilo com que os jovens mais sonham: uma perspectiva de futuro. Fundada em 6 de março de 1994, com uma área construída de 2,9 mil metros quadrados, atende hoje 1.050 crianças e adolescentes, freqüentadores de escolas públicas da região e moradores dos bairros vizinhos do Parque Santo Antônio (onde se concentra uma população de aproximadamente 1,2 milhão de habitantes). Em seus dez anos de atuação, a instituição já recebeu mais de seis mil jovens.

Auxílio pedagógico

A presidente e idealizadora do projeto, Dagmar Revieri Garroux, conhecida como Tia Dag, se diz suspeita para falar da Casa. “Vivo para os Zezinhos. Há dez anos, iniciei o projeto na minha própria casa, com apenas doze crianças. Hoje crescemos muito, e temos muito mais para crescer. Já tenho mais de 40 Zezinhos na faculdade, tenho Zezinho educador, Zezinho que abriu negócio, Zezinhos na Alemanha. Não é para ter orgulho deles?”, ressalta Tia Dag.

O início, ela conta, foram dias difíceis. No meio do projeto, algumas empresas privadas passaram a colaborar. Depois, com a criação das leis de incentivo à Cultura, as contribuições se multiplicaram.

Ao entrar na Casa do Zezinho, a criança é convidada a percorrer um caminho que abrange as sete cores do Arco-Íris. Desde a Sala das Violetas, que recebe os Zezinhos de 6 anos, até a Sala Coração, quando eles completam os 16 anos. Quem freqüenta a escola de manhã, vai direto para a entidade. Quem estuda à tarde, já vai para a escola mais disposto, depois de receber atenção, carinho, alimentação e orientação para o desenvolvimento de sua identidade, criatividade e capacidade produtiva.

Tia Dag explica que existem 190 escolas públicas, estaduais e municipais na região e que a maioria mantém convênio com a Casa do Zezinho. “Damos auxílio pedagógico e psicológico. Quando a escola percebe algum problema com o aluno, entra em contato conosco, pois temos um grupo muito bom de psicólogos”, diz a psicopedagoga.

Toda liberdade – O ponto central da pedagogia inovadora da Casa do Zezinho é o desenvolvimento da autonomia de pensamento, que utiliza uma metodologia constituída a partir de quatro pilares da educação: ser, conhecer, saber, fazer. O processo enfatiza a arte, linguagem que permeia todo o trabalho pedagógico desenvolvido pela entidade. “Educação e arte, esses são os objetivos. Com eles, buscamos criar expressão para esse povo”, ressalta Saulo Garroux, diretor da Casa.

É por meio da linguagem da arte que a Casa do Zezinho coloca nas mãos de meninos e meninas do projeto os instrumentos com os quais eles podem construir os alicerces de sua própria cidadania. “A gente desmistifica os limites. Procuramos mostrar a eles que são capazes de fazer tudo por meio da arte”, diz Tia Dag.

Na Casa, os Zezinhos têm toda liberdade. Entram e saem das salas, inclusive da diretoria, podem se movimentar à vontade. “Afinal, a casa é deles e para eles”, diz Tia Dag. Quando algum deles se exalta, ou assume um comportamento inadequado, ela o coloca sentado no jardim. Não se trata de um castigo: o jardim é um dos lugares da casa de que ela mais gosta. “Ali, qualquer um se tranqüiliza”, imagina.

As oficinas

A programação pedagógica se baseia em diferentes temas a cada semestre, desenvolvidos por meio de 17 oficinas. Entre elas: Oficinas Culturais (Artes Plásticas, Artesanato, Mosaico, Dança, Música, Teatro e Vídeo), Oficinas de Capacitação Profissional (Estúdio de Som, Informática, Padaria, Cabeleireiro, Moda e Comportamento, Reciclagem de Papel e Projeto Faz Tudo – Construindo com Arte), Projeto Movimento (natação, capoeira, atletismo, futebol, vôlei e basquete), além das aulas de inglês e oficinas eventuais.

Cada oficina tem duração de dois meses e carga horária de 60 horas. Se quiser, o jovem pode passar por todas elas. “E se quiser continuar numa determinada oficina porque se identificou com ela, também pode”, explica Tia Dag.

Os Ateliês Livres atendem também os adolescentes de 16 a 21 anos, que não têm mais disponibilidade para comparecer diariamente na Casa. Entre essas atividades estão: capoeira, inglês, mosaico, vôlei, handebol, cabelereiro, padaria, percussão, reciclagem de papel, teatro, vídeo, webdesign.

Além dos mais de mil jovens que já freqüentam a Casa, há cerca de 2 mil na fila de espera para uma vaga na instituição. Enquanto aguardam, a Casa oferece a eles atividades semanais como opção.

Pão e música – Desde abril de 2002, os Zezinhos passaram a receber também aulas com os professores do Projeto Guri, proposta da Secretaria da Cultura que oferece iniciação musical. Os alunos se dividem em três turmas: iniciantes, intermediários e avançados. São aulas de violino, viola, violoncelo, baixo acústico, violão, cavaquinho, percussão, saxofone, clarinete, flauta, trompete, trombone e canto coral para crianças e adolescentes que nunca tiveram contato com a música erudita.

“Às segundas e quartas-feiras, que são os dias do Projeto Guri aqui na Casa, o clima fica ainda melhor. A música faz o ambiente ficar mais movimentado e alegre. Já fizemos apresentação até no Memorial da América Latina”, fala o Zezinho, André Mendes Arnoldi, de 15 anos, há seis na instituição.

Outro projeto é a Oficina de Panificação. Na periferia o pãozinho francês é sagrado por ser barato. Quando o Zezinho aprende outras receitas de pão, ele se torna mais exigente e passa a utilizar todas as possibilidades de conhecer e se aperfeiçoar.

Criar e fazer um pão, uma nova receita, é como realizar uma obra de arte, desperta no Zezinho uma curiosidade que o torna mais criativo. “Eles aprendem tudo, desde como fazer diferentes pães, até como debulhar o milho para preparar uma nova receita”, brinca a orientadora da cozinha, Tereza Santana dos Santos, cercada por um grupo de Zezinhos, todos empenhados na tarefa de produzir os pães.

Geração de renda

O Projeto Fim de Semana, tem mostrado o mundo para os Zezinhos e suas famílias por meio da diversidade cultural: shows, peças de teatro, filmes, visitas monitoradas.

A programação de cinema traz filmes em cartaz. As crianças aparecem com bala, chiclete, pipoca, refrigerante. Parece que estão num cinema no shopping.

O Grupo de Mães da Casa do Zezinho, com origem dentro das atividades do Projeto Fim de Semana com Arte, se reúne em oficinas (bordado, pintura em tecido, tapeçaria, costura, papel machê e informática) para aprender novas técnicas de artesanato e desenvolver produtos que possam gerar renda para as famílias do grupo.

O Fundo Social de Solidariedade, presidido por Lu Alckmin, é parceiro na Oficina de Artesanato, oferecendo cursos para as mães, visando à geração de renda. Além disso, fornece equipamentos, como máquinas de costura. Essa oficina permite que as mães dos Zezinhos tenham um momento de lazer com os filhos enquanto confeccionam os produtos.

Virado Paulista

Os Zezinhos estão expondo alguns dos seus trabalhos no mezanino da estação Brás da CPTM. A mostra Virado Paulista trata da inclusão e da exclusão. Como o menino que vem da multicultura, filho ou neto de migrantes de várias regiões do Brasil e vive na periferia paulista, se sente.

Virado Paulista procura identificar quais as necessidades para o Zezinho se tornar um cidadão paulista, ou seja, uma pessoa que pertence a esta cidade. “Eles ficaram muito tempo escondidos em guetos, não conhecem a cidade e as leis para aceitá-las”, diz o diretor da Casa, Saulo Garroux.

A exposição se divide em sete cenários contêineres de 3,20 metros de comprimento, por 2,20 metros de altura, que representam barracos. Os temas discutidos são meio ambiente, habitação, família, educação, trabalho, violência e saúde.

“A montagem e criação da exposição foi muito dura, mas eles tiveram coragem de mostrar o que pensam e o que sentem”, ressalta Tia Dag. “Já estamos preparando uma nova exposição, o Circo Brasil, para agosto”.

Segundo Saulo, colocar a explosição Virado Paulista nas estações é uma estratégia de usar o espaço público para mostrar a cidade. “O usuário do trem também é da periferia. Ele se identifica com a exposição e muitas vezes traz seus filhos para mostrar um pouco mais de sua identidade”.

SERVIÇO:

Cooperativa Educacional e Assistencial Casa do Zezinho
Rua Anália Dolácio Albino, 30 / 77 – Parque Maria Helena – São Paulo.
Tel / Fax: (0xx11) 5819-4481 / 5511-2583 / 5511-3760
www.casadozezinho.org.br
info@casadozezinho.org.br

Andréa Barros
Da Agência Imprensa Oficial