Especial do D.O.: IPT lança programa e livro sobre construção de imóveis em encostas

Projeto é desenvolvido no âmbito do Programa Habitare

ter, 15/04/2003 - 10h23 | Do Portal do Governo

Da Agência Imprensa Oficial e Assessoria de Imprensa do IPT


A ocupação irregular e sem critérios técnicos das regiões de encosta tem gerado tragédias de grandes proporções, principalmente em períodos de chuvas intensas. Com o intuito de prevenir situações deste tipo, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), órgão vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo, vem desenvolvendo projeto para orientar a concepção de tipologias urbanísticas e de habitações de interesse social em encostas.

O projeto é desenvolvido no âmbito do Programa Habitare, instituído pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a agência de fomento do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). ‘Tem um caráter essencialmente preventivo’, define o arquiteto Flávio Farah, do IPT, que coordenou a pesquisa.

Segundo ele, o estudo concluído em 2002 reúne as experiências do instituto no acompanhamento e tratamento de regiões de encostas habitadas que sofreram algum tipo de acidente. Farah ressalta que a ocupação inadequada de encostas no Brasil é um problema histórico que se verifica desde a época colonial. ‘Na Europa da Idade Média era tradição construir, e com segurança, cidades em regiões altas, pela importância estratégica dos morros. A partir da Revolução Industrial, perdeu-se essa tradição.

População de baixa renda

Hoje, no Brasil, as encostas são ocupadas, principalmente, pela população de baixa renda, sem apoio técnico e em larga escala’, conta.

Na cidade de São Paulo restam poucas áreas em morros disponíveis. ‘Na região metropolitana da cidade ainda existem grandes faixas de terras com essas características que certamente serão ocupadas. Em situações desse tipo, o projeto do IPT pode oferecer ao poder público subsídios para ocupações mais seguras’, diz.

Além dos danos causados aos habitantes, os acidentes em encostas causam diversos prejuízos ambientais contribuindo, por exemplo, no assoreamento de rios e córregos. Mas o problema não é detectado somente em áreas ocupadas de forma irregular.

Farah conta que na construção de um conjunto habitacional, gerenciado pela administração pública numa área acidentada da zona leste de São Paulo, foram movimentados cerca de 5 milhões de metros cúbicos de terra. ‘Isso equivale à quarta parte da movimentação de terra que foi necessária à construção da usina de Itaipu’, calcula.

Importância da adaptação

Na opinião do arquiteto, um dos grandes problemas no Brasil é que persiste, no senso comum, a cultura do ‘mundo plano’. ‘Diante de um terreno acidentado são feitos movimentos de terra na tentativa de deixá-lo plano. O ideal, como prevê nosso projeto, é que o urbanismo e as construções se adaptem à encosta’.

O estudo também aborda aspectos legais, propondo leis específicas e incluindo como obrigatórios estudos prévios de características geotécnicas.

O IPT tem assessorado diversos municípios em questões relativas à ocupação de morros. Contudo, Farah lembra que, com as mudanças de administrações, projetos desse tipo acabam sendo engavetados. ‘Tudo acaba dependendo de situações políticas’, lamenta.

O IPT vem mantendo contatos junto à Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) e com cidades do interior paulista para aplicação do projeto, cuja equipe é composta por engenheiros, geólogos e arquitetos.

A pesquisa resultou ainda no livro Habitação em encostas, escrito por Farah e publicado pelo IPT em conjunto com a Caixa Econômica Federal, a Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), por intermédio do Programa Habitare.

(AM)