Especial do D.O.: Ipem promove inclusão social de deficientes por meio do emprego

Parceria com a Avape resolveu problema da necessidade de mão-de-obra urgente, para realização de trabalhos de digitação

ter, 19/10/2004 - 9h16 | Do Portal do Governo

A parceria do Ipem (órgão vinculado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania) com a Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais (Avape), realizada desde 1997, foi a alternativa encontrada pelo serviço de seleção e recursos humanos da instituição para contratar portadores de necessidades especiais, amparado na lei federal que dispensa concurso público. O convênio resolveu o problema da necessidade de mão-de-obra urgente, para a realização de trabalhos de digitação.

Antes da chegada dos primeiros profissionais – oito digitadores e duas telefonistas – houve um processo de preparação com os demais funcionários, para evitar excesso de paternalismo. Os novos colegas deveriam ser tratados normalmente, possibilitando ao deficiente ser valorizado, sem depender de outros. Hoje, somam 54. Desse modo, portadores de necessidades mentais leves, físicas, auditivas, visuais e múltiplas tornaram-se produtivos e tiveram sua cidadania resgatada.

O Ipem não tem vínculo empregatício com esses trabalhadores. Quem se encarrega do treinamento, admissão e promoção é a Avape, instituição sem fins lucrativos, fundada há 14 anos. Por meio de reabilitação clínica, social e profissional, realiza 1,8 milhões de atendimentos por ano, sendo 80% gratuitos. Considerada entidade modelo, a Avape inseriu no mercado de trabalho mais de 5 mil pessoas.

Inclusão total – De acordo com a supervisora de seleção e desenvolvimento do instituto, Maria Augusta Matos Pires de Souza, o relacionamento dos outros funcionários com os portadores de deficiência é bem profissional. “São tratados como funcionários comuns. Se chegam atrasados, têm as horas descontadas. Assim, se sentem valorizados e capazes. A tendência é que se superem cada dia mais.” A telefonista Ana Lúcia Ribeiro de Abreu, 36 anos e há 7 no Ipem , nasceu com má-formação nos membros inferiores. Quando criança, não andava, só engatinhava. Depois de 13 cirurgias pode se locomover com aparelhos.

“Fui uma das primeiras funcionárias da Avape a ser admitida. Na entrevista, fiz muitas perguntas sobre o Ipem. Um dos chefes sugeriu que eu trabalhasse como telefonista. Me dei bem na função e estou no cargo até hoje.” Satisfeita, Ana afirma que deficiência não é problema. “As pessoas dizem que até se esquecem que tenho dificuldades.” Moradora no Bosque da Saúde, utiliza três conduções para chegar à empresa. “Fiz amizade com os motoristas e eles me deixam na porta. Até param fora do ponto para eu entrar no ônibus.” Ana Lúcia completou o magistério e pretende escolher um curso superior na área de Exatas.

Lição de vida – Antônio Carlos de Castro supervisiona cinco funcionárias da Avape no período da manhã e três à tarde. Elas digitam documentos de estabelecimentos fiscalizados pelo Ipem. “As meninas se empenham até mais que as outras. A produção delas, às vezes, ultrapassa os limites esperados.” Mais do que um chefe, Antônio Carlos tornou-se amigo de suas funcionárias e as vê como lição de vida. “Quando penso em reclamar de alguma coisa, olho e observo o esforço que fazem sem se queixarem.”

Todas as manhãs, Yeda Fernandes de Lima, 50 anos, residente em Santo Amaro, é a primeira a chegar no setor, por volta das 6h30. Há sete anos no instituto, toma quatro conduções por dia e não falta ao serviço. Ela contraiu poliomielite no primeiro ano de vida, quando viajava com a família (de ônibus) do Rio Grande do Norte para São Paulo. A doença afetou os movimentos de uma de suas pernas, por isso usa aparelho ortopédico. “A deficiência dificulta um pouco, mas sou completamente independente. Faço todo o serviço de casa, até melhor do que muita gente que anda normalmente. Além disso, nos finais de semana ajudo uma vizinha a fazer doces e salgados.”

Yeda cursou o ginásio, mas não teve condições de continuar os estudos. Solteira, começou a trabalhar com 14 anos como datilógrafa. Depois foi telefonista e agora é auxiliar de escritório. “O Ipem é uma das empresas que trata o deficiente como qualquer outro funcionário, sem preconceitos. Lá fora nem sempre é assim. Sou feliz aqui porque faço o que gosto e, quando estou de férias, não vejo a hora de voltar”.

Apoio é fundamental – Rodrigo Sabro Estevam Saruta, 29 anos, nasceu com deficiência auditiva. Autodidata, monta bancos de dados e trabalha no Ipem há 2 anos como programador. Faz faculdade de ciências da computação e dá aula de linguagem de sinais. Falando com dificuldade ou gesticulando, conta que gosta muito de trabalhar na assessoria técnica de divulgação e publicação da empresa porque tem liberdade para criar e inovar. O rapaz vai além da sua função de programador. “Aqui, posso me comunicar com as pessoas. Na faculdade, tenho problemas por não ter intérprete.”

Na mesa ao lado, o designer gráfico Antonio Carlos Vergílio acredita que a contribuição do Rodrigo é essencial para a equipe de comunicação da empresa. “No começo, falava pouco, agora, além dos gestos que nos ensinou, entendemos quando ele diz alguma coisa, pois sua deficiência de comunicação é perfeitamente superável.” A supervisora Gilda Maria Alves dos Santos preocupa-se quando Rodrigo não participa da conversa. “Fazemos questão de que ele esteja incluído em tudo que acontece na seção.”

Marcia Bitencourt
Da Agência Imprensa Oficial