Especial do D.O.: Instituto Butantan desenvolve vacina anti-rábica que reduz efeitos colaterais

Produto está sendo testado por pesquisadores da Unesp e da Unoeste

sex, 12/03/2004 - 12h21 | Do Portal do Governo

Uma vacina anti-rábica desenvolvida pelo Instituto Butantan (IB), em São Paulo, tem-se mostrado alternativa eficaz à tradicional vacina contra a raiva, elaborada em tecido nervoso do cérebro de camundongos. A nova fórmula poderá ser empregada em cães, gatos e bovinos.

O produto está sendo testado por pesquisadores do curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araçatuba, e da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), em Presidente Prudente.

Sua principal diferença é o método de produção por cultivo celular que, de acordo com os cientistas, além de evitar sacrifício de animais, permite a obtenção de um produto mais puro e capaz de induzir maior produção de anticorpos.

As células são cultivadas num ambiente rico em nutrientes, próprio para o crescimento. Ao contrário de outros microrganismos, os vírus precisam de uma unidade celular para se desenvolver.

“Desse modo, quando estão se reproduzindo, é colocado o vírus rábico para que ele também se multiplique. No cultivo, são utilizadas células provenientes de animais ou vegetais e, na nova vacina, usamos as BHK21 (células renais de hamster)”, explicou a chefe da Seção de Raiva do Instituto Butantan, Neuza Frazatti Gallina.

Produto mais purificado

Produzida em cultura de células BHK21, a vacina é purificada e liofilizada (passa por processo de secagem e de eliminação de substâncias voláteis em temperatura baixa e sob pressão). A inovação contém albumina eqüina, que dá maior estabilidade ao produto e auxilia na produção de anticorpos pelo sistema imunológico, além de diminuir os efeitos colaterais.

A albumina eqüina empregada é proveniente das sobras dos plasmas hiperimunes de cavalo, utilizados na produção de soros no IB. “Por conta disso, trata-se de uma vacina mais barata, que poderá ser comprada e utilizada pelo governo em campanhas contra a raiva”, ressaltou a pesquisadora.

Impureza

Na produção da vacina contra raiva aplicada atualmente, o vírus rábico é injetado no cérebro de camundongos lactentes para que ele se multiplique. Posteriormente, o cérebro desses animais é retirado com essa massa que contém tecido cerebral e vírus rábico para que o produto seja preparado. “Esse tipo de vacina é impuro, pois apresenta restos de tecido cerebral. É um produto ultrapassado, em razão da possibilidade de apresentar efeitos colaterais, como problemas neurológicos, além de induzir menor produção de anticorpos ”, explica Neuza.

Menos sacrifício

Além de não precisar sacrificar um número elevado de camundongos, é um produto mais purificado e seguro para os animais por não provocar efeitos colaterais. E por ser produzida em células, contém quantidade maior de vírus, induzindo a uma resposta mais elevada e duradoura.

De acordo com Neuza, a previsão é que até o final do ano os testes de campo em bovinos sejam concluídos na Unoeste, em Presidente Prudente. Após essa etapa, será solicitado registro no Ministério da Agricultura e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Thiago Romero – Da Agência Fapesp
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)