Especial do D.O.: Imprensa Oficial lança a Caixa Modernista

Lançamento ocorreu no dia 22 na Pinacoteca do Estado

qua, 26/11/2003 - 11h33 | Do Portal do Governo

“A massa, meu caro, há de chegar ao biscoito fino que eu fabrico”, disse um dia Oswald de Andrade. A frase aparece numa carta do escritor publicada no primeiro número da revista modernista Ritmo, de 1935, mas tornou-se conhecida na seguinte versão: “A massa ainda comerá do biscoito fino que fabrico”.

Quase setenta anos depois, um pacote contendo desses finos biscoitos, na verdade obras raras do modernismo, chega agora às “massas” (como diria Oswald). Denominado Caixa Modernista, esse pacote, no formato 30×38 cm, traz réplicas fiéis de preciosidades não só de Oswald, mas de Mário de Andrade, Tarsila do Amaral e outras personalidades do modernismo brasileiro. Organizada pelo professor de Literatura da USP, Jorge Schwartz, a Caixa tem projeto gráfico do artista Cesar Hirata.

São 38 itens ao todo, entre os quais fac-símiles da primeira edição dos livros Paulicéia Desvairada (de Mário de Andrade) e Pau Brasil (de Oswald de Andrade); o programa do segundo dia da Semana de Arte Moderna, ocorrido em 15 de fevereiro de 1922; e o primeiro número da Revista de Antropofagia, de maio de 1928, incluindo o Manifesto Antropófago.

Outro pitéu da Caixa é o CD Música em Torno do Modernismo, produzido por José Miguel Wisnik e Cacá Machado, com temas de Lamartine Babo, Ernesto Nazareth, Heitor Villa-Lobos, entre outros.

Há composições nunca gravadas ou gravadas anteriormente só em 78 rotações. Nesse pacote estão também cartões reproduzindo obras de artistas plásticos (como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Lasar Segal), capas de livros (por exemplo, de Cobra Norato, de Raul Bopp, e Jogos Pueris, de Ronald de Carvalho) e fotos da época modernista (como o cartaz do filme São Paulo, a Symphonia da Metrópole, de 1929).

Formato Original

De acordo com Jorge Schwartz, a Caixa é uma espécie de museu portátil, contendo obras-primas das mais variadas áreas do modernismo brasileiro, para representá-lo em sua pluralidade. O lançamento ocorreu dia 22 na Pinacoteca do Estado, em São Paulo.

Para a publicação da Caixa, uniram-se Imprensa Oficial do Estado, Editora da USP (Edusp) e Editora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Esse museu portátil, à venda em todas as livrarias, incluindo Edusp e Editora UFMG, custará R$ 150,00. A comercialização pela Imprensa Oficial é pelo 0800-123401 (Serviço de Atendimento ao Cliente) e pelo site www.imprensaoficial.com.br/livraria.

A Caixa permite ao grande público ter acesso, pela primeira vez, a elementos até então inacessíveis, como a edições idênticas ao original, explica o professor Schwartz, da pós-graduação da USP. O livro Pau Brasil, segundo ele, é conhecido, mas não a primeira edição, feita na França em 1925. Paulicéia Desvairada, de 1922, também é conhecido, mas não no formato original. “Finalmente, as pessoas vão poder folhear, e não apenas ver imagens reproduzidas, como até agora”, afirma.

Parceria Permanente

A Caixa é multidisciplinar, apresentando principalmente elementos de artes plásticas e literatura, além de arquitetura, cinema, fotografia e outros. O público-alvo, segundo Schwartz, é bastante amplo. Abrange, entre outros, estudantes de Literatura, Artes Plásticas, História, mas a intenção é também atingir bibliotecas do País e interessados em cultura brasileira.

No lançamento da Caixa Modernista, o diretor-presidente da Imprensa Oficial do Estado, Hubert Alquéres, disse que resgatar a história do País combina bem com a Imprensa Oficial. “A empresa é capaz de juntar o antigo, a tradição, com o moderno. E isso se faz presente nas publicações. Guarda, há 112 anos, a memória da administração pública estadual e procura também preservar e resgatar a memória e a cultura de São Paulo e do Brasil”.

O bibliófilo José Mindlin, presente ao lançamento, propôs uma parceria permanente, como a criada para a produção da Caixa, acrescentando-se eventualmente outras editoras universitárias. O objetivo seria produzir algo parecido com a Caixa Modernista, registrando os destaques artísticos, literários que surgiram entre a Semana de 22 e os dias atuais, bem como os que surgirem daqui para a frente: “Tenho a impressão que essa é uma tarefa que só uma parceria como essa pode realizar com eficiência. Acho que seria uma contribuição para o registro da cultura brasileira.”

“Box-art”

A história da Caixa Modernista começou há três anos, com a exposição Da Antropofagia a Brasília, sobre a produção cultural brasileira dos anos 20 ao 50, organizada pelo professor Schwartz na Espanha. Essa mesma exposição foi reeditada na Faap, em São Paulo, no ano passado. Na ocasião, surgiu a idéia de colocar à disposição do público originais de obras até então desconhecidos. A reunião de diversos elementos em caixas baseia-se nas box-art, do americano Joseph Cornell, e nas boîtes-en-valise, do francês Marcel Duchamp. A caixa não é uma mera embalagem, mas um objeto gráfico-editorial concebido para criar para unificar o projeto.

Paulo Henrique Andrade
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)