Especial do D.O.: Hospital Universitário da USP promove ensino, pesquisa e atendimento à população

Instituição realiza, por mês, 280 partos, 380 operações e 900 internações

qui, 25/11/2004 - 15h10 | Do Portal do Governo

O Hospital Universitário da USP foi criado há 37 anos junto com o Curso Experimental de Medicina. Quando este foi extinto, também o hospital encerrou suas atividades. Mas a comunidade do Butantã, junto com os estudantes da área de saúde da universidade, mobilizou-se para a manutenção dos seus serviços. Renascia, assim, em 1981, o Hospital Universitário (HU), com apenas 26 vagas. Hoje, seus números são significativos: 257 leitos, 1,7 mil funcionários, 280 médicos e cerca de 400 mil usuários. Atua no sistema de média complexidade nas áreas de obstetrícia e ginecologia, pediatria, cirurgia e geral e realiza, mensalmente, em média 280 partos, 380 operações e 900 internações. No ano passado, efetuou mais de 300 mil consultas, 11 mil internações, 2.760 partos e 4.523 cirurgias. Desenvolve atividades de ensino, de graduação, pós-graduação, lato sensu e stricto sensu e de pesquisa

“É um hospital-escola, o que o diferencia de outras unidades de saúde pública de São Paulo. O objetivo é ampliar cada vez mais nossas atividades na área acadêmica e nos consolidarmos como referência, mas atuando no limite da comunidade uspiana e do Butantã”, explica o superintendente, professor Paulo de Andrade Lotufo. Para ele, a vocação do HU é oferecer assistência de média complexidade e participar, cada vez mais, nos currículos dos profissionais de saúde em formação na USP. Nessa direção, tem conduzido a ampliação da área de pesquisa. Um exemplo é a criação do Centro de Pesquisa Clínica, que desenvolve, em parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas, testes com remédios genéricos para avaliação de efeitos. “Oferecemos serviços às indústrias de medicamentos. Nossa meta é fazê-lo em nível nacional”, espera Lotufo.

Gestão e controle – Outra preocupação do superintendente é limitar a sua atuação à comunidade uspiana e do distrito do Butantã, tornando-o cada vez mais eficiente. Como muitas vezes isso representa filas e falta de estrutura, está em andamento o mapeamento da demanda para a identificação dos pacientes e posterior distribuição, de acordo com as necessidades. Há, também, um programa recém-lançado que, em conjunto com o levantamento de mapeamento, dinamizará a marcação de consultas, exames e cirurgias. É a Coordenação de Referência no Atendimento em Saúde (CoraSaúde Brasil) – programa integrado ao SUS, que reúne uma central de relacionamento à elaboração e manutenção de um banco de dados sobre os doentes. A intenção é esclarecer e direcionar os usuários para que sejam encaminhados prontamente ao local adequado. As informações coletadas para as ações de gestão e controle da saúde da comunidade serão utilizadas para posteriores realizações de programas de educação na área.

Deve funcionar da seguinte forma: a partir da ligação, o atendente acessará o perfil do paciente (disponível no banco de dados), com base no cartão do SUS, e indicará o estabelecimento apropriado para cada caso: postos de saúde, o Hospital das Clínicas ou o próprio HU. Também estão previstos agendamento de consultas, exames e internações pelo sistema, que deve entrar em funcionamento no começo de 2005. A iniciativa adotada é resultado do trabalho conjunto entre a Netcom/VDI – empresa especializada em tecnologia para saúde – e o Núcleo de Análise Interdisciplinar de Políticas e Estratégia (Naippe) da USP.

Segundo Sonia Regina Cicone Liggieri, responsável pela área de marketing e economia da empresa, a idéia é que esse método, utilizado na unidade com os usuários da região do Butantã, funcione como piloto do programa que, posteriormente, poderá se expandir para todos os hospitais da rede pública e privada da capital.

No conforto do lar – Outra iniciativa que tem se mostrado eficaz na resolução de excesso de demanda e no aprimoramento desse trabalho no HU é o atendimento domiciliar. A medida permite que doentes crônicas graves tenham a possibilidade de trocar o leito hospitalar pelo conforto de casa, mesmo dependendo de recursos clínicos. Essa alternativa se tornou realidade em maio de 2000, com a criação do Programa de Atendimento Domiciliar (PAD), que transfere para a casa do doente a estrutura do ambulatório somada aos cuidados dos profissionais da saúde e aos equipamentos necessários.

Dessa forma, os leitos ficam liberados para outras internações, o paciente é reintegrado ao ambiente sociofamiliar, resultando em diminuição do risco de infecção hospitalar, redução de custos e melhora a qualidade de vida da pessoa. “A gente nota que ela apresenta progressos no estado geral, pois em casa fica num ambiente mais acolhedor, sem horários rígidos para alimentação, banho, visita e medicação, além de comer a comida a que está acostumado e ficar mais próximo das pessoas com as quais mantém vínculos”, relata o dr. Cláudio Sakurada, coordenador do PAD. O programa visa, também, a prevenir novas internações, orientar os responsáveis pelo doente sobre o tratamento, e promover a capacitação de novos profissionais.

PAD – Formado por uma equipe multiprofissional – três médicos (dois clínicos e um pediatra), duas enfermeiras, uma assistente social, duas fisioterapeutas, uma terapeuta ocupacional, uma fonoaudióloga, uma dentista, três psicólogas, duas secretárias e dois motoristas –, o Programade Atendimento Domiciliar atua numa área delimitada. De acordo com o médico, nesse tipo de atendimento a dificuldade de deslocamento pode torná-lo inviável. Foi escolhida a subprefeitura do Butantã, composta por cinco bairros dos arredores da cidade universitária: Butantã, Morumbi, Vila Sônia, Rio Pequeno e Raposo Tavares.

Para o coordenador, o trabalho do PAD funciona em sintonia com o das quatro Unidades de Saúde da Família da região: o Centro de Saúde Escola do Butantã, o Vila Dalva, o Jardim São Jorge e o Boa Vista, que também realizam visita domiciliar. A parceria funciona de acordo com a divisão especificada na saúde: a rede básica cuida do atendimento primário e o Hospital Universitário se encarrega dos que requerem maior complexidade, como os casos de traqueostomia, gastostomia, sonda, etc. Assim que há melhora, e o caso só exige tratamento simplificado, o paciente é transferido para o Programa de Saúde da Família. “Temos um relacionamento estreito, inclusive com impressos em comum. Funciona bem isso aqui”, avisa o médico.

Critérios – O programa atende 90 pacientes, na maioria idosos. “Esse é mais ou menos o nosso limite, para não comprometermos a qualidade”. Para encaminhar o doente ao PAD, são observados alguns critérios como o fato de ele estar matriculado no hospital, ser morador da área delimitada, ter pedido médico, ter um cuidador apto e reunir condições clínicas de receber assistência em domicílio. Os principais diagnósticos são seqüelas de acidente vascular cerebral, demência (geralmente ocasionada pelo Mal de Alzheimer), deficiência pulmonar crônica, câncer e Mal de Parkinson.

Depois da alta, é realizada a primeira visita à casa da pessoa, por toda a equipe, que avalia as condições gerais da adaptação ao sistema. Na seqüência, os profissionais marcam visitas em separado, conforme as necessidades do quadro clínico. Normalmente são semanais e, se há melhora, são espaçadas.
O acompanhamento de cada caso tem, também, dois instrumentos auxiliares importantíssimos: o prontuário médico, com as informações sobre o caso, e o contato telefônico. O primeiro é distribuído a todos os profissionais e ao cuidador, que faz as anotações, e o segundo pode ser utilizado pelos parentes e responsável, a qualquer hora, para o esclarecimento de dúvidas.

O PAD oferece serviço de coleta domiciliar laboratorial e empréstimo de materiais de uso permanente, como cama hospitalar, cadeira de rodas e de banho, doadas por famílias de pessoas falecidas no HU e ONGs. Nesse caso, o atendimento é extensivo a doentes encaminhados pelo pronto-socorro e Unidades de Saúde da Família. Há, também, uma divisão específica para dependentes de oxigênio por problemas pulmonares, que faz o empréstimo de equipamento elétrico extrator e concentrador de oxigênio.

Família enlutada – Outra frente de atuação do PAD é destinada aos parentes. Para os casos de morte, há o Programa de Apoio à Família Enlutada, que abrange no mínimo duas visitas: uma 15 dias após o óbito e outra, um mês depois da primeira. O objetivo é prevenir complicações do luto. Observada a tendência a problemas, é feito o encaminhamento para a assistência psicológica no hospital. Uma vez por semestre, são promovidos encontros de cuidadores, com a participação dos integrantes do programa, que recebem dicas de relaxamento, de lazer, de como cuidar do paciente e de si mesmo, além de realizarem troca de experiências. O setor de psicologia mantém grupos terapêuticos com os responsáveis. “A gente se importa em ajudar quem cuida do doente, porque sabe que sua rotina é muito estressante”, revela o coordenador do PAD.

Formando profissionais – Como ocorre em todas as ações do Hospital Universitário, o programa se encarrega da formação de profissionais de saúde. Recebe alunos de graduação dos cursos de medicina, enfermagem, terapia ocupacional, fonoaudiologia e odontologia para estágio, além de residentes de pediatria e estudantes de especialização em fisioterapia. Segundo o dr. Sakurada, são realizados anualmente dois workshops: um sobre Atendimento Domiciliar e outro sobre Cuidados Paliativos. Há uma enfermaria para esses trabalhos, que são os destinados aos pacientes sem possibilidade de cura, com o objetivo de aliviar os sintomas da doença.

Uma manhã de atendimento

A equipe chega para visitar Encarnação Matoso Sapata, de 88 anos, uma das novas integrantes do PAD. Depois de ficar internada 15 dias, por causa de um derrame, ela teve alta para continuar o tratamento em casa. A nora Rita e a neta Tatiane se revezam nos cuidados com ela, que se encontra em coma vigil. “Não é fácil, é muito corrido, mas ao mesmo tempo é bom, porque dá para ficar perto da minha avó. Acho esse projeto muito importante; com certeza estar em casa é melhor. No dia em que ela chegou, olhava tudo, como quem está reconhecendo o lugar”, conta a estudante do primeiro ano de nutrição que, nos cuidados com a avó, está antecipando vivências da própria profissão.

A enfermeira Elizabeth Finzch dá as instruções principais e depois responde às dúvidas de Tatiane. “A paciente está muito bem cuidada”, atesta. Em seguida, os outros profissionais se revezam no exame. São 11 ao todo, contando os graduandos acompanhantes. Encerrado o atendimento, o grupo embarca na Van rumo a outro endereço.

É a primeira vez, depois da alta, que visitam Almerinda Costa Pereira, 78 anos, vítima de síndrome demencial causada pelo Mal de Alzheimer. Na casa, moram seus filhos Rita e Miguel – seus cuidadores – e o marido de Rita. Na entrada, um dos nove cachorros da casa avança sobre a a fisioterapeuta Ana Silvia Reinacher. Pálida de medo, ela diz que isso sim é um obstáculo para esse tipo de trabalho. “Tenho pavor de cachorro”, conta.

Barreiras vencidas, a pequena casa fica cheia. Enquanto a fisioterapeuta ensina alguns exercícios para Rita fazer com a doente e a enfermeira faz as primeiras observações sobre como acomodá-la, a assistente social Márcia Moreira entrevista Miguel junto com o coordenador, que faz todas as anotações no prontuário. “Essa prática é uma das melhores formas de humanização do atendimento, pois possibilita a proximidade da equipe médica com a família”, julga Márcia.

Uma vez por semana são realizadas reuniões para avaliação dos casos e troca de experiência e opiniões. “Nós nos complementamos como profissionais. É um exercício fundamental de interdisciplinaridade”, avalia. Para a estagiária Renata Basso, quartanista de fisioterapia, é importante sair do ambiente hospitalar porque possibilita ao profissional ter visão mais humana do seu trabalho. Ela ressalta a relevância das visitas em conjunto. “Dá para analisar como cada um tem o seu valor para um bom resultado. É legal ver a equipe pensando no bem do paciente”, diz.

Pró-Sangue apela à comunidade

Por estar funcionando com 50% de sua capacidade de estocagem, o posto da Fundação Pró-Sangue do Hospital Universitário pede à comunidade da USP que doe sangue. Segundo a diretora de relações externas da Fundação, estimular o público jovem a criar o hábito da doação é um dos objetivos do Pró-Sangue. Podem doar pessoas entre 18 e 65 anos, com peso mínimo de 50 quilos. Basta apresentar documento de identidade original, estar alimentado e em boas condições de saúde. O posto fica na própria unidade, na Av. Lineu Prestes, 2.565 – Cidade Universitária, SP. Funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas. Mais informações, pelo 0800 55 03 00 (Disque Pró-Sangue) ou (11) 3258-0822, ramal 215 – Divisão de Comunicação Corporativa

Da Agência Imprensa Oficial
Por Simone de Marco