Especial do D.O.: Hidrovia Tietê-Paraná faz operação-piloto para transportar cargas em contêineres

Teste prevê o transporte de 7,7 mil toneladas de açúcar em contêineres, em três etapas pelos 300 km da hidrovia, entre Araçatuba e Jaú

sex, 09/01/2004 - 11h04 | Do Portal do Governo

A operação é rápida: em poucos minutos, o contêiner cor de laranja de duas toneladas é colocado sobre um caminhão curto que parte para a estrada. Gastando praticamente o mesmo tempo, o gigantesco guindaste retira outro contêiner (este pesando 32 toneladas), que estava preso no caminhão e o coloca junto a outros numa barcaça. Esta foi a parte “simples” da operação realizada num dia de dezembro como parte do teste do transporte de açúcar a granel, em contêiner, usando a hidrovia Tietê-Paraná, no trecho de cerca de 300 km, do porto de Araçatuba com destino ao porto de Diamante, em Jaú. De lá, o açúcar seguiria de trem ou caminhão até Santos.

“Talvez a grande importância desta experiência seja a real possibilidade de o contêiner ser adotado como unidade de transporte. É uma forma de estipular uma medida padrão, racionalizar os meios de transporte sempre com uma capacidade definida e com a possibilidade de armazenar várias tipos de carga e não somente açúcar, cana cortada em pedaços e até álcool. Tudo o que puder ser colocado dentro de uma unidade pode ser transportado”, diz o diretor do departamento hidroviário da Secretaria dos Transportes do Estado, Oswaldo Rosseto, entusiasmado com a possibilidade de usar os contêineres nessa modalidade de transporte

Revitalização da hidrovia

A idéia da revitalização desse trecho da hidrovia partiu das necessidades da iniciativa privada e do apoio do governo do Estado. A Cosan é um grupo que reúne 12 usinas, entre elas a Univalem Diamante, proprietária das chatas e dos barcos transportadores, e também do porto Diamante, em Jaú. O grupo movimenta 700 mil toneladas de cana e exporta 1,7 milhão de toneladas de açúcar por ano. Por esses volumes, um meio de transporte mais econômico pode significar muitos milhões a mais no caixa ao fim de um ano.

Assim, o plano foi utilizar as barcaças e empurradores, que ficam parados na entressafra da cana, e fazer três viagens completas de açúcar em contêineres, usando a hidrovia. No final de fevereiro, quando a terceira viagem-teste estiver concluída, os cálculos vão indicar quanto essa modalidade de transporte pode significar em termos de economia e produtividade. Em cada uma das três viagens, serão transportados 80 contêineres, cada um com 30 toneladas de açúcar, num total de 2,4 mil toneladas. Outro objetivo dessa ação é detectar todas as dificuldades possíveis.

O secretário de Estado dos Transportes, Dario Rais Lopes, disse que este primeiro teste reunindo vários modais de transporte pode dar novo rumo à utilização da hidrovia. “Temos a obrigação de tentar todos os meios de transporte para tornar nossos produtos mais competitivos no mercado, pois a redução de custos pode significar preços melhores no mercado nacional e internacional. Este teste vai mostrar o que está funcionando bem, o que precisa ser modificado, o que pode ser reformado e o que precisa ser construído ou criado”.

O mesmo raciocínio foi usado pelo diretor de logística da Cosan, Carlos Eduardo Bueno Magano. “Estamos usando carga em quantidades reais para avaliar minuciosamente as vantagens e onde podemos melhorar o processo. As maiores vantagens imediatas que posso citar são a utilização de cerca de 300 km de hidrovia em vez de rodovia e a utilização de um meio de transporte menos agressivo ao meio ambiente. Além disso, o contêiner finalmente está sendo usado como solução multimodal, passando pela rodovia, hidrovia e talvez até ferrovia.”

Logística

A operação para o transporte de quase 7,7 mil toneladas de açúcar começou no porto Diamante, em Jaú, do qual partiram as seis chatas com contêineres vazios, que percorreram os 300 km da hidrovia em pouco mais de 55 horas até o Terminal de Araçatuba. Ali, o pouco usado terminal, construído na década de 80 (com cais de 145 metros de comprimento e plataforma em concreto com 18,6 metros de largura), recebeu o guindaste que colocou cada contêiner sobre o caminhão numa operação bastante rápida. Em seguida, os caminhões partiram pela estrada até a usina Univalem, no município de Valparaíso, numa viagem de pouco mais de 60 km, por boas estradas, feita em uma hora. No armazém da usina, com capacidade para 25 mil toneladas, os caminhões eram carregados com açúcar bruto, impróprio para o uso imediato por conta do manuseio. Encostados em uma plataforma, uma carregaderia com capacidade para 2,4 mil quilos jogava o produto no contêiner. Em aproximadamente 15 a 20 minutos o caminhão estava carregado com as 30 toneladas que seriam exportadas, naquele caso, para a Rússia. Com uma espécie de rodo, o açúcar é nivelado e o contêiner fechado.

Em pouco mais de uma hora novamente, o guindaste no porto de Araçatuba coloca o carregamento de 32 toneladas na chata, como se ele estivesse vazio. A operação, mais uma vez, é rápida e parece ser muito simples, apesar de todo risco envolvido por conta do volume da carga.

Chatas carregadas, o empurrador ruma para o porto Diamante pela hidrovia, no qual seria estipulado o modo de transporte, se por ferrovia ou rodovia. Tudo, uma questão de opção e tabulação de custos.

Se ao cabo da terceira viagem tudo der certo e funcionar a pleno, como todos esperam, e não for necessário grande investimento, o diretor da Cosan diz que a adoção da operação pode ocorrer de imediato. “Se o custo não for excessivo não temos razões para adiar o início do transporte. E as possibilidade vão além do açúcar, passando pelo transporte de cana e também do álcool.”

Rogério Cortelazzi, coordenador da logística da operação, diz que a operação só vai ser avaliada depois da terceira etapa, uma vez que a tendência é de um aperfeiçoamento a cada etapa da viagem, por questões de pequenos ajustes. Mas nada que impeça de o açúcar seguir tranqüilamente seu caminho e chegar ao país de destino. “Lá, a carga é reprocessada, passando pelo refino novamente e depois colocada no mercado”.

Mais investimentos

Com essa operação, Rosseto diz que o ano foi fechado com grandes conquistas para as hidrovias. “Voltamos a transportar milho e trigo, depois de um trabalho de tornar a hidrovia mais atrativa; surgiu o primeiro transporte de sorgo ( grão para ração de animais); retomamos as viagens de longo curso, como do Tramo Sul do Rio Paraná; e fizemos acordos com ferrovias para que atendessem à hidrovia nos municípios de Pederneiras e Presidente Epitácio; além de aumentar o volume transportado por rio. Foi um ano excepcional.”

Mas ainda há o que fazer na hidrovia. De acordo com o secretário dos Transportes, são necessários R$ 10 milhões para resolver os maiores problemas da hidrovia. “Assim, conseguiríamos eliminar definitivamente o problema do vão das pontes, em que é necessário o desmembramento de comboios, e também concluir o aprofundamento de canal. Neste caso, a cada 10 cm mais profundo conseguimos transportar mais 250 toneladas de carga, ou seja, cada comboio na hidrovia significa uma carreta a menos na estrada.”

Turismo no rio, gerando emprego e desenvolvimento

Os secretários de Estado de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo, João Carlos Meirelles; do Meio Ambiente, José Goldemberg; da Juventude, Esporte e Lazer, Lars Grael; dos Transportes, Dario Lopes; e de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento, Mauro Arce; e o vice-almirante, comandante do 8º Distrito Naval, Carlos Afonso Pierantoni Gamboa assinaram resolução, em dezembro, criando grupo de trabalho para a elaboração de projeto de planejamento turístico ambiental e para propor normas de licenciamento para empreendimento náutico-fluvial ao longo da hidrovia Tietê-Paraná. O objetivo é o desenvolvimento sustentável da região.

O grupo de trabalho tem prazo de 60 dias para apresentar relatório com propostas de rotina, identificação de problemas, procedimentos de planejamento, criação e licenciamento ambiental de empreendimentos turísticos náutico/fluviais, especialmente referentes à estrutura de apoio às marinas.

De acordo com o secretário-executivo de Turismo, Marco Antônio Castello Branco, em janeiro e fevereiro, o Comando do 8º Distrito Naval, em conjunto com a Secretaria de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo, fará levantamento da região para a elaboração de carta náutica da hidrovia. “Os planos que serão apresentados pelo grupo de trabalho deverão gerar milhares de empregos para a região, uma vez que 88 municípios são abrangidos no projeto”.

Trabalho em conjunto

Para o secretário Meirelles, a resolução é importante em vários sentidos, porque, além de levar desenvolvimento para as regiões participantes, vai permitir a execução de importantes ações em conjunto. “Trata-se de um grupo de trabalho que atua em parceria com o governo do Estado, por meio de cinco secretarias, Marinha brasileira e 88 prefeituras. É uma nova visão de trabalho”.

O projeto deve contemplar vários segmentos da sociedade, entre eles, por exemplo, os pescadores artesanais, cuja atividade não rende o suficiente. Segundo Meirelles, uma das soluções que o grupo deve apresentar se refere à pesca em tanques de rede, mais viável. Além disso, pensa-se aproveitar o potencial dos pescadores, que conhecem bem a região e podem atuar como guias turísticos.

O vice-almirante Carlos Afonso Pierantoni Gamboa reafirmou a importância da parceria com o governo do Estado e com as prefeituras da região. “Somos o Detran do mar e, nesse caso, dos rios. Nos encantamos com a hidrovia, com seu potencial. Acredito que as pessoas só não utilizam o rio porque não têm onde parar seus barcos”.

Por Sílvio Nascimento, especial para a Agência Imprensa Oficial