Especial do D.O.: Fila única de transplantes é a garantia do doador

Atualmente, quatro estão instaladas na Capital

ter, 23/09/2003 - 11h22 | Do Portal do Governo

O transplante de órgãos deixou de ser uma terra de ninguém há três anos, no Brasil, quando foi instituído o Sistema Nacional de Transplantes. Além da criação das listas únicas de receptores e das centrais estaduais de transplantes, estabeleceram-se a normatização complementar da atividade, o cadastro e a autorização de serviços, e as equipes especializadas. Segundo o coordenador da Organização de Procura de Órgãos (OPO) do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, Milton Glezer, não havia legislação apropriada para coordenar e organizar os sistemas de procura, captação e distribuição de órgãos.

Em São Paulo, devido à complexidade e à diversidade do Estado, foram criadas duas centrais, uma para a capital e região metropolitana e outra para o interior: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO 1 e 2; respectivamente). A atividade de captação foi descentralizada, instituindo-se as Organizações de Procura de Órgãos (OPO).

Atualmente, quatro estão instaladas na Capital: Dante Pazzanese, HC, Santa Casa e Hospital São Paulo, e seis no interior: Botucatu, Marília, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Sorocaba e Campinas.

Seleção e localização

O processo de um transplante começa quando o hospital notifica à CNCDO ou OPO sobre o potencial doador, que é o paciente em morte cerebral. A organização procura então a família, para mostrar a importância da doação. Se os parentes concordarem, a equipe médica inicia os exames para confirmar a morte cerebral. Dois médicos (sendo um neurologista) realizam dois exames diferentes.

Confirmada a morte, a OPO continua responsável pelo doador,
com o cuidado de manter o coração batendo e a melhor condição clínica possível até o momento da retirada dos órgãos, que “vão morrendo aos poucos, é uma corrida contra o tempo”, compara Mílton Glezer.

Enquanto isso, a central de notificação seleciona – de acordo com os critérios da fila única – e localiza os possíveis receptores compatíveis com o doador. A seguir, organiza a equipe que vai fazer o transplante.

Proibição religiosa

Em grande parte, os casos notificados não se efetivam como doações. Aproximadamente 40% das famílias se recusam. “O povo brasileiro não tem tradição de ser doador. Por esse motivo, a OPO desenvolve várias campanhas de conscientização sobre doação de órgãos, afirma Glezer.

Segundo o coordenador, a família muitas vezes têm medo do comércio de órgãos ou mesmo acha que o paciente pode estar somente em coma e não morto. “Com relação ao tráfico de órgãos, as pessoas podem ficar despreocupadas, pois hoje a fila única tem critério e controle que afastam qualquer problema desse tipo. O importante é que a família autorize, caso contrário não existe doação.”

As pessoas também não precisam se preocupar quanto ao diagnóstico de óbito, pois a metodologia e a sistemática utilizadas para diagnosticar a morte cerebral são precisas e não deixam qualquer dúvida quanto ao paciente estar simplesmente em coma. “O interessante é quando a pessoa diz que sua religião não permite. Nenhum líder religioso proíbe qualquer pessoa de salvar a vida de outra. Ao contrário.”

Como funciona a fila única

Toda vez que surge um doador, a central é informada e processa a seleção dos possíveis receptores para os vários órgãos. Esta seleção leva em conta o tempo de espera para o transplante, o grupo sangüíneo, o peso e a altura do doador. Por isso, o primeiro na fila nem sempre é o que espera há mais tempo.

Acontece, igualmente, de o receptor selecionado em primeiro lugar não estar momentaneamente em condições de receber um transplante, em consequência de complicações clínicas. Ou ele não é localizado, ou, ainda, não quer receber o órgão naquele momento. É preciso levar em conta, ainda, alguns exames feitos no doador, para verificar se ele é portador de infecções – como hepatites por vírus B ou C.

Caso um desses exames seja positivo, as equipes não aceitam os órgãos para transplantar receptores negativos para a tal infeção, pois o receptor pode ser contaminado com uma doença que colocará em risco sua saúde. Algumas equipes, no entanto, aceitam os órgãos para transplantá-los em receptores que tenham a mesma infecção.

Tipos do transplante Número de pessoas na fila

Córnea – 5.237
Coração – 66
Fígado – 2.672
Pâncreas – 93
Pâncreas e rins – 228
Pulmão – 18
Rins – 10.266

Primeiros transplantes

A atividade de transplante de órgãos e tecidos no Brasil iniciou-se em 1939, com o primeiro transplante de córnea. Em 1964 e 1965, no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente, foram realizados os primeiros transplantes de órgãos do País, nesses casos, transplantes de rins. O primeiro transplante cardíaco ocorreu também em São Paulo, em 1968, realizado pela equipe do dr. Euríclides de Jesus Zerbini.

Andréa Barros
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)