Especial do D.O.: Fascínio pelo trem renasce com Programa Viagem sobre Trilhos

Grupo de 170 pessoas realizou a quarta Viagem sobre Trilhos, no último domingo, dia 30

qui, 04/12/2003 - 12h45 | Do Portal do Governo

O fascínio que o trem sempre exerceu nas pessoas, como símbolo de liberdade, aventura, romance, e a beleza arquitetônica das estações levaram um grupo de 170 pessoas, a maioria fotógrafos, a realizar a quarta Viagem sobre Trilhos, no último domingo, dia 30. O evento, promovido pela Sociedade de Pesquisa e Preservação Ferroviária (SPPF), se estendeu por oito estações da linha D da CPTM, entre Barra Funda e Rio Grande da Serra.

“Queremos mostrar a importância do trem como transporte e a necessidade de conservar este bem. Algumas estações foram preservadas, outras modificadas”, informa Marco Antônio Dantas Nunes, da SPPF. A entidade, fundada em 1998, é formada por pessoas que se interessam pela história das ferrovias no Estado. Atua de forma independente, mas mantém estreitas relações de parceria com a CPTM para realizar seus eventos.

Três em uma

O grupo saiu pela manhã da estação Júlio Prestes, tomou o trem até a Barra Funda, onde desceu e subiu em outro (linha D) até o Brás. Nessa estação, as pessoas permaneceram por uma hora, fotografando as instalações.
No local, como em todas as paradas, Dantas reuniu a turma e contou um pouco da história da estação, a primeira construída no Estado de São Paulo, em 1867. Com o passar do tempo, outra companhia ferroviária instalou-se ao lado. Esta mais nova, na década de 40, passou a se chamar Roosevelt, homenagem de Getúlio Vargas ao presidente norte-americano, morto em 1945. Em 1978, surgiu a terceira estação, a do Metrô, integrando as outras como se fossem uma só. “Hoje tudo é Brás.”
Profundo conhecedor do assunto e pesquisador de arquivos do Estado, Dantas conta que começou a gostar de trem aos quatro anos, quando seu pai o levou à Júlio Prestes. Na época (1972), a antiga Sorocabana estava passando para o controle da Fepasa. As duas companhias foram extintas. Algumas locomotivas ele reconhece até pelo barulho, cita nome, país onde foi fabricada, se é a diesel ou elétrica, ou até mesmo uma velha maria-fumaça.

Um século e meio de história

Ferreomodelista, Dantas ensina construção de maquetes de trens, trilhos e estações. Desde o dia 8 de novembro dá aulas aos sábados (nas instalações do Setor de Qualidade de Vida, na Estação Lapa, da companhia) para funcionários da CPTM, ex-ferroviários e demais interessados.
Eles desenvolvem um projeto que vai comemorar os 150 anos da ferrovia no Brasil, em 2004. Embora faça mistério sobre os detalhes, Dantas revela que estão trabalhando na maquete de uma das seis linhas da CPTM. A obra será exposta no ano que vem na estação Brás ou Barra Funda. “A maquete terá aproximadamente 10 metros quadrados, com todas as estações da linha escolhida e o trem andará sobre trilhos, como os verdadeiros.”
Depois da estação Brás, as pessoas se reuniram novamente e seguiram em frente. Entraram no trem, escolheram o primeiro vagão, para evitar que alguém se perdesse. Os passageiros ficaram admirados ao ver todos com suas máquinas fotográficas penduradas no pescoço.

De volta ao passado

Depois do Brás, o pessoal visitou as estações Mooca, Ipiranga, Prefeito Saladino, Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Em cada uma, Dantas lembra curiosidades. Saladino Franco governou Santo André de 1914 até 1930, quando caiu em desgraça com a Revolução naquele ano. A estação de Santo André chegou a ser chamada de São Bernardo, pois dali saíam bondes rumo àquele município. A de Mauá foi chamada de Pilar.
São mais de 14 horas e faltam duas estações para o fim da viagem. Justamente as duas que Dantas mais admira: Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Eles não cederam ao progresso da região do ABC e continuam como os ingleses as construíram, em 1885 e 1867, respectivamente. As duas se parecem.
A arquitetura de Rio Grande da Serra é realçada pela neblina que paira sobre a cidade no dia da viagem. Os fotógrafos tiveram dificuldade para focar suas lentes. Um deles comentou: “Deve ser por causa desta neblina da Serra do Mar que os ingleses gostaram tanto daqui. Lembra o fog londrino”.

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Entre fotos e trens

Duas escolas de fotografia levaram alunos para a viagem: a Focus de São Paulo e a Douglas Moreira, de Santo André. Bruno Fernandes Costa, de 14 anos, estuda na Focus há três meses. Carrega uma Pentax antiga, mecânica, e diz que estuda fotografia e desenho publicitário. Pretende ser fotógrafo na imprensa ou na propaganda. “A viagem nos dá chances de retratar arquiteturas antigas e difíceis de encontrar em outro lugar”, diz Bruno.

O bancário David Boçom, de 63 anos, veio de Curitiba especialmente para a viagem. Ele comenta que depois de aposentado passou a gostar de trem e de viagens. Em sua terra natal, existe apenas uma linha turística, de 100 quilômetros, entre Curitiba e Paranaguá. Com sua Minolta, fotografou a ferrovia de sua cidade e a que liga Belo Horizonte (MG) a Vitória (ES).

SERVIÇO

Companhia Paulista de Trens Metropolitanos
www.cptm.sp.gov.br
Tel. 0800-550121
Sociedade de Pesquisa e Preservação Ferroviária
Rua das Palmeiras, 702-A – Santo André – SP
CEP 09080-160

Otávio Nunes
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)