Especial do D.O.: Estado oferece atendimento especializado para prevenir doenças e gravidez na adole

Casa do Adolescente de Pinheiros, Centro de Referência DST/Aids e HC dispõem de equipes multidisciplinares para atendê-los

sex, 23/01/2004 - 11h17 | Do Portal do Governo

O Governo do Estado oferece atendimento clínico e psicológico especializado para adolescentes. Para diminuir os casos de gravidez na adolescência e reduzir as chances de acontecer a segunda gravidez entre meninas com menos de 20 anos, serviços como a Casa do Adolescente e o Atendimento à Mulher Adolescente do Hospital das Clínicas utilizam equipes multidisciplinares para atendê-las.

Crianças e adolescentes dispõem também de atendimento especializado no Centro de Referência e Treinamento DST/Aids. Podem tirar dúvidas sobre sexualidade, fazer testes de HIV, receber orientações e preservativos. O serviço é gratuito.

Alguns dos serviços oferecidos pela Secretaria da Saúde e por organizações não-governamentais, disponíveis aos adolescentes:

▪ Apta-Teen – Associação para Prevenção e Tratamento da Aids e Saúde Preventiva – Alameda Ribeirão Preto, 28 – conjunto 21R – São Paulo-SP. Telefone: (11) 3266-3345. E-mail: apta@apta.org.br

▪ Casa do Adolescente de Pinheiros – Rua Ferreira de Araújo, 789 – Pinheiros. Disk-Adolescente: (11) 3819-2022, de segunda a sexta, das 11 às 14h.

▪ Centro de Referência da Saúde da Mulher – Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 683. Telefone: (11) 3242-3433

▪ Centro de Referência e Treinamento DST/Aids – Rua Santa Cruz, 81 – Vila Mariana – São Paulo. Telefone: (11) 5087-9911.

▪ CTA – Henfil – Rua Liberó Badaró, 144 – Centro. Telefone (11) 3241-2224.

▪ Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS) – Rua Bruxelas, 169 – Sumaré – São Paulo – SP. Telefone: (11) 3801-3691 – E-mail: gtpos@gtpos.org.br

▪ Hospital das Clínicas (HC) – Atendimento à Mulher Adolescente (Clínica Ginecológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) – Rua Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, Prédio dos Ambulatórios. Telefone para marcação de consultas: (11) 3063-3030.

▪ Instituto Kaplan – Centro de Estudos da Sexualidade Humana
Rua Cardoso de Almeida, 1.717 – Perdizes – São Paulo – SP. Telefone: (11) 3676-0777 – E-mail: kaplan@kaplan.org.br

CRT/Aids oferece atendimento diferenciado para jovens

Aproximadamente 150 crianças e adolescentes estão em tratamento no Centro de Referência e Treinamento DST/Aids. O infectologista Sidnei Rana Pimentel cuida de aproximadamente 40 crianças e adolescentes. Quase todos são filhos de pacientes que se tratam no local.

Os bebês, filhos de portadores do HIV, são acompanhados desde o nascimento. A chance de transmissão da doença para um bebê gerado por uma mãe portadora do vírus é de 25%, caso não ocorra amamentação. Neste caso, o risco aumenta proporcionalmente ao tempo de aleitamento. Se a mãe utilizar a medicação correta durante a gestação, o risco diminui para 3%.

Quando a criança nasce, os resultados dos exames sempre registram a presença dos anticorpos maternos, transmitidos pela placenta. É preciso esperar um ano e seis meses para verificar se o bebê continua produzindo os anticorpos. Para detectar se foram infectados, testes são repetidos durante os dois primeiros anos de vida

Muitos adolescentes estão sendo acompanhados desde o nascimento. A relação de confiança com o médico é fundamental para o tratamento. “Muitas crianças, quando chegam aqui, não sabem do diagnóstico”, explica Sidnei Pimentel.

A decisão de comunicar o diagnóstico aos pacientes é tomada em conjunto com os pais, cabendo à equipe de saúde a orientação e o aconselhamento sobre o melhor momento. Em geral, as crianças conhecem o diagnóstico depois dos 10 anos de idade. Porém, o médico lembra de um caso de um adolescente, de 19
anos, que descobriu que era portador do HIV apenas quando sua mãe morreu.

Uma equipe formada por nutricionistas, psicólogos, dentistas e assistentes sociais acompanha todos os pacientes. A farmácia do local fornece a medicação necessária.

Algumas crianças necessitam ir até o CRT para receber a medicação (gamaglobulina) por meio de soro. Nestes casos, Sidnei Pimentel costuma atendê-los no próprio local que estão utilizando a medicação, que pode demorar até três horas para ser concluída. O objetivo é diminuir o tempo de espera e minimizar qualquer dificuldade no tratamento.

Os médicos orientam os adolescentes para que saibam se prevenir de infecções ou outras doenças oportunistas. A maior dificuldade é explicar a importância do tratamento para adolescentes quando, em alguns casos, os próprios pais não seguem à risca o procedimento recomendado.

O CRT realiza gratuitamente testes de HIV. Adolescentes com mais de 13 anos podem fazer o exame. Não é necessária ou obrigatória a presença dos pais. Profissionais avaliam o adolescente antes do teste para saber se tem condições de receber o diagnóstico sozinho.

Mais de 17 mil atendimentos em 10 anos da Casa do Adolescente

A Casa do Adolescente completou, no dia 20 de janeiro, dez anos de existência e mais de 17 mil atendimentos. Meninos e meninas, entre 10 e 20 anos, são acompanhados por médicos, dentistas, fonoaudiólogos, assistentes sociais, enfermeiros, professores e psicólogos.

O atendimento faz parte do Programa Saúde do Adolescente, da Secretaria de Estado da Saúde, que recebeu prêmio da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1991, como um dos mais completos programas do mundo de atendimento ao adolescente.

“Não são trabalhadas apenas questões de sexualidade, gravidez precoce e anticoncepção. Toda a adolescência é englobada, com seus aspectos físicos, psicológicos e sociais’, afirma Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do programa de atenção integral à adolescência.

O Estado de São Paulo reduziu os casos de gravidez na adolescência, entre 10 e 19 anos, em 21,4%, comparando dados entre 1998 e 2002. Albertina acredita que o trabalho realizado na Casa contribuiu muito para esta redução: “As campanhas informativas sobre a necessidade do uso de métodos anticoncepcionais são importantes, mas não garantem a proteção total do jovem. Insegurança, baixa auto-estima, medos e dúvidas são determinantes na vulnerabilidade dos adolescentes”.

Para evitar a gravidez e prevenir a transmissão de doenças, nos três últimos meses de 2002, foram distribuídos mais de 200 mil preservativos. A distribuição é vinculada a uma conversa com um profissional da Casa.

As adolescentes realizam exames preventivos, incentivando tratamento contínuo e criando o hábito da prevenção de doenças. Mais de cinco mil adolescentes já passaram pelo atendimento psicológico. Os parceiros também são inseridos no tratamento.

A Casa tem oferecido treinamento para profissionais de saúde de outros municípios. Aproximadamente sete mil profissionais de São Paulo participaram de cursos e palestras promovidos pelo local. No último encontro, compareceram 1,3 mil profissionais de 272 municípios.

Oficinas, cursos e terapia em grupo reúnem adolescentes para tratar de sexualidade, saúde e comportamento. Em algumas das oficinas, os adolescentes discutem os sentimentos de raiva, ira, inveja, prazer e desejo sexual.

O curso de dança do ventre atraiu muitas meninas. Para garantir o aprendizado, quem dá as aulas é uma psicóloga. Até mesmo o curso de espanhol trata de sexualidade, para atrair mais adolescentes. Durante o curso aprendem a redigir cartas para os namorados em outro idioma e narração de futebol em espanhol.

“Quero participar das oficinas”, diz Willians Ferreira Mascarenhas, 15 anos, que começou o tratamento na Casa em novembro do ano passado. “Acho que aqui ele vai conseguir resolver os problemas que está tendo na escola”, espera a mãe, Janice Ferreira Mascarenhas.

A mãe de William Roberto de Souza, 11 anos, também procurou a Casa do Adolescente. O garoto está sendo acompanhado por um médico pediatra e por psicólogos, que tentam melhorar o aproveitamento escolar.

Disk Adolescente

A Casa oferece também o Disk-Adolescente (3819-2222), de segunda a sexta-feira, das 11h às 14h, para tirar dúvidas sobre sexualidade. O adolescente não precisa se identificar. O serviço recebe em torno de 30 ligações diárias.

As maiores dúvidas são sobre homossexualismo, métodos contraceptivos e primeira relação sexual. “Quando você tem um canal para poder falar de seus sentimentos e suas dúvidas, você derruba muros”, diz Albertina.

Obstetrícia do HC realiza pré-natal de adolescentes grávidas

O serviço de atendimento à adolescente grávida do Departamento de Obstetrícia, do Hospital das Clínicas, atende 200 pacientes por ano. A idade média das adolescentes é 15,5 anos. O departamento dá preferência de atendimento para as adolescentes mais jovens, que apresentam mais riscos durante a gestação. O dr. Marco Galletta explica que os principais problemas apresentados pelas meninas são mais psicológicos que biológicos.

A maioria delas tem problemas familiares. Cerca de 80% das meninas sofre com a ausência do pai ou tem relacionamento complicado com ele. Não estão prontas para conciliar gravidez, namoro, estudo e trabalho. “Todo este drama familiar atrapalha muito a gestação. Nestas situações, é importante o trabalho de todos os profissionais”, explica o médico.

Todas as adolescentes passam por nutricionistas, fisioterapeutas, médicos e psicólogos. O trabalho dos nutricionistas é muito importante porque, normalmente, as adolescentes não se alimentam direito e precisam saber a importância da alimentação correta para o bom desenvolvimento do feto.

As adolescentes, geralmente, demoram para iniciar o pré-natal. A média para início do tratamento é de 19 semanas. Segundo os médicos, os cuidados devem ser tomados logo nas primeiras semanas.

Luciana, 15 anos, começou o tratamento ainda mais tarde. Grávida de oito meses, só começou o pré-natal há menos de uma semana. Veio de Alagoas para São Paulo para que seu bebê nascesse aqui. E garante que a gravidez foi planejada. “Eu achei bom. Eu queria ver como era ser mãe. Quando estiver sozinha e precisar de alguém, o nenê vai estar do meu lado”, diz.

Ela não é a única. Os questionários aplicados no Hospital das Clínicas revelam que 40% das meninas tinham o desejo de engravidar e 25% “planejaram” a gravidez. Marco Galletta acredita que não é um planejamento, pois 40% delas nem sabem qual a renda familiar. Além da questão financeira, não sabem se o namorado/companheiro ficará junto e assumirá a paternidade e quais as conseqüências de ser mãe tão cedo.

Outro resultado importante encontrado nos questionários é que 51% das meninas não pararam de estudar porque ficaram grávidas. Na verdade, tinham parado de estudar pouco antes de engravidarem. Mais de 30% das adolescentes desistem dos estudos durante o pré-natal.

A falta de perspectiva para o futuro profissional e para o desenvolvimento de suas carreiras contribui para que acreditem que a gravidez pode trazer bons resultados em suas vidas. “Eu parei de estudar porque sou burra. Parei porque quis, sem motivo”, diz a crítica Priscila, 13 anos, grávida há seis meses. “Minha família reagiu bem porque eu já estava morando com ele”, complementa.

As adolescentes contam que a família costuma reagir bem, com um pouco de receio nos primeiros meses. “Reagiram normal. Meu pai ficou meio assim, mas minha mãe ficou do meu lado”, conta Elisangela, 17 anos, com 5 meses de gestação. É o segundo filho da adolescente, que ficou grávida pela primeira vez com 14 anos de idade. “O pai da primeira menina está preso. Este agora é do meu atual marido”, explica.

A reincidência da gravidez em adolescentes é um grande problema. Em dois anos, a reincidência atinge 30% das meninas. O Hospital das Clínicas tem lutado para diminuir as estatísticas, procurando manter o vínculo com as pacientes por um período maior depois do parto.

Tatiana, 15, está no sexto mês de gestação. Explica que esta gravidez não foi planejada. A outra, quando tinha 13 anos, sim. “Eu queria ficar grávida para poder ficar com o meu marido. Minha mãe não gosta dele porque é o ex-namorado da minha irmã”, conta a adolescente, que foi expulsa de casa durante a primeira gravidez, que resultou em aborto natural.

A gestante passa por aproximadamente 11 atendimentos no Hospital das Clínicas. A freqüência pode aumentar se forem constatados conflitos psicológicos, problemas de pressão arterial ou qualquer outro tipo de complicação que possa interferir na saúde da mãe ou do bebê.

Depois do parto, ainda passam por consultas e os bebês são encaminhados para o departamento de pediatria do Hospital, onde receberão acompanhamento por um período de dois anos.

Regina Amábile, da Agência Imprensa Oficial