Especial do D.O: Estações se modernizam para melhorar qualidade de atendimento

Estação Lapa, totalmente reformada, serve de modelo a outras estações

sex, 20/08/2004 - 17h51 | Do Portal do Governo

As estações ferroviárias tiveram papel importante não somente para o País, como para todo o mundo. Propiciaram a fundação de cidades, serviram como agência de correios e trouxeram o progresso. Foram, em geral, construídas com arquiteturas diferentes, desde as mais suntuosas até as mais simples.

As linhas de hoje, construídas no século 19, foram criadas para o transporte de produtos, importação e, principalmente, exportação. Mas, ao longo do tempo, a cidade cresceu, dando uma conotação urbana ao trem. Com o adensamento populacional, a linha férrea pretende atender à demanda de transporte urbano.

A partir dos anos 90, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) assumiu o controle do transporte sobre trilhos na região metropolitana de São Paulo, herdado da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e da Ferrovias Paulistas S.A. (Fepasa).

Com isso a empresa completa a unificação do sistema, preocupando-se com sua recuperação e reformulação, inclusive das estações que ainda apresentam diversidade arquitetônica e funcional. Muitas ainda não obedecem totalmente aos padrões funcionais e operacionais necessários à prestação de serviço de transporte condizente com os objetivos e a missão da empresa, que trabalha na modernização do sistema para prestar atendimento a 3 milhões de usuários até 2010.

Metas de gestão

Para dar continuidade a esse processo de reinsercão urbana é preciso preparar as estações para o aumento diário de passageiros. Pensando nisso, a empresa desenvolveu o projeto Estação Referência, pelo qual elas receberão adaptações que atendem às exigências de acesso, conforto e segurança. O conceito envolve não apenas a realização de obras mas também a forma de gestão para melhorar o atendimento e facilitar o trabalho dos funcionários.

As pessoas percebem as mudanças a partir da qualidade do serviço oferecido e dos equipamentos essenciais como comunicação visual, bilheterias mais ágeis, banheiros públicos e acessibilidade para portadores de deficiência. A cada três meses, as metas de administração da estação passarão por avaliação.

Inaugurada em janeiro, a primeira Estação Referência da CPTM, a Lapa, na linha A (Brás-Francisco Morato), mostra resultados positivos. Não recebe reclamações, queda no consumo de água e excelente estado de conservação de suas dependências. Foi transformada em modelo para as demais, que também serão modernizadas.

Maria Anália da Silva, é um dos 18 mil usuários que utilizam o trem todos os dias e passam pela Estação da Lapa. “Mulher tem mania de limpeza e repara muito nisso. Antes da reforma parecia que estava sempre suja. Agora a gente percebe a limpeza.” Na Lapa, as salas operacionais e de renda, vestiários masculino e feminino, copa e escritórios foram reformados.

Música ambiente

Além da reforma nos sanitários públicos, portadores de deficiência física também foram beneficiados com banheiro próprio. As bilheterias de fibra de vidro foram substituídas por alvenaria embutidas com cofres temporizados e o piso de acesso à estação foi trocado por cerâmico. “A bilheteria ficou ágil e a entrada e saída da estação mais práticas”, compara João Barbosa Costa, que utiliza o trem não só para trabalhar mas também para passear com a família.

Toda arquitetura recebeu pintura e as instalações elétricas foram revisadas. Houve a substituição das luminárias de luz mista por lâmpadas fluorescentes. “Era muito escura, dava até medo de ficar aqui. Agora é até gostoso ficar sentado esperando pelo trem e ouvindo música ambiente”, afirma Erzi dos Santos, antigo morador do bairro da Lapa.

Para completar, a comunicação visual foi melhorada com a colocação de mapa do sistema metropolitano, mapas de linhas, arredores, indicação de fluxos, além de orientações gerais. “Achei interessante a grafitagem feita no muro da plataforma. Proporcionou um ar de descontração e modernidade. Vamos tentar fazer em todas as outras também”, promete Ricardo de Almeida, supervisor de manutenção da CPTM.

Em reforma

A Estação Ipiranga, localizada na linha D (Luz–Rio Grande da Serra), está sendo renovada desde abril para se tornar a próxima Estação Referência da companhia. A conclusão das obras está prevista para o dia 27 de setembro.

A primeira preocupação das equipes de manutenção foi com a execução da impermeabilização das lajes de cobertura das plataformas e do prédio, onde há vários pontos de infiltração. Outra dificuldade são os pisos das plataformas e do acesso à estação que estão desnivelados e esburacados. Estão sendo assentados 2 mil metros quadrados de piso cerâmico industrial. Serão pintados dez mil metros quadrados de superfície entre plataformas, corpo da estação, paredes internas e externas e tetos. Também está prevista a construção de banheiro para deficientes, vestiário, sanitários masculino e feminino para funcionários, copa e sala de chefia a exemplo do que foi feito na Lapa.

Oportunidade

Como os serviços são realizados com mão-de-obra própria e da Fundação de Amparo ao Preso (Funap), o custo total estimado está abaixo do mercado, cerca de R$ 200 mil, incluindo materiais. “A parceria entre órgãos públicos é importante e esse é um bom exemplo: A Funap oferece mão-de-obra e a CPTM contrata serviços de presidiários”, informa a diretora-executiva da fundação, Berenice Giannella.

Cinquenta reeducandos trabalham na Estação Ipiranga. Entre eles pedreiros, pintores, encanadores, serralheiros e soldadores. Sob a orientação e supervisão do Departamento de Manutenção Civil da CPTM, todos participam desde o transporte dos materiais até a realização de serviços específicos como assentamento de peças cerâmicas, confecções de esquadrias e grades. “Qualquer preso que esteja cumprindo regime semi-aberto e que cometeu crimes leves pode colaborar com a iniciativa”, avisa Berenice.

Eles pegam na massa, literalmente, das 8 às 17 horas, de segunda-feira a sábado. A cada três dias trabalhados, ganham um de remissão na pena. “Todos que estão aqui no Ipiranga vêm das Penitenciárias do Belém 1 e 2 e de Franco da Rocha. Outros 36 de Presidente Altino trabalham nas linhas A e E construindo muros para segurança”, diz Ricardo. São 132 trabalhadores da Funap. Um deles é Gilmar Ferreira, que há dois meses cuida do almoxarifado e da ferramentaria. “Além de recebermos pelo menos três quartos do salário mínimo, que servem para ajudar no sustento da família, ganhamos tíquete de R$ 8,00 para o almoço e mais passe. É uma ótima oportunidade que temos para recomeçar”.

A próxima

Depois do Ipiranga, começarão as obras que transformarão Mogi das Cruzes (Linha E – Luz/Estudantes) numa nova Estação Referência. Uma das maiores preocupações lá é a acessibilidade. Por exemplo, a estação deverá passar por reformas para alterar a inclinação de duas rampas, que estão acima das especificações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Será construído um sanitário unifamiliar – para homens, mulheres e portadores de deficiência. Atualmente, cinco cadeirantes embarcam no local.

Avanços com relação à acessibilidade

Das 88 estações da CPTM em operação, 14 estão dotadas de total acessibilidade. Um exemplo é a instalação de seis elevadores especiais, fabricados de acordo com a norma da ABNT, nas estações Barra Funda e Tatuapé, que já tinham infra-estrutura de obras civis. Em setembro, entrará para esse grupo a Estação da Luz, modernizada pelo Projeto Integração Centro. Outras 13 atendem parcialmente às necessidades das pessoas com restrição de mobilidade, por meio de rampas, passeios de concreto e sanitários especiais. Quanto à frota operacional, são 245 trens, dos quais 40 totalmente adaptados.

A companhia ainda dispõe de telefones para surdos-mudos, o TDD (em inglês, aparelho de telecomunicações para surdos), nas estações Barra Funda, Francisco Morato, Lapa, Santo Amaro, Tatuapé, Guaianazes e Santo André.

Novos projetos contemplam a modernização das estações de Osasco, Presidente Altino e Jurubatuba, incluindo total acessibilidade, prevista na norma revisada 9050 da ABNT. A Estação Domingos de Moraes também será modificada. A previsão é que essas obras estejam concluídas até 2006. Serão também instalados elevadores nas estações Santo Amaro e Lapa, na Linha B, tornando-as totalmente acessíveis.

Está previsto o início da construção de três novas estações na Linha F: Jardim Helena, Jardim Romano e USP Leste, além da reconstrução da Comendador Ermelino Matarazzo. Por se tratarem de estações novas, a acessibilidade integral já está prevista no projeto, conforme legislação vigente. No momento, a empresa prepara a contratação de projetos básicos para a modernização de mais 40. Ainda deverão ser contratados projetos executivos para outras 12. Isso significa que todas receberão as adaptações necessárias para atender às exigências. Parte dos recursos necessários já está garantida. Verbas complementares estão incluídas no programa plurianual de modernização. A execução desses projetos ainda depende de disponibilidade de recursos orçamentários internos e externos.

Embora o acesso das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida tenha sido definido na carta de direitos estabelecida pela ONU em dezembro de 1975, a recomendação, no Brasil, só virou obrigatória nos dias 8 de novembro e 19 de dezembro de 2000, com as leis 10.048 e 10.098. Essas medidas passaram por consulta pública para serem regulamentadas nos próximos meses. O artigo 1º da Lei 10.089 estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade de portadores de necessidades especiais, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação.

Da Agência Imprensa Oficial/Andréa Barros/L.S.