Especial do D.O.: Corpo de Bombeiros oferece curso de mergulho para jovens da Apae

Portadores de Síndrome de Down participam de aulas práticas e teóricas na piscina do Ibirapuera

qui, 19/05/2005 - 12h41 | Do Portal do Governo


Portadores de Síndrome de Down participam de aulas práticas e teóricas na piscina do Ibirapuera – e estão prontos para repetir a dose no mar

O frio não intimidou os 17 alunos portadores de Síndrome de Down, da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de São Paulo. No horário combinado, às 10 horas, chegaram à piscina do Parque do Ibirapuera. Ninguém queria perder o começo da aula prática de mergulho autônomo, oferecida pelo Corpo de Bombeiros. Dificuldades? Não, nenhuma. O único problema era conter o entusiasmo e a determinação da garotada. Logo, aparece um dos meninos já de sunga, óculos e touca de natação. Sorte que a turma é unida. Os demais avisaram a professora que Caio Tadeu estava pronto para mergulhar na outra piscina, interditada para limpeza.

Ansioso, sentou-se junto ao grupo para esperar as instruções do major Saulo de Souza Azevedo, coordenador da equipe do mergulho. Enquanto os bombeiros preparavam os equipamentos, a garotada aproveitou para tomar sol e conversar. Em seguida, os bombeiros ajudaram os aprendizes com as roupas de neoprene. Alguns, mais eufóricos, se aproximavam dos cilindros e começavam a testar os reguladores ainda na borda da piscina.

Menos teoria – Os jovens tiveram aulas práticas na piscina da Apae e do Ibirapuera, com cinco metros de profundidade. O major Saulo adaptou o treinamento para que os mesmos recebessem explicações menos teóricas. Para se tornar um mergulhador autônomo, e receber a credencial, o aluno recebe aulas de teoria, passando a conhecer os efeitos do ar comprimido no organismo. Aprende, também, como calcular o tempo de duração de cada submersão. A exposição do mergulhador ao nitrogênio, associada à profundidade, de forma irregular, pode causar problemas. Depois das aulas e da adaptação aos equipamentos, ocorre o “batismo” no mar.

No caso dos jovens da associação, o major explicou que o mais importante era que aprendessem os procedimentos práticos: como inflar o colete, de que forma respirar utilizando o regulador e quais os sinais utilizados pelos profissionais. Outra lição importante para os mergulhadores é aprender a fazer a compensação do ouvido. Se não realizada corretamente, pode provocar dor, causada pela mudança brusca na pressão atmosférica. Semelhante ao que acontece quando se está a bordo de um avião. O organismo precisa de auxílio para se adaptar à alteração da pressão entre o canal auditivo externo e o ouvido médio.

Beijo na boca – Para reequilibrar as pressões, no avião, por exemplo, basta mastigar um chiclete. No mergulho, a pessoa consegue a compensação assoprando, com a boca fechada, enquanto aperta o nariz. Um pouco antes de afundar na piscina, brincavam de assoar o nariz e tampar a boca ao mesmo tempo. O exercício sério virou diversão. Todos mergulharam acompanhados, de perto, pelo major Saulo, pelo primeiro-sargento Antônio Gomes de Oliveira e pela cabo feminina Sandra Ferreira dos Santos Soares. Os três, auxiliados por outros bombeiros, colocavam um por um na piscina e desciam até o fundo.

Durante o passeio, com profundidade de cinco metros, paravam nas janelas que existem no fundo da piscina para acenar para os pais e amigos. Lourdes Rodrigues, mãe de Ronaldo, foi uma das que mais vibraram ao ver a exibição do filho. Ronaldo namora, há três anos, Fabiana Gomes Jardim. Os dois, alunos da Apae, mergulharam juntos. Acompanhados pelos instrutores, até se beijaram debaixo d’água.

O procedimento é um pouco complexo. Exige a retirada da boca dos reguladores que levam o ar. Gostaram tanto que repetiram o gesto, comemorado pelos familiares, amigos e professores que acompanhavam tudo pelas janelas. “Gostei do mergulho. O Saulo, a Sandra e o Gomes são gente fina. Ensinaram direitinho”, festejou Ronaldo, 20 anos, quando voltou à superfície. Caio Tadeu, 17 anos, não conseguia esperar pelo seu momento. Enquanto os outros amigos estavam com os instrutores, nadava perto dos novos mergulhadores. “Eu já sabia nadar. O Saulo é legal. Vou descer e não estou com medo”, disse. Depois de horas, foi o último a sair da piscina.

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    Regina Amábile
    Da Agência Imprensa Oficial