Especial do D.O.: Computador entra na vida de todos os alunos da rede estadual

Iniciado em 1997, programa de informatização prevê, para 2005, a instalação de salas de informática em todas escolas da rede estadual

ter, 23/11/2004 - 15h21 | Do Portal do Governo

Iniciado em 1997, programa de informatização nas escolas prevê, para 2005, a instalação de salas de multimeios em todas as instituições de ensino do Estado. Projeto já beneficiou 3,5 mil escolas com 32,4 mil computadores

Nenhum estudante paulista ficará fora do mundo digital. Para concretizar essa idéia, o governo de São Paulo vem investindo desde 1997 no Projeto Universalização da Informática nas Escolas, desenvolvido pela Secretaria da Educação. No dia 3, houve a liberação de novo suporte de R$ 38 milhões. Com esse recurso, espera-se cumprir a meta de instalar em cada uma das 5.408 escolas da rede estadual de ensino uma sala ambiente de multimeios, destinada ao uso pedagógico dos alunos.

As aplicações serão para a compra e instalação de equipamentos de informática, mobiliários e softwares. A previsão é de que até o primeiro semestre de 2005 as salas estejam equipadas e com os ambientes de informática funcionando. “Estamos consolidando a universalização da informática em toda a nossa rede no Estado”, afirmou o governador Geraldo Alckmin ao conceder a verba.

O projeto deu prioridade de atendimento aos alunos de 5ª a 8ª séries do ensino médio. “Começamos a liberar computadores para os adolescentes porque tinham mais urgência em aprender informática do que os estudantes do ensino fundamental. Logo estariam no mercado de trabalho e esse conhecimento é requisito básico na disputa de uma vaga. Agora atenderemos os jovens do ensino fundamental (de 1ª a 4ª séries) de todas as regiões do Estado”, explica Tirone Lanix, diretor-presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE).

Programa instalou 32,4 mil computadores em 3,5 mil escolas

Desde sua criação em 1997, o programa informatização nas escolas já instalou 32.405 computadores em 3.596 escolas estaduais, das quais 1.665 com recursos de banda larga. Usou recursos de R$ 243 milhões na área pedagógica, de acordo com a FDE. A meta é colocar 48,7 mil micros nas 5.405 escolas até o segundo semestre de 2005.

O diretor-presidente da Fundação, Tirone Lanix, explica que o programa de informatização se baseia no seguinte tripé: criação de infraestrutura nas escolas, inclusão digital do professor e do aluno-monitor e inclusão digital da comunidade vinculada ao Programa Escola da Família, elaborado em agosto do ano passado.

O Escola da Família instituiu a abertura das instituições de ensino nos fins de semana, para a sociedade usar o espaço estudantil como centro de convivência, com atividades voltadas às áreas esportiva, cultural, de saúde e de qualificação para o trabalho. Desde sua criação houve 192 mil participações da comunidade em curso de informática básica.

Uso intensivo dos computadores – Selecionada para receber dez computadores da nova leva do projeto de informatização, a EE Afiz Gebara – no Capão Redondo, zona sul da cidade – tem 11 equipamentos conectados à Internet, usados intensivamente pelos alunos durante as aulas e pelos pais e a comunidade nos fins de semana. A diretora da escola, Maria Aparecida Correia Rocha, explica que há espaço para as novas máquinas e a procura é intensa.

“Quando as crianças que precisam de reforço contam para os colegas o que aprendem e o que fazem na sala de informática, todos querem ser incluídos na turma. Mas é difícil atender tanta gente. A prioridade é para aqueles com dificuldades no aprendizado. Dentro da nossa capacidade, nos fins de semana agendamos aulas de informática básica para os pais. O resultado tem sido positivo e gostaríamos que todos os alunos pudessem ter essa oportunidade.”

Ar-condicionado e crachá – Considerado o mascote da sala de informática, Kelvin Cavalcanti, 11 anos, é assíduo freqüentador do espaço que tem ar-condicionado. É o primeiro a chegar, por volta das 7 horas, e só retorna para a casa às 18 horas. Depois de assistir às aulas, passa todo o tempo disponível mexendo no computador ou estudando na biblioteca. “Não tenho em casa, mas no serviço do meu pai, que trabalha em Banco, aprendi a ligar e a desligar o equipamento. Agora sei desenhar no Paint, fazer conta, procurar o significado das palavras no dicionário, pesquisar na Internet e brincar com jogos. Mas ainda preciso muito do auxílio da professora.”

Nem sempre foi assim. Antes o menino gostava de ficar na rua. Como sua mãe falecera no parto e o pai trabalha fora de casa, passava o dia todo sozinho. “Até que seu pai descobriu que ele faltava às aulas e estava se envolvendo com pessoas que cometiam delitos”, relata a diretora. Em desespero, pediu ajuda à escola. Desde então, o menino vive em regime de internato. “Aqui é legal porque aprendo com o computador e não tiro mais notas baixas. Tenho até crachá com meu nome. Veja!”

De alguma forma os escritos na parede da entrada da escola – “Abram seus corações e olhem os lírios do campo que, todos nós, professores, alunos e funcionários, tentamos cultivar especialmente para vocês. Que se abra o pano e que a magia comece” – surtiram efeito na vida de Kelvin.

Trilhas e Letras e Números em Ação – A Afiz Gebara foi uma das primeiras a adotar os dois novos programas Trilhas de Letras e Números em Ação, utilizados por mais de 57 mil alunos, professores e estudantes das 5a e 6as séries do ensino fundamental da rede estadual paulista. O primeiro destina-se aos que têm dificuldades com a Língua Portuguesa e é específico para as questões de leitura e produção de texto. O outro é usado por crianças que têm dificuldade em assimilar Matemática.

“Os softwares funcionam como facilitadores na aprendizagem. E não é só. Até o comportamento da turma em sala de aula está melhorando com a informática. Trabalhamos bastante a auto-estima e ensinamos que ninguém é fracassado porque tira nota vermelha; que errar é normal e que todos são importantes e podem aprender”, disse Luana Lodi, professora de Matemática.

Novas experiências – Jéssica Alencar, 11 anos, gosta de “desabafar” com o computador nas aulas de Trilhas de Letras. A menina escreveu que seu pai fica bravo porque ela chega da escola e senta no sofá. “Ele fica pedindo para eu lavar a louça, desligar a TV… essas coisas.” Jéssica também assiste às aulas do programa Números em Ação. “Eu era péssima em Matemática, mas depois que aprendi a calcular, estou tirando nota 6 e já consegui até um 7.”

Sua colega, Deborah Silva, também participa das aulas dos dois programas. Diz que passou a fazer cálculos “de cabeça” após as aulas na sala de informática. “Ficou mais fácil pensar com a ajuda do computador. É bem mais prático e melhor do que usar papel. Meu raciocínio melhorou e minhas notas também. Ajuda a fazer textos e não preciso mais ficar escrevendo e rabiscando para corrigir.”

Giz e lousa – Embora a idéia seja utilizar os programas Trilhas de Letras e Números em Ação em aulas de recuperação e com os alunos necessitados de reforço escolar, a professora diz que mesmo os que recebem notas boas querem ir para a sala de informática. “Eles têm muito interesse e pouca oportunidade de acesso. Infelizmente só podemos atender, de forma sistemática, os que precisam de suplemento para acompanhar a aula.”

Outra escola estadual que tem unido o giz e a lousa à tela do computador é a Luiza Mendes, no Parque São Lucas – zona leste da capital. Diferentemente do aluno da Afiz Gebara, o estudante dessa escola pertence à classe média. Poucos são carentes e vão para a aula com celular, comenta a diretora Silvana Vairoletti.

“Antes da chegada dos 14 aparelhos, o colégio ainda usava o giz e a lousa, enquanto muitos alunos tinham computador em casa. Em breve, providenciaremos uma ficha de interesse de vaga porque a disputa está acirrada. Por usá-los com freqüência, quebravam e nem sempre tínhamos verba para arrumá-los. Fizemos parceria com uma empresa privada que dá manutenção e, em troca, permitimos que divulgue seu nome na escola”, conta Vairoletti.

Pesquisando e brincando no mundo virtual – A sala de multimeios tem seis monitores que se revezam no apoio aos alunos e professores, explica o coordenador pedagógico Eduardo Donizete Xavier. “Os equipamentos estão sendo utilizados pelos estudantes do ensino médio desde o segundo semestre de 2002. Em agosto, começamos a trabalhar informática com os do ensino fundamental.”

Usuária recente, Bárbara Marto Bernal, 8 anos, está acostumada a acessar a Internet em casa. Disse que brinca com joguinhos animados e com seu desenho favorito, o Tangran (jogo de sete peças que podem construir uma infinidade de formas diferentes). A última pesquisa que fez, com a ajuda da mãe, foi sobre planetas. “Aqui também é fácil e rápido como na minha casa. Só peço ajuda para navegar na rede porque ainda não sei onde clicar.”

Karolina Ferraz Pedicino, 9 anos, nunca tinha mexido em computador. “Nem sei como liga. Tenho medo de apertar o botão errado. Peço para o monitor ligar e me ajudar a entrar na Internet. Estou gostando de brincar e estudar no site da TV Cultura.” Seu colega, Lucas Lisboa, de 10 anos, também não tem computador em casa. Aprendeu a ligar e desligar com as primas. “Não sabia usar o mouse, agora acho fácil brincar de fliperama, com os jogos infantis e navegar no mundo virtual.”

Acesso ao mundo virtual

A montagem da sala de multimeios começa com a definição de lugar adequado para abrigar os computadores. Em algumas escolas, é necessário construir o compartimento para depois colocar o mobiliário e fazer a instalação elétrica e das máquinas. Resolvida essa questão, a sala é equipada com micros munidos de softwares e conexão à Internet.

Os critérios para definir a quantidade de máquinas são de acordo com o número de estudantes: instituições com até 400 alunos, recebem cinco computadores e um servidor; as demais, 10 micros e dois servidores. “Os estabelecimentos de ensino privados trabalham com a média de um computador para 70 alunos, com uso não-simultâneo. Para chegarmos a esse número teríamos de fazer outro programa ou buscar ajuda com empresários”, observa Lanix.

Cabe aos técnicos da FDE auxiliar na escolha (como especificações dos computadores, por exemplo), e definição dos 58 softwares das disciplinas do ensino médio e fundamental, além do acompanhamento do projeto e dos testes necessários. “Examinamos todos os novos equipamentos e programas e atuamos na capacitação de professores”, informa a gerente Sílvia Gelletta da gerência de informática pedagógica da FDE.

O técnico Marcos Pessoa, lembra que os primeiros computadores instalados não estavam em rede e não tinham conexão com a Internet, mas já usavam tecnologia compatível com os do mercado. “Agora estão interligados e acompanham os progressos do setor. Eles têm CD Roms, fax-modem, impressora, scanner e webcan. Esses aplicativos possibilitaram aos alunos e professores saírem do mundo delimitado pelos muros da escola e conhecer o mundo virtual.”

Mais 9 mil monitores – A chefe de gabinete da Secretaria da Educação, Mariléia Nunes Vianna, destacou que os softwares utilizados são todos pedagógicos e de excelente qualidade. “A tecnologia dará subsídio para aprimorar o processo de aprendizagem. Estamos adaptando a escola à era da informática e, assim, tornar o ensino mais atrativo.”

A inclusão digital do professor abrange a capacitação em informática e a possibilidade de compra do aparelho. No ano passado, 50 mil professores participaram do financiamento de compra em que 50% do valor ficou sob a responsabilidade do governo, via contrato com a Nossa Caixa a fundo perdido. A outra metade foi paga pelo mestre. Neste ano, outros 50 mil serão contemplados.

Para dar suporte às salas multimeios e apoio aos alunos e professores, 9 mil estudantes estão em fase final de qualificação, em parceria com a Microsoft. Durante o aprendizado, a ser concluído até o final do ano, eles receberão informações úteis não só para entender e atuar em todos os suportes tecnológicos como também para trabalhar em empresas após o término do ensino médio. Em 2002, foram habilitados 400 alunos.

SERVIÇO

Instituições e empresas privadas interessadas em adotar escolas e colaborar com a informatização podem contatar a Secretaria Estadual da Educação pelo telefone (11) 0800 770 00 12.

Mais informações sobre os programas pedagógicos como Números em Ação, Trilha de Letras, Inclusão Digital e Aluno Monitor estão disponíveis no site www.patiopaulista.sp.gov.br

Da Agência Imprensa Oficial
Por Claudeci Martins