Especial do D.O.: Clube da Turma leva arte, esporte e cursos a jovens da periferia da capital

Projeto consiste no atendimento socioeducativo a crianças e jovens concentrados em áreas de grande vulnerabilidade social

sex, 22/07/2005 - 9h55 | Do Portal do Governo

Quem assiste às suas exibições lembra imediatamente de ginastas brasileiras de sucesso, mas a garota Fabíola, de 10 anos, ainda trilha o caminho das pedras para tentar alcançar a projeção de esportistas famosas. Quatro vezes por semana, cruza a região metropolitana de São Paulo para treinar em local que lhe oferece equipamentos e melhores condições de se aperfeiçoar no esporte. Para isso, sai às 5 horas da manhã de casa, no bairro de Santa Terezinha, zona sul da capital, e segue para Guarulhos. As despesas de transporte e alimentação ficam por conta, exclusivamente, dos pais.

Fabíola é uma das centenas de crianças e adolescentes que freqüentam o Clube da Turma Santa Terezinha, do bairro de Pedreira, capital, equipamento social onde descobriu seu talento e pôde fazer suas primeiras apresentações. Só então, com o persistente incentivo do professor de Educação Física de sua escola e o empenho dos pais conquistou uma vaga no Ginásio de Ginástica Olímpica Bonifácio Cardoso, de Guarulhos, onde treina há cerca de três meses. Nesse período, participou do Troféu São Paulo de Ginástica Olímpica, em São Bernardo do Campo, concorrendo na categoria para iniciantes e obteve notas 9,6 no solo e 9,2 na trave.

Localizado em região de grande vulnerabilidade social, o Clube da Turma freqüentado por Fabíola é um dos quatro em funcionamento – os demais estão em Itaquera, M’Boi Mirim e Parque Ecológico do Tietê, todos na capital. O projeto é uma parceria entre o governo estadual, por meio da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (Seads), e entidades sociais. O prédio pertence ao Estado, a quem cabe também o repasse dos recursos, além do monitoramento e avaliação do programa executado. A entidade parceira é responsável pela gestão do espaço, tendo para isso de apresentar um plano de trabalho.

O projeto consiste no atendimento socioeducativo de crianças e jovens que vivem nas zonas periféricas da cidade, explica a coordenadora de Ação Social da Seads, Therezinha Di Giulio: ‘São crianças que estão formalmente na escola e, no período oposto ao do ensino regular, vão para o equipamento, onde têm atividades de várias naturezas, como arte-educação e esportes’.

Referência para a comunidade – As atividades desenvolvidas nesses espaços apresentam algumas diferenças. O Clube da Turma de Itaquera, por exemplo, dispõe de aparelhagem mais completa para a prática de ginástica olímpica. O equipamento básico em todos é a piscina, que funciona como chamariz, de acordo com a assistente social Eliane Cecílio Jorge, da equipe técnica da Diretoria da Capital e Grande São Paulo da Coordenadoria de Ação Social da Seads. A Casa do Adolescente é um dos próximos serviços a serem estendidos aos Clubes da Turma.

Foi inaugurada no Enturmando Circo-Escola Grajaú, outro tipo de equipamento social oferecido pelo Estado, no qual, em vez da piscina, são organizadas atividades circenses e de arte-educação. Sua finalidade principal é a prevenção da gravidez na adolescência e cuidados com a saúde. Trata-se de parceria do governo do Estado com a prefeitura, pela qual a Secretaria de Estado da Saúde treina os profissionais contratados pela Saúde do município. À Seads cabe oferecer os locais para a instalação do projeto, que dispõe de médicos, dentistas, fonoaudiólogos e outros profissionais, todos especializados em orientação sexual aos jovens. Outra incumbência da secretaria é integrar o público-alvo com ocupações nos equipamentos sociais.

Administrado há dez anos pela ONG Mamãe – Associação de Assistência à Criança Santamarense, o Clube da Turma Santa Terezinha é ponto de referência para a comunidade local, explica a presidente Rosa Maria Marinho Acerba: ‘Se há algum problema com o posto de saúde, ou com a escola, por exemplo, eles vêm para cá. As instituições de ensino das proximidades aparecem para saber por que os alunos picham lá, mas não o Clube, ou o que estamos fazendo de diferente para eles terem melhorado na escola’.

O equipamento, na opinião de Rosa, propiciou a diminuição do tráfico de drogas e do número de assassinato de jovens. Em contrapartida, expandiu o comércio do entorno. ‘Isso porque as pessoas começaram a permanecer no local.’ Diariamente, são atendidos 1,3 mil crianças e adolescentes. ‘Há fila de espera por vaga, pois não conseguimos contemplar a todos.’

A instituição abrange a população do Jardim Pantanal e dos bairros Guacuri, Santa Lúcia, Cidade Júlia, Jardim Apurá, além do município de Diadema. Ocupa área de 20 mil metros quadrados, contendo ginásio poliesportivo coberto, duas quadras descobertas (uma de terra), piscina, espaço para teatro e ensino de artes, além de prédios direcionados aos cursos profissionalizantes e às atividades de educação infantil, onde há playground.

Clave de Lata – Com 74 funcionários e dez voluntários, o Clube da Turma atende a crianças de um ano e meio até adolescentes de 18 anos. Crianças de um ano e meio a seis anos, participantes das atividades de educação infantil, permanecem no local em período integral. As de sete a 14 anos, ficam na instituição no horário em que não estão na escola formal, do mesmo modo que os de 14 a 18 anos, só que participam quase exclusivamente das atividades profissionalizantes – dispõem de um dia da semana para práticas esportivas.
Teatro, artes plásticas e música estão entre as atividades de arte-educação planejadas no local. Natação, vôlei, basquete, futebol, futsal, handebol e ginástica olímpica são algumas das modalidades esportivas oferecidas. ‘Os jovens praticam os exercícios que gostam e, nos que se sobressaem, fazem treinamento específico uma vez por semana, passando a competir ou se apresentar em nome da instituição’, observa Rosa.

São Silvestrinha e Jogos da Cidade de São Paulo são algumas das competições das quais já participaram, embora o objetivo do Clube seja mais pedagógico do que competitivo, conforme salienta a coordenadora do Núcleo de Arte-Educação, Denise Facchiolo Lima. No segmento de artes, a banda Clave de Lata, com aproximadamente oito anos de atuação, se apresentou fora da comunidade no Via Funchal e na Feira do Aconchego. Com enfoque em MPB, é inspirada na Banda Bate Lata, de Campinas. Formada por jovens de sete a 14 anos, gravou CD há cerca de quatro anos. Afora teclado e baixo, os instrumentos foram todos produzidos no próprio Clube da Turma.

Na parte profissionalizante, a instituição oferece os cursos de organização de eventos, confeitaria, panificação, costura industrial, eletricidade residencial, técnicas administrativas, telemarketing e vivência para o trabalho com informática. Há também o de pré-profissionalização, onde aprendem a postura profissional e resolvem dificuldades trazidas da escola formal: problemas de expressão oral e escrita e, até mesmo, de matemática – no caso dos cursos de confeitaria e panificação, por exemplo, as receitas são calculadas em porcentagem.
Parceria com o Senai propicia treinamento aos educadores da instituição e certificação aos participantes. O módulo de vivência para o trabalho com informática é comum a todos os cursos. Por meio dele, os jovens criaram um site com informações de todos os bairros do entorno. Para isso, fizeram pesquisa com a comunidade local e aplicaram os resultados obtidos na nova ferramenta eletrônica, que traz as linhas de ônibus que transitam na área e as reivindicações que precisam ser levadas adiante, entre outras informações.

Geração de renda – O diferencial de alguns dos cursos, como os de corte e costura e confeitaria, é a produção direcionada para uma demanda prévia. Os mais de mil pães consumidos diariamente pelos participantes do Clube da Turma são feitos pelos próprios alunos das oficinas. Prepararam, ainda, coffee-break para 600 pacientes curados do Hospital do Câncer, evento na Fundação Abrinq para 300 pessoas e uma festa de casamento para cerca de 300 convidados. O resultado financeiro obtido com esses trabalhos destina-se à compra de materiais de panificação e confeitaria para os cursos.

O Clube dispunha de duas padarias industriais e, agora, ganhou a terceira. A intenção, a partir de agora, é entrar na linha de produção e geração de renda, segundo esclarece Rosa. ‘Trabalhar para gerar recursos e destiná-los aos participantes das oficinas’. A instituição planeja realizar todo o circuito de alimentação, porque considera esse segmento o que mais emprega atualmente. Pretende realizar desde a compra, estocagem de produtos até a preparação gastronômica e montagem de eventos.

Além do trabalho com os jovens, a instituição organiza atividades voltadas para outros setores da comunidade. É o caso do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), que conta com três salas, e do Projeto Bem-Estar na Mamãe (BEM), para famílias dos freqüentadores do Clube da Turma. Realizado a partir das 18 horas, busca desenvolver a socialização e a auto-estima, por meio de esportes, jogos e brincadeiras. Há, além disso, demanda por cursos profissionalizantes aos próprios pais. Mas ainda não há recursos para isso.

Oportunidade de se tornar um profissional

Oportunidade de conhecer cursos de confeitaria, panificação e telemarketing e, também, de emprego. Foi o que o Clube da Turma Santa Terezinha possibilitou a Michelly dos Santos Nascimento, 18 anos, que há três freqüenta o local. A jovem trabalha como monitora de confeitaria na própria instituição, com registro em carteira. A passagem pelo Clube, afirma, mudou a sua perspectiva profissional. Um de seus planos para o futuro é unir duas coisas de que gosta: padaria e pedagogia, que cursa no momento. Érika da Conceição Santos, 15 anos, freqüenta a oficina de costura há um ano, mas ainda não sabe se quer transformar a atividade em profissão. ‘Faço como hobby’, explica. Escolheu este porque a mãe costura, assim como a avó. A concorrência para alguns cursos é grande.

Na última seleção para o aprendizado de Panificação, por exemplo, havia 33 candidatos para 16 vagas. ‘Os que não são classificados têm a oportunidade de fazer outra oficina e amadurecer para, no semestre seguinte, tentar novamente a opção inicial’, informa Maria Cristina Anacleto Garini, uma das coordenadoras dos ensinos profissionalizantes. Paloma, 11 anos, vai ao Clube há cinco. Diz que decidiu freqüentá-lo com a intenção de praticar esportes e mudar o seu jeito de ser – para ser mais educada e respeitar as pessoas. Caroline, 9, comparece ao local há três anos. Treina ginástica, capoeira e outros esportes. ‘Gosto daqui porque educam a gente’, afirma a garota.

‘Aprendi a grafitar, tocar tamborim, tambor, caixa, bateria, teclado, piano’, diz Wellington, 12 anos, que participa de atividades no espaço há cinco anos. O que ganhou com o Clube? ‘Bastante coisa. Sou da ginástica e me chamam para campeonatos. Aprendi salto, estrelinha… só não sei mortal.’
Edna, 8 anos, aprecia pintura. ‘Venho porque minha mãe diz para eu não ficar na rua.’ Suas colegas Jaquilene e Érika, ambas de 7 anos, preferem a sala de ginástica. E, quem sabe, dar um salto na vida.

SERVIÇO
Clube da Turma Santa Terezinha
Rua Prof. Cardoso de Melo Neto, 1.000 – Pedreira

Clube da Turma de Itaquera
Av. do Contorno, s/no

Clube da Turma do M’Boi Mirim
Rua dos Clarins, 99 – Jardim Ângela

Clube da Turma do Parque Ecológico do Tietê
Rua Guirá Acangatara, 70 – Engenheiro Goulart

Da Agência Imprensa Oficial
Por Paulo Henrique Andrade