Especial do D.O.: Cetesb usa nova tecnologia para controlar e reduzir poluição em Cubatão

Poluição do ar será monitorada por sensores instalados nas chaminés das indústrias

qua, 06/10/2004 - 9h43 | Do Portal do Governo

Após 21 anos de execução do Programa de Controle da Poluição Ambiental em Cubatão que conseguiu controlar 97% das fontes primárias identificadas pelos técnicos, em 1983, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) adota novas tecnologias para melhorar o controle dos poluentes e diminuir as fontes residuais. A chamada segunda fase do programa começa com a instalação de uma Central de Monitoramento On-line e de mais uma estação telemétrica de controle atmosférico.

Dois novos recursos de controle da poluição atmosférica, foram inaugurados no dia 28 pelo presidente da agência ambiental, Rubens Lara. Estão previstos, ainda, a execução de novo método de avaliação da qualidade das águas dos rios e estudo de diagnóstico da contaminação do solo para posterior retirada do material contaminado. ‘Essas ações representam um salto de qualidade tecnológica para aprimorar o controle das emissões de poluentes atmosféricos em Cubatão’, definiu Lara.

O sistema on-line permite monitorar as principais fontes poluidoras do complexo petroquímico, a partir de informações recebidas de sensores colocados nas chaminés das indústrias. O equipamento indicará de forma ininterrupta se a indústria está poluindo o meio ambiente e remeterá a informação instantaneamente à Central de Monitoramento da Cetesb.

‘Com a Central de Monitoramento saberemos exatamente os índices de poluição do ar e agiremos imediatamente. Os sensores instalados nas saídas das fontes de poluição das indústrias funcionam como um radar colocado dentro de um carro. Qualquer alteração será retransmitida à nossa central em tempo real. O uso de sensoriamento remoto da Central de Monitoramento é pioneiro na América Latina’, explica o gerente regional da Cetesb na Baixada Santista, Jorge Moya Diez.

Ápice da degradação – Antes da intervenção, Cubatão era considerada a cidade mais poluída do mundo. Instalado no pé da Serra do Mar, num vale de 160 quilômetros quadrados, seu pólo petroquímico lançava na atmosfera, diariamente, quase mil toneladas de gases e partículas nocivas ao homem e ao meio ambiente. Os poluentes não dispersavam por causa do paredão de 700 metros, do clima quente e úmido, do regime de ventos e da topografia da região.

A destruição de todos os barracos de madeira da Vila Socó, chamada de Vale da Morte, e a retirada de 17 mil habitantes da Vila Parisi retratam o ápice do processo de degradação ambiental no município de Cubatão. Um vazamento na tubulação de gasolina da Petrobras provocou um incêndio que pôs fim à vila operária. Os ex-moradores que viviam ao lado das indústrias, foram transferidos para o bairro Jardim Nova República, em razão dos graves e constantes problemas de saúde e da exposição a níveis críticos de poluição.

Cenário apocalíptico – Morador da Vila Socó, Lourimar Vieira, recorda o dia do incêndio: ‘O cheiro forte impregnava o ar pesado. A cidade ficava encoberta por névoa constante. Ao cair da noite tudo ficava cinzento. Era assim todos os dias no Vale da Morte. Até que no dia 23 de fevereiro de 1984, ouvimos um estrondo pavoroso e imensas labaredas iluminaram a noite. O clarão lembrava uma visão do inferno de Dante. Parecia um bombardeio. As chamas destruíam o que encontravam pelo caminho. Fiquei com pavor de Cubatão. Felizmente isso passou e voltei a morar no mesmo bairro, só que num conjunto habitacional. Agora estou feliz por viver aqui.’
Acordado pelos estrondos do desastre, José Duarte, dono de uma padaria no centro da cidade, presenciou o cenário apocalíptico: ‘De repente, o céu ficou vermelho. A sensação é que estávamos num barril de pólvora que lançaria tudo pelos ares. O clima de tensão era permanente com as constantes interdições da Cetesb nas indústrias. Mas, depois que vimos o fogo reduzir as pessoas a pedaços carbonizados, passamos a viver em total estado de alerta. Mas a cidade voltou ao normal. E hoje estamos tranqüilos por saber que há um esquema super avançado de controle.’

Há 12 anos morando na Vila Socó, a dona-de-casa Célia Maria de Andrade lembra que limpava a casa de manhã e à tarde e, ainda assim, não conseguia vencer a grossa camada de pó preto: “Acabava de limpar e já ia ficando tudo sujo de novo. O pó se espalhava pela casa toda. Chão, móveis, paredes; nada escapava.” Luiz Augusto de Andrade, o marido, diz que veio morar no bairro por necessidade: “Meu irmão não escapou do incêndio. Aqui era terrível. Mas agora está melhor. Não tem mais aquele ar cinza, pesado, o cheiro horrível, e a sujeira é bem menor. Isso é visível.”

Resolver pendências – Relatórios da Cetesb mostram as mudanças ocorridas com o programa de recuperação realizado em conjunto com as indústrias e a comunidade: das 320 fontes primárias de poluição do ar, das águas e do solo emitidas pelas 23 indústrias instaladas no pé da Serra do Mar, restam cinco; desde 1994 não há estados de alerta por causa da poluição do ar o que fez refluir o volume de reclamações da população para menos de dez por mês, contra a média de 60 registrada no início da década de 90.

Com o aperfeiçoamento dos cuidados com as emissões proporcionado pela central de monitoramento instalada na Cetesb de Cubatão e a nova estação telemétrica colocada no Vale do Rio Mogi, a agência ambiental paulista espera resolver os problemas e estabelecer um processo de melhoria contínua da qualidade de vida.

A Refinaria Presidente Bernardes, da Petrobras, e a Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista) serão as primeiras a testar o novo sistema. Os sensores medirão os índices de enxofre, dióxido de enxofre e monóxido de carbono e as emissões de materiais particulados; os aparelhos instalados na Cosipa registrarão a quantidade de material particulado. A próxima da lista é a Ultrafértil. A partir de abril de 2007, terá a quantidade de amônia liberada no ar e o seu material particulado controlados pelos equipamentos.

‘Até 2007, todas as fontes significativas de poluição do ar do pólo petroquímico de Cubatão terão sensores colocados e serão monitoradas on-line e de forma ininterrupta; e as indústrias resolverão também os problemas ainda pendentes de resíduos de poluição do solo e das águas’, declarou o presidente da Cetesb, Rubens Lara durante o anúncio da segunda fase do programa.

Controle atmosférico – A Assessoria de Imprensa da Cosipa informou que a empresa já fazia o registro on-line das condições do ar em suas áreas produtivas. A diferença é que agora o controle será acompanhado via Internet também pela Cetesb. ‘O novo sistema atende aos nossos objetivos de melhoria contínua na gestão ambiental. O monitoramento on-line será mais uma ferramenta para a Cetesb e a sociedade comprovarem os bons resultados dos investimentos de mais de US$ 240 milhões aplicados nos últimos anos pela Cosipa em programas para preservação ambiental.’

A assessoria acrescentou que a companhia elaborou um plano global de atuação que abrange ações e investimentos em modernização tecnológica, recuperação ambiental, treinamento, segurança e qualidade de vida. Ao todo, a empresa desenvolve 23 empreendimentos – de caráter permanente e acompanhados pela Cetesb – voltados ao controle da poluição industrial no ar, na água e no solo.

Como resultados conseguidos com os programas, cita a redução de 98,5% na emissão de material particulado, 99% no lançamento de óleos e graxas, 80% na carga orgânica, 100% de redução de manganês solúvel e 99,8%, de amônia. Outra conquista apontada é que a siderúrgica, que tem mais de 50 processos licenciáveis, encerrou o ano de 2003 isenta de pendências em licenciamento para operar os equipamentos industriais.

De acordo com as informações do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), nos 21 anos de execução do programa de despoluição de Cubatão, as empresas investiram cerca de US$ 1 bilhão na recuperação da fauna, flora, solo, ar e água. O relacionamento com a comunidade também foi intensificado nesse período. Desde 1999, representantes das indústrias se reúnem mensalmente com líderes comunitários e autoridades da região para tratar de temas relacionados ao meio ambiente, segurança, saúde e responsabilidade social.

Outro ponto positivo no controle da poluição do ar, destacado por Diez, é que a Copebras assumiu compromisso de desativar a unidade de sulfato de cálcio em 24 meses, o que provocará redução de 80% nas emissões de fluoretos na cidade.

Telemétrica no Rio Mogi – Com a entrada em operação da estação telemétrica no Vale do Rio Mogi, a Cetesb passou a ter informações mais abrangentes sobre a qualidade do ar na cidade. A nova unidade vai gerar dados de uma área próxima à encosta da Serra do Mar e permitirá medir, além dos parâmetros avaliados pelas demais estações, a quantidade de poluentes como fluoretos, radiação solar e BTX (benzeno, tolueno e xileno).

As estações avaliam, além da temperatura, umidade do ar e direção dos ventos, as concentrações atmosféricas de monóxido de carbono, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, ozônio e material particulado. A Rede Telemétrica da Cetesb é composta por 23 estações fixas na região metropolitana de São Paulo, três em Cubatão e uma em Campinas, Paulínia, Sorocaba e São José dos Campos. Há ainda estações móveis instaladas em Jaú e Ribeirão Preto.
Antes da inauguração dessa unidade, o monitoramento do ar de Cubatão era feito na estação fixa do centro, localizada na área urbana da cidade e na Vila Parisi, que fica no coração do complexo petroquímico.

Os monitores da estação de Mogi passarão por uma fase de testes e calibragem e, após a comprovação da confiabilidade dos resultados amostrados, principalmente dos novos parâmetros, é que os dados passarão a ser divulgados no Boletim de Qualidade do Ar elaborado diariamente pela Cetesb.

Água e licenciamento – Para controlar a poluição das águas, a Cetesb começou o monitoramento dos rios a montante (antes de passar pela indústria) e a jusante (após passar pela empresa) para determinar a contribuição exata de cada fonte emissora de poluentes. Será exigido que a indústria trate as águas pluviais contaminadas. Com essas alterações, espera-se diminuir a proliferação de algas e aumentar o nível de oxigênio para deixar a água com aspecto menos turvo.

Outro instrumento de controle da poluição é o licenciamento renovável. As empresas não recebem mais a licença ambiental definitiva para operar. Agora elas obtêm autorizações temporárias que variam de dois a cinco anos dependendo do ramo de atividade, do potencial poluidor, da distância com a comunidade, da análise de riscos e de planos de contingência.

“A ação é em defesa do meio ambiente. Para conceder a licença vamos fazer uma série de exigências. A medida evita que as empresas interditadas adiem a solução do problema solicitando liminares à Justiça. Com o novo sistema, isso não será possível”, justifica Diez.

Claudeci Martins
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)