Especial do D.O.: Centro Tom Jobim ensina música com qualidade e de graça

Escola oferece anualmente três mil vagas e cerca de 40 cursos, entre eles viola caipira, flauta, contrabaixo, regência e corais

sex, 14/11/2003 - 12h20 | Do Portal do Governo

Por Viviane Gomes, da Agência Imprensa Oficial


Aletéia Cristina Rosa, saxofonista de 23 anos, vive com intensidade sua história de paixão pela música, desde que entrou para o Centro de Estudos Musicais Tom Jobim – Universidade Livre de Música (ULM). Ela reside há um ano e meio com uma tia em Osasco, na Grande São Paulo, e dos 18 aos 22 anos estudou saxofone na Casa de Cultura em sua cidade natal, Batatais, interior de São Paulo. Lá, ao rever amigos que freqüentavam a ULM, ficou encantada com os relatos sobre a qualidade do ensino oferecido e decidiu se inscrever para as provas do curso de saxofone tenor, seu instrumento favorito.

“Vim para São Paulo especialmente para me especializar nesta escola. A ULM é muito boa. Os professores são ótimos”, ressalta. Ela conta que começou a gostar do metal, que emite sons doces e suaves, quando conheceu o trabalho do saxofonista americano Lester Young: “Meu sonho é seguir carreira e me tornar instrumentista”. Está no caminho: hoje Aletéia toca jazz no grupo musical pedagógico Big Band Tom Jobim.

Em busca do sonho

Fabio Leandro de Machado da Silva, 17 anos, mora em São Miguel Paulista, zona leste da capital, e está no 3º ano do ensino médio. Seu interesse pela arte surgiu quando tinha 10 anos: “Um dia, vi um cara tocando teclado na televisão, achei bonito e pedi para minha mãe comprar um”. Ele começou a estudar teclado com um professor particular. Em 1997 sua mãe leu no Diário Oficial que estavam abertas as inscrições para testes de ingresso na ULM. “Fiz as provas totalmente desencanado e sem saber a importância da escola,” conta Fábio, que no final do mesmo ano conseguiu vaga. Hoje ele se dedica ao piano popular e há três meses montou um trio, com dois amigos que tocam baixo e bateria. Os garotos executam MPB, jazz, bossa nova e maracatu. “Pretendo estudar arranjo e regência. Quando terminar o piano popular vou para o erudito. Quero seguir essa carreira. Apesar das dificuldades (são poucos os convites para apresentações), a música é tudo para mim”, relata Fábio.

Superando limites

O advogado Ozéia Martins, deficiente visual, revela-se um exemplo de superação de limites. Faz pós-graduação em Direitos Humanos na USP, é técnico em reabilitação/fisioterapia e há dois anos estuda viola caipira na unidade da Luz. Desde criança teve influência do ensino evangélico e considera este o motivo para o desenvolvimento de suas habilidades musicais. Seus estilos favoritos são erudito, regional, folclórico e caipira. Ele considera o ensino do Centro Tom Jobim especial: “Os professores e os métodos de ensino são muito bons. Todo mundo aqui tem algo em comum: o amor pela música”. Ozéia integra a Orquestra Paulistana de Viola Caipira da ULM. No começo de novembro, o grupo se apresentou na casa de shows Villa Country, na zona oeste da capital, e logo em seguida, no Memorial da América Latina, com a participação especial de Inesita Barroso.

Mas nem todos têm a mesma sorte. Nos testes do início deste ano, mais de 30 mil inscritos de todas as idades concorreram a três mil vagas disponíveis. Os exames de aprovação, elaborados pelos professores da Coordenadoria da Área Teórica, incluem prova de aptidão musical para crianças, percepção auditiva para os mais velhos e teste prático para jovens e adultos que já tenham certo conhecimento técnico. A coordenadora pedagógica Joana Crescibene Teixeira explica que na seleção dos candidatos, os jovens têm prioridade, pela melhor perspectiva de seguir carreira profissional.

Tom Zé, Arrigo Barnabé

A escola oferece cerca de 40 cursos (teoria e prática) entre eles gaita, trompa, trombone, oboé, flauta, contrabaixo, regência, corais, orquestração e arranjo. Os alunos podem também aprender a executar o fagote – caro instrumento de sopro (custa perto de US$ 6 mil), da família das madeiras, de palheta dupla, assim como o oboé.

Os cursos, nos estilos eruditos e populares, são modulares e duram seis meses cada. O treinamento em cada categoria de instrumento é concluído após quatro a 12 módulos.

Neste ano, a instituição promoveu mais de 18 cursos de curta duração e workshops, para aproximadamente três mil pessoas, entre aprendizes da ULM e o público externo. Profissionais bastante conhecidos na área, como o músico Tom Zé, os pianistas Amaral Vieira e César Camargo Mariano foram alguns dos convidados a dar palestras. No final deste mês, o palestrante do curso de Composição e Orientação Estética será o respeitado e revolucionário maestro Arrigo Barnabé, que é professor da instituição.

Meta para 2004 é recuperar estrutura organizacional

O diretor do Centro de Estudos Musicais Tom Jobim, Clodoaldo Medina, há quatro meses no cargo, afirma que a meta para 2004 é recuperar a estrutura organizacional da instituição e garantir melhor qualidade de ensino. A ULM, órgão da Secretaria de Estado da Cultura, ocupa dois prédios, um no bairro da Luz (Largo General Osório, 147), ao lado da Sala São Paulo, e outro no Brooklin (Av. Padre Antonio José dos Santos, 1.019).

As duas unidades terão suas salas de aula reformadas. “O acervo de instrumentos musicais será ampliado com parcerias de instituições privadas,” afirma o diretor. Neste ano, com a ajuda de convênios, foram adquiridos 27 instrumentos, como pandeiros, tamborins, repiniques, cuícas, agogôs. Com recursos da Secretaria da Cultura e da sociedade civil, Medina espera montar também um estúdio de gravação, para melhor difundir a arte.

Tudo de graça

O professor de Orquestração de Harmonia e de Prática de Conjunto, Júlio César Figueiredo, há 12 anos na casa, afirma que a Universidade Livre de Música não dá diploma acadêmico, apenas um certificado de conclusão de curso. E tem uma explicação para a grande procura dos cursos: “As escolas particulares chegam a cobrar pelas mensalidades quase o preço de uma faculdade. Aqui é tudo de graça”. Disse que a variedade de cursos disponíveis pesa também na escolha do Centro Tom Jobim.

Os guitarristas Edio Moraes, que acompanha a dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, e s Éder Sandoli, que toca com Tom Zé, são exemplos de músicos que conquistaram fama e notoriedade a partir das aulas na ULM.

Atividades de formação e difusão do Centro Tom Jobim

As atividades de formação e difusão musical da Secretaria da Cultura estão ligadas ao Centro de Estudos Musicais Tom Jobim. Na cidade de Tatuí, região de Sorocaba, situa-se o Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos. Os mais de três mil alunos matriculados recebem ensino gratuito de sopro, percussão, canto, teatro, piano, cordas e outros.

Todos os anos, por processo seletivo, a ULM oferece bolsas de estudos de R$ 200,00 para estudantes que já têm algum conhecimento instrumental. Eles podem vir a integrar a Orquestra Sinfônica Jovem Maestro Eleazar de Carvalho, composta por 70 integrantes de 15 a 28 anos, sob coordenação do maestro José Maurício Galindo. Na Orquestra Jovem Tom Jobim existem 43 bolsistas, de 13 a 25 anos. Com a regência do maestro Roberto Sion, o núcleo é aberto à nova geração de intérpretes. Setenta pessoas desenvolvem repertório erudito de diversos períodos históricos e estéticos na Banda Sinfônica Jovem do Estado, com a maestrina Mônica Giardini. Mais 70 integram o Coral do Estado de São Paulo.

Campeonato de Bandas

Muitos bolsistas tornam-se profissionais da Orquestra Sinfônica do Estado (Osesp), do Coro da Orquestra Sinfônica, da Orquestra Jazz Sinfônica e da Banda Sinfônica. Regida pelo maestro John Neschling, a Osesp é considerada o melhor conjunto sinfônico da América Latina e constantemente participa de turnês internacionais.

Desde o segundo semestre de 2003, a realização do Campeonato Estadual e Interestadual de Bandas e Fanfarras está sob a coordenação do Centro Tom Jobim. “Só falta o governador assinar o decreto autorizando a transferência de recursos para que possamos agendar o evento, em parceria com prefeituras do interior”, informa o criador da Banda Sinfônica do Estado e coordenador do projeto, maestro Roberto Farias. Quinze mil instrumentistas de entidades civis, escolas públicas e particulares de todos os cantos do Estado participaram do campeonato realizado ano passado.

Uma homenagem a Tom Jobim

O Centro de Estudos Musicais Tom Jobim foi criado pelo decreto 30.550, de 2 de outubro de 1989, com a assinatura do governador Orestes Quércia. Para centralizar as atividades musicais do Estado, a instituição passou a coordenar os corpos musicais profissionais e os corpos jovens (bolsistas).

Suas atividades começaram no dia 25 de janeiro de 1990, com a exibição de um concerto da Orquestra Jovem do Estado. Naquela ocasião, havia um convidado especial: o maestro e compositor Tom Jobim. A partir daquela data, ele se tornou reitor honorífico e fonte permanente de inspiração do trabalho dos jovens músicos.

Em março do mesmo ano, com o aval de Jobim (falecido em dezembro de 1994, em Nova York), iniciaram-se os cursos de música, na Rua Três Rios, 363, Bom Retiro, no prédio que durante muitos anos foi sede da Faculdade de Odontologia da USP.

Em abril de 1998, foi inaugurada a sede no bairro do Brooklin, na av. Padre Antonio José dos Santos, 1.019. Nos dois andares da instalação, estão distribuídas 22 salas e auditório para 80 pessoas. Há 1,3 mil alunos matriculados.

Desde novembro de 2002, a sede do Bom Retiro foi transferida para o Largo General Osório, 147, próximo ao metrô Luz. Seus 6 mil m2 abrigam seis andares com 41 salas e um auditório de 100 lugares. Nas duas unidades trabalham 180 professores e 50 funcionários administrativos.

Serviço

As inscrições 2004 para os cursos de formação instrumental, vocal e regência serão feitas pelo site www.ulm.sp.gov.br., de 29 de dezembro a 16 de janeiro de 2004. De 12 a 16 de janeiro os interessados poderão preencher a ficha pessoalmente nas duas unidades.

Informações sobre cursos, número de vagas e requisitos para inscrição estarão disponíveis a partir de 10 de dezembro na página da Web e nas unidades Luz e Brooklin. O candidato deve inscrever-se em apenas um curso e pagar taxa de R$ 10,00.

(LRK)