Especial do D.O.: Centro de Referência oferece atendimento modelo a pessoas da terceira idade

Além de cuidar da saúde, instituição promove atividades de artesanato, ioga, informática e risoterapia

sex, 19/11/2004 - 11h47 | Do Portal do Governo

Além de cuidar da saúde, instituição promove artesanato, ioga, informática e risoterapia. Finalidade é elevar a auto-estima e a alegria de viver de milhares de pessoas nessa faixa etária

“Eu era uma pessoa depressiva, triste e sozinha. Desde que comecei a participar do Centro de Referência do Idoso (CRI) me transformei. Agora brinco, converso e percebo que todos gostam de mim. Estou muito feliz”, conta dona Iracema da Silva Carvalho, 82 anos, moradora de São Miguel Paulista. Seu primeiro contato com o CRI, na Praça do Forró, na zona leste da capital, foi para tratar dos dentes. “O dentista me deu uma ficha para preencher e me convidou para dançar forró”, lembra. De lá para cá, participa assiduamente das atividades do centro – aulas de computação, Internet e ginástica. Em março, foi realizado desfile comemorativo do Dia Internacional da Mulher, e dona Iracema foi eleita duas vezes: Miss CRI e Miss Sorriso.

Também foi convidada para dar entrevistas sobre o Centro do Idoso em programas da Rede Globo, Bandeirantes, MTV e Rádio Record. “A alegria ressurgiu em minha vida”, diz satisfeita. Dona Iracema é uma das pessoas, com idade mínima de 60 anos, que se beneficiam da assistência médica e das dezenas de ações de convivência – alfabetização, ioga, informática, bordado, pintura, fuxico e risoterapia – oferecidas pelo CRI. Desde a sua inauguração, em setembro de 2001, foram realizados cerca de 630 mil atendimentos, marca com que a instituição comemora o seu terceiro aniversário.

Longevidade saudável – O centro é modelo no tratamento gratuito na atenção integral à saúde dos velhinhos, com o auxílio de fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, nutricionista, farmacêutico, entre outros. A entidade adota precauções específicas para acompanhar e orientar, individualmente, quanto à ingestão correta de remédios e evitar efeitos colaterais indesejáveis e interação medicamentosa. A diretora do CRI, a médica Rosa Maria Barros dos Santos, disse que a iniciativa, adotada há três anos, é pioneira no País.

Ela explica que a equipe adquiriu experiência nesse tipo de assistência desde o oferecimento de serviços de saúde até a abordagem de temas como aceitação do envelhecimento, suas limitações e convivência com doenças crônicas.

Além disso, terapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas e outros profissionais do Núcleo de Educação Permanente já participaram de congressos internacionais no México e em Cuba, que os capacitaram a promover a 1a Jornada Gerontológica, de 25 a 29 de outubro. Houve a colaboração local do Conservatório Musical Orestes Sinatra, da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), laboratórios, cabeleireiros, manicures, podólogos e massagistas.

O evento promoveu ampla reflexão sobre o número crescente de idosos e sua qualidade de vida ideal para uma longevidade saudável. O pessoal da área teve a oportunidade de analisar e difundir questões relacionadas ao assunto e modelos de atendimento quanto aos cuidados à terceira idade.

Atendimento humanizado – A programação da jornada abordou três grades: científica (para profissionais de nível universitário), social (comunidade) e comunitária (idosos). Apresentações teatrais, danças típicas, bandas, cantigas de roda, gincanas intergeracionais (integração entre os mais velhos e crianças), desfiles de moda, baile à fantasia, corte de cabelo, manicure, podólogo, acupuntura, orientação de saúde bucal, bate-papo com geriatra e equipe multiprofissional, além de palestras fizeram o sucesso do evento. Os cinco dias da jornada tiveram a participação de mais de 3 mil pessoas. Foram distribuídos mais de mil brindes entre bonés, camisetas, roupas de cama e banho, livros e até lanches.

O núcleo promove encontros mensais com os funcionários para reflexão sobre a prática da profissão e capacitação dos novos integrantes do quadro do CRI. Abordam temas como envelhecimento ativo, humanização no atendimento, papel do centro e serviços prestados pelo SUS. “Pouca gente sabe o que é o SUS e quais os serviços que ele oferece”, salienta a diretora Rosa. Ela informou que estão sendo firmadas duas parcerias. A primeira, com o Hospital do Servidor Público Estadual, permitirá que os funcionários públicos ativos e aposentados, com mais de 60 anos, se beneficiem do atendimento no CRI.

A segunda, um trabalho conjunto com a USP Câmpus Zona Leste possibilitará que, a partir do ano que vem, cerca de 50 estudantes de gerontologia estagiem no Centro do Idoso. Em contrapartida, a equipe do espaço será reciclada com intercâmbios culturais e científicos para a melhoria da qualidade de atendimento.

Espaço cria serviço social para a convivência integrada do idoso

A assistente social Ivonilde Léa Ferreira, ou Léa, como gosta de ser chamada, começou a trabalhar no CRI em 2001, logo que foi inaugurado. Seu desafio inicial e da equipe multiprofissional era instalar o serviço social. O intuito era proporcionar a convivência integrada e eliminar valores que prejudiquem uma velhice saudável. Ela conta que, nas terapias individuais, constantemente havia queixas de maus-tratos e abandono familiar: “Os mais velhos preferem oferecer o melhor para os filhos e ficarem excluídos”. Atitudes como essa podem gerar tristeza e depressão. Nas terapias em grupo, com os familiares, realizadas a cada 15 ou 30 dias, os profissionais do serviço social realizam palestras para a reflexão dos parentes. A partir da troca de experiências, a intenção é a mudança de comportamento dos familiares e a aquisição de novos valores para a aceitação do idoso.

Segundo ela, os resultados são positivos: a cada grupo de 30 pessoas, 20 aprendem a lidar melhor com a terceira idade. Léa explica que, às vezes, eles vêm ao CRI para passar em consulta médica e acabam desabafando seus problemas e frustrações. As atividades físicas e artísticas são fundamentais para diminuir a depressão. Para ressaltar a importância, disse que muitos queriam até se suicidar e, hoje, é grande o porcentual de cura. “Eles entram aqui feios e saem bonitos”, garante.

Bom coração – João Soares Leite, 70 anos, vive sem a companheira há dois. Há meio século mora em São Miguel Paulista, onde conquistou inúmeras amizades: “Para mim, o CRI é uma boa. A gente se diverte. Vamos ver se arrumo uma companheira. Foi a melhor coisa que o governo já fez”.

“Maravilhoso”! O elogio é de dona Amara Maria da Conceição, 62 anos, de Ermelino Matarazzo, ao se referir ao baile à fantasia, realizado no espaço do idoso, no mês de outubro. “Os funcionários gostam da gente, têm bom coração e nos transmitem alegria.”

“Aqui a gente se distrai e tem mais alegria. As pessoas são boas e nos dão atenção”, avalia dona Antonia Soares Emboava, 60 anos, moradora de Guaianazes e viúva há 18 anos. O casal Moacir Ferreira Cardoso, 67, e Alda Alves Cardoso, 64, também estava no baile. Ela sofre de osteoporose, reumatismo e reumartose: “Com as orientações, aprendi a conviver com os problemas. Eles nos incentivam a comer legumes e frutas direitinho. Faço ioga, dança, participo dos passeios, e tudo isso ajuda muito.” Seu Moacir, mais acanhado, limita-se a dizer que não perde um evento.

Retratos da Vida reúne vivências e reflexões de idosos

Tramas da vida. O Tempo: “As marcas contam que a beleza do meu rosto ficou no passado, agora, para esse futuro maravilhoso, conto com outras, do meu sonho, do meu riso e da minha alma”, Carmelita, 66 anos, natural de Penápolis, São Paulo.

As Emoções: “O contentamento de minha mãe quando eu comia o doce de banana que ela fazia”, Marina, 76, Muzambinho, Minas Gerais.

As frases e as fotos, que acompanham essas e outras dezenas de reflexões relacionadas ao encanto da existência humana e seus significados, estão reunidas no livro Retratos da Vida, que integra o Projeto Conversas e Memórias do CRI.

A obra da Secretaria da Saúde, cuja produção gráfica é da Imprensa Oficial, foi lançada no final do mês passado com a presença do governador Geraldo Alckmin e do secretário da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata. As citações contidas na publicação são resultantes de diversas histórias e vivências contadas pelos participantes a uma psicóloga e a um arte-terapeuta. Grupos do CRI, Secretaria de Estado da Cultura, Universidade Cruzeiro do Sul e do Hospital Mandaqui relembravam suas experiências do passado e as adaptaram ao mundo atual.

A coletânea é dividida nos temas Os Meus, As Coisas, As Emoções e O Tempo. “Iniciativas como essa não só respeitam a cidadania das pessoas da terceira idade, mas são, efetiva e realmente, ações preventivas de saúde pública, uma vez que dão aos nossos idosos a oportunidade de manter uma rotina de atividade física e mental, que prevenirá doenças, especialmente as degenerativas”, afirmou o governador no texto de apresentação do livro.

CRI une ações intersecretarias para oferecer a inclusão social

A idéia de criação do centro surgiu em 1999, ano Internacional do Idoso. Na época, o secretário da Saúde, José da Silva Guedes, queria unir as diversas ações de atenção aos velhinhos do Estado. Então, formou um grupo de trabalho com técnicos das 14 secretarias estaduais e instituições ligadas ao assunto para integrar os temas envelhecimento saudável, assistência à saúde, moradia, acessibilidade e locomoção da terceira idade, seus direitos, assistência social, função educativa e treinamento de recursos humanos, informação, divulgação e pesquisa. Um ano depois, atendendo às reivindicações de grupos de velhinhos da zona leste, sob a liderança do Padre Ticão, o governador Mário Covas assumiu o desafio de transformar o antigo Centro de Saúde de São Miguel Paulista, na Praça do Forró, no Centro de Ações Integradas de Atenção aos Idosos.

No dia 30 de setembro de 2001 foi inaugurado o Centro de Referência do Idoso, projeto pioneiro na área do envelhecimento. O espaço tem 4 mil metros quadrados de área e foi instalado para servir as 64 mil pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, moradoras da região leste (distritos de Ermelino Matarazzo, Vila Curuçá, Itaim Paulista e São Miguel Paulista). Mais de 300 funcionários são responsáveis pelo atendimento, que inclui 14 especialidades médicas e nove assistenciais como odontologia e fisioterapia, além de exames laboratoriais e de diagnóstico. As dezenas de atividades de convivência estão abertas aos mais velhos de todas as regiões da cidade. Três mil pessoas circulam diariamente pela instituição.

“Poupatempo do Idoso” – A ação intersecretarias oferece serviços do Poupatempo (como Escreve Cartas), do Centro de Integração da Cidadania, oficinas culturais, de memória, criatividade, artesanato e música, Infocentro e cursos de alfabetização, dentre outros. Uma área de 4,5 mil metros quadrados do Complexo Hospitalar Mandaqui, zona norte da capital, está sendo reformada para abrigar o MandaCRI. Com capacidade para atender cerca de 50 mil idosos inscritos, a previsão é que seja inaugurado no começo do ano que vem. A assistência será orientada em três blocos: o primeiro é o atendimento ambulatorial com médicos de diversas especialidades como geriatria, fisioterapia, terapia ocupacional, psiquiatria e neurologia.

O segundo, o centro de convivência, terá biblioteca com sala de leitura, curso de informática e de alfabetização, artesanato, coral e outras ações, além de atividades físicas como caminhada e Lu An Gun – técnica semelhante à arte marcial chinesa Tai Chi Chuan. O último bloco será o “Poupatempo do Idoso”, como explica o diretor do Complexo Hospitalar, Alamir Natucci Rizzo. Haverá ações intersecretarias para facilitar a vida da terceira idade. Emissão de documentos, posto do INSS e Escreve Cartas são alguns exemplos. A expectativa do diretor é tirar o idoso de sua casa e inseri-lo em atividades sociais saudáveis para melhorar sua condição física, mental e espiritual.

SERVIÇO
O CRI fica na Praça Aleixo Monteiro Mafra, 34, conhecida como Praça do Forró – São Miguel Paulista. Telefone (11) 6130-4000

Da Agência Imprensa Oficial
Por Viviane Gomes