Especial do D.O.: Casa de Solidariedade trabalha o futuro das crianças

Jovens carentes têm brinquedoteca, aulas de circo, esportes, artes, informática e culinária

sex, 20/12/2002 - 11h37 | Do Portal do Governo

Durante o ano de 2002 a Casa de Solidariedade bateu praticamente todos os recordes de atendimento: foram oferecidas 21,6 mil refeições, 2.230 consultas médicas e 2.180 odontológicas. Além disso, houve 1.379 atendimentos de enfermagem, outros 2.362 de serviço social e 999 auxílios psicológicos. Mantida pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo (Fussesp), a Casa atende aos jovens de 7 a 14 anos, integrantes de famílias de baixa renda da região central da Capital.

São 540 jovens atendidos nas duas casas da instituição. Ali, realizam atividades para estimular habilidades físicas, intelectuais e emocionais, possibilitando melhoria da qualidade de vida. A diretora Maria de Fátima Corrêa Crespi explica que a iniciativa faz parte do programa de ação integrada ao desenvolvimento da criança e do adolescente. “Nossa intenção é auxiliar na educação e prestar assistência, com o cuidado de não sermos assistencialistas. Acreditamos que é possível ensinar à criançada, como equilíbrio, respeito, responsabilidade e cidadania.”

No período em que não estão na escola, têm à disposição uma série de entretenimentos planejados pelos educadores. Os adolescentes permanecem na casa por quatro horas (de manhã ou à tarde). De acordo com a faixa etária, são divididos em turmas, que desenvolvem atividades específicas.

Profissionalização

Ao completar 14 anos, os adolescentes são orientados a participar do Centro de Iniciação ao Trabalho (CIT), com sede na unidade II, no Parque D. Pedro. O CIT é aberto aos alunos da Casa e aos estudantes de 14 a 19 anos da Grande São Paulo. Realiza cursos profissionalizantes gratuitamente com duração de cinco meses.

O treinamento inclui as seguintes disciplinas: mercado de trabalho, orientação profissional, competências básicas (direitos, deveres, noções de cidadania, informações para emitir documentos), qualidade de vida, informática. Há processo seletivo que possibilita encaminhamento a estágio remunerado. Outras informações pelo telefone (11) 3242-7495.

Várias opções

A instituição oferece brinquedoteca, aulas de circo, educação física (vôlei, basquete, futebol, handebol e gincana), capoeira, artes, tapeçaria, dança, informática, artes cênicas, culinária e orientação de estudo. Além disso, a parceria com o Projeto Guri, da Secretaria de Estado da Cultura, permite que a garotada tenha contato com música, por meio do coral, orquestra, camerata de violões e flauta. Cada turma participa diariamente de duas atividades.

O professor de informática André Eduardo Crespi explica que adolescentes de 11 a 14 anos aprendem a dominar programas como o Office e aplicativos de ilustração (como Paint Brush). Para o próximo ano, criou projeto de educação ambiental. A idéia é incentivar as crianças a recolher materiais recicláveis, passando a contabilizá-los com a utilização do computador. “A base da educação vem do ensino fundamental, espero dar minha contribuição para que cresçam adquirindo valores de respeito e cidadania e os transmitam aos outros”, diz a diretora.

Entretenimento

A educadora Panaiota Kovelis mostra que com materiais recicláveis e argila, tela, tecido e massa de modelar as crianças fazem verdadeiras obras de arte, como pinturas de óleo sobre tela, esculturas, fantoches e muito mais. “Procuro ressaltar a amizade e os valores que elas não têm em casa.”

Na unidade II desenvolvem-se habilidades circenses, como andar em perna-de-pau, malabarismos, pirâmide humana, encenação de palhaço, acrobacias. A secretária Natasha Guimarães de Mesquita afirma que os entretenimentos melhoram a coordenação motora, orientação corporal e agilidade.

O professor de educação física, Eduardo do Nascimento, auxilia a garotada na brinquedoteca. Crianças de 7 e 8 anos dispõem de jogos motores, sensoriais, lúdicos. Os de 9 a 14 têm jogos de regras, como Ludo, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, Dinheiro do Mês e Peteleco.

O professor salienta que os próprios alunos criaram regras de uso e relacionaram o que é permitido e proibido fazer, a fim de zelar pelos brinquedos. “Em nossas conversas, faço com que aprendam a lidar com a liberdade de escolha. A atividade também é uma maneira de ensinar cidadania, que repercute com o crescimento individual.”

Integração social

A campeã paulista de capoeira, Michele Olindina Bezerra, 21 anos, é professora da casa há três anos. Coloca jovens de 7 a 14 anos em contato com os ritmos baianos, como maculelê, dança-afro, puxada de rede e dança do amor. “Sinto que alguns alunos têm dificuldades de socialização. Faço de tudo para não afastá-los do grupo, dando-lhes pequenas tarefas, procurando valorizá-los. Com o tempo, conseguem maior auto-estima e treinam com mais alegria.”

Sérgio Brozoski é instrutor de tapeçaria e cuida de crianças de 10 a 14 anos. Conta que ensina a dividir o material de trabalho (lã, agulha). Os próprios alunos desenham as telas que serão costuradas. A criatividade resulta nos mais variados modelos: desde desenhos tridimensionais até releituras de Tarsila do Amaral, personagens de Walt Disney e Maurício de Souza.

Reforço escolar

Os jovens atendidos nas duas unidades da Casa da Solidariedade recebem reforço escolar e orientação de estudo. A orientadora Kelly Cristina de Andrade Amorim trabalha no reforço escolar. Ela utiliza pedagogia com diferenciais: explica as disciplinas do ensino fundamental contando histórias, aplicando jogos educativos, solicitando que as crianças contem vivências pessoais (família, escola). Também usa gibis, revistas e recortes de publicações para conquistar a atenção da garotada. “Percebo que os resultados são positivos, pois muitos chegaram aqui sem nenhuma alfabetização. Dialogamos bastante, conseguimos estimular a auto-estima e a aprendizagem.”

Viviane Santos
Da Agência Imprensa Oficial

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