Especial do D.O.: Assentados comemoraram primeira safra de café de alta qualidade

Programa Café com Floresta incentiva o plantio de árvores nativas em lotes de café

qui, 04/09/2003 - 9h23 | Do Portal do Governo

Assentados, pesquisadores e comerciantes comemoraram no final do mês passado a primeira colheita do Programa Café com Floresta, em área próxima ao Parque Estadual do Morro do Diabo, extremo oeste do Estado. O projeto foi desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). A safra colhida é pequena, 10 sacas, porque resulta dos primeiros quatro projetos-piloto, iniciados há três anos.

O café, classificado como gourmet de alta qualidade, é cotado a R$ 350 a saca, mais que o dobro do comum, normalmente vendido a R$ 150. Os agricultores esperam vender a produção na capital paulista, em pacotes de 250 gramas, ao preço sugerido de R$ 2,50.

O Café com Floresta é um programa de reflorestamento que incentiva os assentados a plantar pelo menos um hectare de árvores nativas, em cada lote de 17 a 20 hectares, facilitando as trilhas de animais silvestres. O objetivo é formar corredores para a fauna, ligando a mata do parque a fragmentos florestais em fazendas e reservas dos assentamentos.

Mudança de cultura

A combinação de espécies nativas com café melhora o reflorestamento e torna possível o cultivo orgânico. O programa tem apoio da Ashoka Empreendedores Sociais, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, Fundação Interamericana, Instituto Florestal de São Paulo e Secretaria Estadual de Meio Ambiente.

Dispõe de US$ 100 mil para serem usados em quatro anos, em viveiros de muda nativa de pelo menos 40 espécies, compra de muda orgânica certificada de café, assistência técnica e cursos para agricultores.

‘A primeira colheita animou os assentados, mas o maior ganho não está na cotação do café e, sim, na mudança cultural deles, que optaram pelo programa’, ressalta Jefferson Ferreira Lima, do IPÊ. ‘As 43 famílias de nove asssentamentos mudaram o paradigma de produção. Não queimam mais lixo, folhas ou restos de cultura. Juntam tudo na composteira para o adubo orgânico do café.

Aprenderam também a valorizar a diversidade nas pequenas manchas de floresta e no meio do cafezal, onde plantam milho, feijão, mandioca, abóbora, melancia e tomate.’

Conservação da biodiversidade

Lima assegura que em três anos as famílias tornaram-se diferenciadas. ‘Deixaram de ver a terra como máquina de produção, da qual se tira tudo, para viver a integração entre as espécies, plantas, animais, insetos e o homem.’ O resultado é um baixo índice de pragas e doenças no café, mesmo sem veneno químico, e a qualidade dos alimentos obtidos.

O café é colhido manualmente ‘nos panos’. O grão tirado é maduro, sem mistura com os verdes ou secos, e derrubado em lonas no chão ou nos panos na cintura, para evitar quedas que prejudicam o sabor do café gourmet.

Os gastos com a colheita são menores. Não há a necessidade de recorrer a bóias-frias ou mutirões. A família colhe o grão aos poucos, na medida em que ocorre a maturação. A partir da colheita, técnicos e pesquisadores do IPÊ vão investir em logística de mercado, orientando produtores na formação de uma associação.

A idéia é que assumam os negócios, enquanto o IPÊ mantém a educação ambiental, trabalhando na importância dos corredores e das culturas orgânicas para a conservação da biodiversidade.

Da Agência Imprensa Oficial