Especial D.O.: Projeto permitirá antecipar período de abate do gado bovino no Brasil

Pesquisadores paulistas conseguiram reduzir tempo de início da 1ª cria das novilhas e período para gado atingir peso exigido

sex, 10/09/2004 - 9h00 | Do Portal do Governo

Pesquisadores paulistas desenvolveram projeto que permitirá a antecipação do período de abate de bovinos. Com isso, os índices de produtividade da pecuária brasileira poderão aproximar-se dos registrados em países desenvolvidos. O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do planeta, e está entre as nações que lideram a exportação de carne. Mas, enquanto nos Estados Unidos e em países europeus o gado de corte está pronto para o abate com menos de dois anos de idade, aqui os animais são abatidos, em média, com três anos e meio. Somente com essa idade é que atingem o peso exigido (de 240 a 330 quilos) pelos frigoríficos.

A partir de financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), duas dezenas de profissionais de instituições como Unesp de Jaboticabal, Instituto de Zootecnia do Estado de São Paulo (Nova Odessa e Sertãozinho) e Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (Pirassununga) estudaram como reduzir esse tempo.

Depois de cinco anos, foram alcançados bons resultados, como animais de 244 quilos de peso de carcaça (esqueleto com a carne) em um ano e quatro meses. Os pesquisadores conseguiram também reduzir o tempo de início da primeiro cria das novilhas, de até quatro anos para a média de dois anos e cinco meses. Os ganhos econômicos para a pecuária ainda não foram totalmente mensurados, pois os estudiosos estão na fase de coleta e análise de dados.

Outra contribuição é o software Ração de Lucro Máximo, gerado a partir de um modelo matemático desenvolvido pelos pesquisadores. Esse programa permite que o produtor descreva o animal e inclua os detalhes sobre sua alimentação. A partir daí, o software dá orientações sobre a dieta ideal para a produção de um bovino com as características desejadas. Cerca de 300 criadores, empresas agropecuárias e fábricas de rações já utilizam o sistema.

Taxa de crescimento

“Fizemos um amplo projeto de produção animal, que abrange melhoramento genético, reprodução, nutrição, sanidade, pastagem e genética molecular”, afirma o coordenador do programa e engenheiro agrônomo Maurício Mello de Alencar, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, na Fazenda Canchim, em São Carlos.

Foram avaliados animais de diferentes grupos genéticos nascidos do cruzamento de vacas da raça nelore (zebuíno que domina a pecuária nacional) com touros da mesma raça e de outras como canchim, angus e simental. No total, 600 vacas nelore passaram pelo experimento.

Os estudiosos decidiram, também, experimentar modos de criação e de alimentação (manejos de pastagens) diferenciados. Em vez de adotarem o sistema extensivo de produção, com pequeno número de gado no pasto, optaram pelo regime intensivo, com lotação de cinco cabeças por hectare. Para conferir se o manejo diferenciado estava resultando num animal com melhores características de produção, avaliou-se a taxa de crescimento e a composição corporal dos quatro grupos genéticos (nelore, e os cruzamentos canchim-nelore, angus-nelore e simental-nelore). Para isso, foram feitos estudos de conversão alimentar, que é a relação da quantidade de alimento ingerido pelo animal por quilograma de ganho de peso.

Os 300 abatidos na pesquisa tiveram seus tecidos, como gordura e músculos, analisados. Como foram estudados em diferentes idades, pôde-se fazer as curvas de crescimento para cada tecido corporal e sua proporção para cada idade ou peso. O experimento mostrou-se útil para os exportadores, uma vez que podem produzir um bovino com as características de composição corpórea exigidas por país. Os japoneses gostam de carne extremamente gorda, enquanto os norte-americanos preferem apenas gorda. Para os europeus, a carne deve ser mais magra.

Recursos humanos

Um dos subprojetos da pesquisa refere-se à eficiência reprodutiva das vacas. O objetivo foi antecipar a entrada das novilhas na puberdade (a idade da primeira cria), e reduzir o intervalo entre a primeira e a segunda. As nelore no Brasil têm o primeiro parto, em média, aos quatro anos de idade, período considerado tardio. Nos Estados Unidos e na Europa, elas têm a primeira cria por volta dos dois anos. Pesquisas genéticas com os animais dos quatro grupos também foram realizadas. Além desses resultados, o projeto tornou-se importante na difusão de tecnologias e na formação de recursos humanos. Durante os quatro anos da atividade, mais de cem estudantes de cursos médios e universitários, ligados às áreas biológicas e de ciências agrárias, cumpriram estágios nos vários experimentos desenvolvidos. Foram realizados, ainda, dias de campo e palestras para produtores.

Yuri Vasconcelos – Da Revista Pesquisa Fapesp
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)